Vacinar: Sim ou Não?
quarta-feira, 31 de janeiro de 2018
De acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS), "as vacinas permitem salvar mais vidas e prevenir mais casos de doenças do que qualquer tratamento médico." Também Nelson Mandela referiu que "através da vacinação milhões de crianças foram salvas e tiveram a possibilidade de viverem com mais saúde, mais tempo e melhor, uma vez que foram maiores as hipóteses para aprender, brincar, ler e escrever, sem sofrimento."
Foi verificado também que, em Portugal, durante a década de 1956 a 1965, ocorreram mais de 40 mil casos de doenças como tosse convulsa, poliomielite, tétano e difteria, dos quais mais de 5 mil se vieram a revelar fatais, sem falar das sequelas provocadas. Por outro lado, na década de 2006 a 2015, para as mesmas doenças ocorreram pouco mais de 900 casos e apenas 23 óbitos, que ainda assim poderia ter acontecido com qualquer um de nós caso não estivéssemos devidamente protegidos (dados da DGS).
Mas falando daquilo que realmente importa e preocupa os Pais, queria tocar em 4 pontos sobre as vacinas: eficácia, reações adversas, segurança e alternativas.
Depois dos dados apresentados parece-me inquestionável a eficácia das vacinas. Alguns mais céticos poderão atribuir a diminuição da incidência das doenças com melhores condições de higiene. Eu diria mais, a água potável teve um papel importantíssimo para a diminuição das doenças tal como tem sido demonstrado por imensos estudos, mas então como justificamos que em diversos países muito desenvolvidos onde não se coloca em causa as condições de higiene oferecidas, existam ainda tantos casos de doenças evitáveis pelas vacinas ao contrário do que tem acontecido em Portugal?
Podemos interpretar que provavelmente as condições de higiene têm um papel importante na propagação das doenças, mas só em países com uma taxa de cobertura vacinal elevada é possível tornar quase inexistente o número de casos da grande maioria das doenças evitáveis por essas vacinas.
Parece-me que ninguém deseja que uma criança sinta dor, chore, fique com febre ou desenvolva uma reação inflamatória por causa de uma vacina. Isto são tudo situações descritas pelos laboratórios que produzem as vacinas como possíveis. Parece-me injusto dizer que é "um mal menor" quando são os Pais, com um grande aperto no coração, que têm que consolar os seus filhos, mas a verdade é que, apesar de tantos avanços da medicina, e ainda nos dias de hoje, não temos alternativas. Ainda assim, muitas vacinas foram melhoradas e muitas delas já não provocam reações tão severas. Felizmente também tem sido possível conjugar muitas vacinas o que tem ajudado a diminuir o número de injeções e por isso menos dor. Podemos ter a esperança de que no futuro sejam criadas novas vacinas que sejam ainda menos reativas, mas enquanto isso não acontecer teremos de continuar a utilizar as atuais para "evitar males maiores".
Alguns Pais mais atentos poderão perguntar porque não utilizamos vacinas orais. Não estou capacitado para responder sobre o assunto, porque não conheço a realidade dos laboratórios onde se produzem as vacinas, mas sei que uma vacina inoculada por via oral tem uma probabilidade maior de não ser eficaz por estar presente a possibilidade de ser vomitada. Se a criança vomitar a vacina sem que os pais e/ ou profissionais de saúde se apercebam, ela não estará convenientemente protegida, logo não será eficaz. Por outro lado, se for administrada num músculo não existe forma de ser extraída. Parece-me também que quem produz as vacinas nos diferentes laboratórios já teria pensado nessa alternativa, mas com a evolução das vacinas não é isso que tem acontecido, muito pelo contrário. Por exemplo, a vacina da poliomielite era administrada numa forma oral (ainda o é em muitos países), mas nos países desenvolvidos passaram a utilizar uma forma injetável e conjugada com outras vacinas numa seringa apenas. Queria finalizar este ponto referindo que este tipo de reações são situações pontuais e reversíveis em poucos dias, pelo que, tendo que optar por uma reação reversível ou uma doença grave, incapacitante e/ ou fatalmente irreversível, eu aconselho a vacinar.
Quanto à segurança das vacinas, para mim parece-me claro. Não me parece que os responsáveis de imensas nações no mundo queiram prejudicar as suas populações, como que imaginando um hipotético "extermínio" em massa. Apesar de não conhecer muitos estudos de forma aprofundada, tenho ouvido em formações, outros profissionais responsáveis pela elaboração do Programa Nacional de Vacinação (PNV) tanto da área de Infeciologia, como da Pediatria ou da Saúde Pública, referindo que apesar de haver muitos falsos estudos a descredibilizar a vacinação, não existe nenhum estudo credível a indicar ausência de segurança na vacinação. Caso se tratasse de uma "teoria da conspiração" então teríamos de colocar em causa instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e como tal, teríamos de colocar em causa tudo o que acreditamos na Saúde tal como a conhecemos. Ainda assim, imaginando que determinada vacina pudesse prejudicar alguém, pois todos somos diferentes e reagimos de forma diferente perante determinados produtos, considero que seria preferível ficar protegido contra as doenças em causa (que podem levar à morte ou deixar graves sequelas) do que desenvolver autismo ou outro tipo de doença que possa "falsamente" estar associada à vacinação. Para se perceber melhor o que pretendo transmitir, deixo o meu exemplo profissional: apesar do Plano Nacional de Vacinação (PNV) existir desde 1965, apenas administro vacinas desde 2006, período desde o qual já terei administrado mais de 100 mil vacinas e ainda assim, tirando as reações normais descritas pelos laboratórios como possíveis, nunca verifiquei ausência de segurança nas vacinas e ainda que possível, nunca verifiquei uma reação anafilática (reação alérgica muito grave) descrita pelos laboratórios como a situação mais grave da vacinação ainda que rara (sem intervenção clínica pode levar à morte).
Para os Pais que valorizam a opinião pessoal dos profissionais de saúde, "se fosse com o seu filho, o que faria"?, de facto conheço muitos enfermeiros que tenham administrado vacinas aos seus próprios filhos, contudo, todas as vacinas que me foi possível fazê-lo, eu prórpio as administrei ao meu filho de 2 anos de idade (exceto as vacinas da maternidade). Perguntam-me se me custou e eu respondo que sim, mas a verdade é que preferi ser eu a vaciná-lo.
Em relação a alternativas às vacinas é possível que existam, mas mais uma vez, havendo evidência científica, a OMS já se teria mostrado favorável, o que não aconteceu até aos dias de hoje. Não estou documentado cientificamente para falar sobre o assunto, mas utilizar alternativas à vacinação, como alimentação saudável, condições de higiene, homeopatia, isolamento do resto da população, de acordo com o que tenho ouvido de outros profissionais da saúde aparentemente bem documentados, poderá ser um risco para nós e para aqueles que amamos. Mas será que estamos a exagerar em químicos que entram na composição de vacinas, na população mundial? Não acredito, pois tal como apresentei nos dados indicados em cima, não é isso que está a acontecer. Existem menos casos de doenças, logo menos mortalidade e morbilidade associadas a essas doenças. Independentemente do que possa dizer, a esperança média de vida está a aumentar todos os anos, logo não me parece que a vacinação esteja a prejudicar alguém, muito pelo contrário. Já os métodos alternativos não têm mostrado evidência científica para serem aplicados à população mundial.
Por último, e repetindo algo referido anteriormente, parece-me que nações em todo o mundo não iriam investir milhões em algo que não fosse vantajoso ou até que fosse prejudicar as suas populações com a vacinação. Se fosse realmente prejudicial será que continuaríamos a realizar vacinação em todo o mundo e a proteger as pessoas contra doenças tão graves que podem ser incapacitantes ou fatais?
Ricardo Ferreira
Ricardo Ferreira
segunda-feira, 29 de janeiro de 2018
Licenciado em Enfermagem pela Escola Superior de Enfermagem no Instituto Politécnico de Santarém, concluí em 2006. Nesse mesmo ano iniciei funções no Centro de Saúde da Alameda, em Lisboa, onde permaneço até à atualidade.
Durante este período exerci funções de enfermagem nos programas de Saúde Infantil, Saúde Escolar, Cuidados Continuados, Sala de Tratamentos e no Centro de Diagnóstico de Pneumologia da Alameda, sendo que desde 2009 estou em permanência no programa de Vacinação.
Em 2016 assumi funções como co-responsável pela Vacinação do Agrupamento de Centros de Saúde de Lisboa Central. Também em 2016 e 2017 lecionei a temática Vacinação para diferentes cursos de Licenciatura em Enfermagem da Escola Superior de Enfermagem da Cruz Vermelha Portuguesa, no âmbito da Pediatria.
A nível formativo destaco, ao longo destes anos, diversas formações e cursos realizados no âmbito da vacinação, assim como um curso de Conselheiro em Amamentação do Instituto de Formação em Enfermagem, na Amadora em 2008.
O Autismo pela "voz" da Pauline Santos
quinta-feira, 25 de janeiro de 2018
O Pai, a Mãe e Eu chegou à conversa com a Pauline, que tem um lindo Simão a quem foi diagnosticado Autismo.
Vamos saber como integrou na sua vivência familiar este diagnóstico.
1- A Trissomia 21 é muito conhecida como o "Cromossoma do Amor". Se precisasse definir o Autismo, como o definiria?
R: PEA quer dizer Perturbação do Espetro do Autismo, mas a minha definição é PEA - Plena Experiência de Amor.
2- Com que idade foi diagnosticado o problema?
R: Com 2 anos e 8 meses.
3- Quais os sinais que levaram ao diagnóstico? O que começou a perceber no seu filho que lhe parecia diferente e a levou a procurar ajuda?
R: O Simão não reagia quando o chamavam pelo seu nome, nem quando falavam para ele. Ele fazia pouco contacto ocular, falava meia dúzia de palavras soltas (sem saber o que significavam), as brincadeiras eram de repetição (por exemplo: os blocos de madeira serviam para pôr em fila, vezes sem conta).
4- Qual a sua primeira reação? O que sentiu quando o diagnóstico foi feito?
R: Para ser sincera, ainda me lembro como se fosse hoje. Saí do consultório com um pensamento "vamos fazer o melhor que conseguirmos para que o Simão se desenvolva o melhor possível, em harmonia e seja feliz vivendo na nossa sociedade". Apesar do desafio, tive dentro de mim um sentimento de esperança e acreditava que ia crescer muito com o meu filho, vivendo a vida de uma forma mais plena, dando mais valor às pequenas (GIGANTES) conquistas dele no dia a dia.
5- Como é o dia a dia familiar?
R: Sinto que vamos vivendo como uma Família normal, apenas temos que adaptar-nos aos vários desafios (como todas as Famílias!).
6- Quais são os principais obstáculos que identifica relativamente ao seu filho e relativamente à sociedade?
R: A comunicação, o diálogo mais direto, o viver mais "no mundo dele" e algumas reações mais desafiantes perante as contrariedades que ele vai encontrando pelo caminho são os principais obstáculos. Relativamente à sociedade, apesar de alguns olhares mais estranhos e de alguns desafios, vou vivendo com pensamento positivo, de forma a focar-me no que realmente interessa ("vamos fazer o melhor que conseguirmos para que o Simão se desenvolva o melhor possível, em harmonia e seja feliz vivendo na nossa sociedade") e assim vou vivendo com mais paz, mesmo com os vários desafios da sociedade.
7- Como descreveria o seu filho?
R: O Simão é uma criança alegre, gosta de saltar, correr, subir árvores, brincar na areia, ver desenhos animados e colecionar e decorar cartas com animais. Aprendeu o alfabeto e a contar até milhares com 4 anos... com 5 anos aprendeu a ler e escrever quase sozinho... por vezes fico de "boca aberta" com as novas descobertas e aprendizagens que ele faz. Quando algo não corre como ele quer, fica com o comportamento mais desafiante, mas com calma tudo se resolve.
8- Como acha que ele percebe o mundo?
R: Acredito que ele percebe o mundo de uma forma única e especial, à sua maneira, mas também graças a todo o trabalho realizado ao longo dos anos (o Simão tem 7 anos e meio) ele vai conseguindo, pouco a pouco, atravessar a ponte e entender cada vez mais "o nosso mundo&apos".
9- Quais as atividades/ formas que encontra de o fazer experienciar o mundo e diminuir as diferenças?
9- Quais as atividades/ formas que encontra de o fazer experienciar o mundo e diminuir as diferenças?
R: A atividade em que mais me foco é dar-lhe liberdade na natureza, desde cedo o melhor que eu podia oferecer era sair de casa, ir para o jardim ou para a floresta e andar, andar, andar muito para libertar o excesso de informação e estímulo do dia a dia (dele e meu). Sinto que o contacto com a natureza é das melhores terapias. Diminuir as diferenças? Apenas vou adaptando ao jeito dele e tentando mostrar como se faz algumas coisas no "nosso mundo".
10- Como convive hoje com a situação?
10- Como convive hoje com a situação?
R: Com muita paz, apesar dos desafios, tenho dentro de mim muita esperança e vou focando a minha atenção nas vitórias do dia a dia e direciono a minha energia em buscar sempre novas soluções para o ajudar nas diversas adversidades da vida.
11- Que mensagem deixa para os outros Pais que se encontram hoje a braços com o mesmo diagnóstico e aos que desconhecem este problema?
R: Força, coragem e pensamento positivo! Acreditar que, como Pais, vão aprender e crescer muito com esta nova "aventura" da vida e acima de tudo que o amor vence sempre!
11- Que mensagem deixa para os outros Pais que se encontram hoje a braços com o mesmo diagnóstico e aos que desconhecem este problema?
R: Força, coragem e pensamento positivo! Acreditar que, como Pais, vão aprender e crescer muito com esta nova "aventura" da vida e acima de tudo que o amor vence sempre!
Aos Pais que desconhecem o problema, sensibilidade, paciência e evitar comparações ou críticas destrutivas com os Pais de crianças com PEA e que aproveitem e dêem valor a cada etapa de desenvolvimento do seu Filho.
12- O que gostaria de dizer ao seu filho que nunca tenha dito? Uma mensagem para o futuro!
12- O que gostaria de dizer ao seu filho que nunca tenha dito? Uma mensagem para o futuro!
R: Apesar de eu ir dizendo, pois no dia a dia foco-me em transmitir-lhe mensagens positivas para ultrapassar todos os obstáculos...
"Acredito que vais ser o melhor de ti de uma forma plena e em harmonia."
Grata à Pauline, por ter partilhado a sua experiência.
Perturbação do Espetro Autista
quarta-feira, 24 de janeiro de 2018
A Perturbação do Espetro Autista (PEA) é uma patologia do neurodesenvolvimento caracterizada por alterações em duas áreas fundamentais:
- perturbações da comunicação e interação social;
- padrões de comportamento restritos e repetitivos.
Engloba doenças anteriormente designadas como "perturbação autística" ou "Doença de Asperger", entre outras.
É mais frequente no sexo masculino e encontra-se em cada 2-20 por cada 1000 habitantes. Algumas das crianças afetadas apresentam défice intelectual (75%) ou epilepsia (11-39%).
A sua causa específica é desconhecida. Parece dever-se a uma interação entre fatores genéticos, fatores de suscetibilidade individual e exposição ambiental (tóxicos, infeções, ...).
As manifestações clínicas - Quando suspeitar:
Os sinais sugestivos surgem mais frequentemente no 2º ano de vida, mas os quadros menos graves podem manifestar-se entre os 4-6 anos. Uma criança com um desenvolvimento normal até certa data, que depois não progride ou regride nas aquisições, deve ser avaliada.
As consultas entre os 14 e 24 meses de idade são fundamentais no rastreio.
1- Perturbações na comunicação e interação social:
- atraso na linguagem;
- sem intenção de comunicar: não imita, não aponta;
- dificuldade na comunicação não-verbal: pouca expressão da face e dos gestos, postura rígida, não olha nos olhos;
- défice nas relações sociais: dificuldade em iniciar ou manter a relação com os outros e em compreender a intenção e a opinião dos colegas; brinca individualmente e não em conjunto.
2- Comportamentos, atividades e interesses estereotipados, repetitivos, restritos:
- estereotipias e maneirismos motores repetitivos: abanar os braços/ mãos, estalar os dedos, balanceio, andar em bicos de pés, ecolalia (repete continuamente os sons que ouve);
- dependência da rotina: crianças com dificuldade em aceitar mudanças e adquirem rotinas/ rituais peculiares sem propósito específico;
- interesses restritos e fixos: preocupam-se com os objetos pouco comuns, por vezes obsessivamente (matrículas, dinossauros, ...);
- jogo: têm dificuldade em encontrar o significado/ utilidade dos objetos, dificuldade no jogo simbólico, manipulação pouco usual dos objetos;
- alteração das sensações: reações intensas a sons/ texturas/ sabores/ cheiros/ cores.
3- Outras características:
- alterações motoras: marcha em bicos de pés, "desajeitados";
- comportamentos de auto-agressão, alterações do sono, preferências alimentares peculiares;
- "Sobredotados" (1-10%): algumas crianças têm capacidades notáveis de memória, matemática, música, arte, entre outras, apesar de dificuldades profundas noutras áreas.
Sinais de alarme:
O diagnóstico:
Perante a dúvida dos pais ou professores, deve procurar-se aconselhamento no médico de família ou pediatra, que pode fazer um rastreio inicial. Posteriormente, é feita referenciação a uma equipa multidisciplinar experiente nesta área.
O diagnóstico é apoiado num exame clínico completo e na avaliação do desenvolvimento com escalas específicas. Deve excluir-se défice visual e auditivo (a criança que não ouve ou que não vê, também não comunica).
Contudo, o diagnóstico nem sempre é fácil e imediato. Por vezes são necessárias várias intervenções e observações para se chegar a uma conclusão.
A intervenção:
Objetivos: maximizar o funcionamento, promover a autonomia e melhorar a qualidade de vida da Criança e da Família.
Equipa multidisciplinar: Pediatra do desenvolvimento; Neuropediatra; Pedopsiquiatra; Psicólogo; Geneticista; Terapeuta da Fala; Terapeuta Ocupacional; Audiologista; Assistente Social; Educador.
Intervenção: comportamental, educacional, farmacológica e envolvimento da Família.
O prognóstico:
É difícil prever a evolução, especialmente em crianças com menos de 3 anos.
Crianças com menor funcionalidade e com patologias associadas podem evoluir menos favoravelmente. Algumas crianças irão manter o diagnóstico, apesar da melhoria substancial nos sintomas nucleares. Outras, com manifestações mais ligeiras, evoluem muito bem e deixam de ter os critérios de PEA.
Não existe cura para a PEA, mas os sintomas podem atenuar progressivamente. O diagnóstico precoce e a intervenção multidisciplinar atempada são essenciais.
Sara Brito
O vizinho Autismo
terça-feira, 23 de janeiro de 2018
Quando o Miguel fez 3 anos, o Autismo bateu-nos à porta. Assim como um vizinho novo lá do prédio, fazia tempo que sentíamos que ele já lá morava, mas ainda não se tinha apresentado. E foi assim, bateu à porta e entrou-nos em casa. Sabemos que todos temos vizinhos diferentes, alguns trazem muitos problemas, outros nem damos por eles. O nosso vizinho Autismo estava apresentado e só o tempo nos diria que tipo de vizinho seria.
O Autismo não é fácil e de um dia para o outro temos de aprender a viver com ele. São desafios diários, são expetativas desfeitas, são angústias futuras, tudo de repente e ao mesmo tempo. Eu consegui encarar muito bem este meu vizinho tão único, mas não somos todos iguais.
Recordo uma expressão portuguesa "se não os consegues vencer, junta-te a eles" e foi o que fiz. Juntei-me a ele e levei comigo as pessoas certas nesta caminhada. E aprendi a ouvir quem mais e melhor conhece o Autismo e a seguir os seus conselhos. Não segui nenhum método, corrente, filosofia, dieta, restrição. Segui o meu filho. E quando tinha dúvidas pedia ajuda ao médico, à terapeuta, à educadora, ao pai, à avó, à tia... pedia ajuda a quem realmente conhecia o Miguel e o Autismo. Esforcei-me por escolher a escola certa, por tê-lo rodeado de pessoas que o entendam, que o ajudem a ultrapassar as suas dificuldades e que o enalteçam nas suas virtudes. E consegui!
Não li nem pesquisei muito sobre o tema, até porque penso existir muita teoria por aí que só serve para semear o caos e provocar inquietude nos Pais. Podemos e devemos ler sobre o Autismo, mas as coisas certas, poucas mas boas. Não há uma fórmula milagrosa e o que resulta para uns, entoa em eco para outros. Por isso, não adianta sofrer por antecipação, nem viver em constante angústia e o importante é gostarmos do nosso filho, seja ele como for. Focarmos todas as nossas forças nele e não nos casos de sucesso ou insucesso dos outros.
Não protegi o meu filho, nem lhe facilitei a vida, porque só avançamos quando aprendemos a pedalar a nossa bicicleta sozinhos. E mostrei-lhe o mundo, como ele é, mesmo com o desconforto que a ele lhe possa causar. Ouvi muitas birras, suportei muitos olhares, mas no dia seguinte lá íamos nós outra vez! Nem sempre é fácil, mas é este o caminho. E passito a passito fomos avançando ao ritmo dele.
Hoje posso dizer que o vizinho Autismo bateu-nos à porta, entrou, mas não ficou muito tempo! Mora ao nosso lado, volta e meia aparece, muito poucas vezes incomoda e muitas vezes mima-nos com um bolo acabadinho de fazer! Sabemos que irá morar ao nosso lado para sempre, mas já nos habituámos a ele e gostamos dele assim!
Make a Story and Smile
Sara Brito
segunda-feira, 22 de janeiro de 2018
O meu nome é Sara Brito, tenho 33 anos e sou natural de Tomar.
Realizei a minha formação específica em Pediatria Médica no Centro Hospitalar de Leiria (2009-2015), após a formação na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (2002-2008).
Integrei o Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), em março de 2016, no âmbito do Ciclo de Estudos Especiais em Neonatologia (03/ 2016 - 08/ 2017).
Desde outubro de 2017, sou Assistente Hospitalar de Pediatria, na Maternidade Dr. Alfredo da Costa - CHLC.
Colaboro no ensino pré-graduado do curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
Integro a equipa médica do INEM - Transporte Inter-Hospitalar Pediátrico do Sul, assim como a equipa do Banco de Leite Humano da Maternidade Dr. Alfredo da Costa.
Sou autora de publicações científicas na área da Pediatria.
Realizei a minha formação específica em Pediatria Médica no Centro Hospitalar de Leiria (2009-2015), após a formação na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (2002-2008).
Integrei o Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), em março de 2016, no âmbito do Ciclo de Estudos Especiais em Neonatologia (03/ 2016 - 08/ 2017).
Desde outubro de 2017, sou Assistente Hospitalar de Pediatria, na Maternidade Dr. Alfredo da Costa - CHLC.
Colaboro no ensino pré-graduado do curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
Integro a equipa médica do INEM - Transporte Inter-Hospitalar Pediátrico do Sul, assim como a equipa do Banco de Leite Humano da Maternidade Dr. Alfredo da Costa.
Sou autora de publicações científicas na área da Pediatria.
Síndrome HELLP
quinta-feira, 18 de janeiro de 2018
Após termos falado de pré eclâmpsia, faz sentido dedicarmos o artigo de hoje à Síndrome HELLP.
Felizmente a grande maioria das gravidezes decorrem sem intercorrências, daí considerarmos a gravidez como uma fase normal da vida da mulher e não de todo uma doença, no entanto por vezes podem ocorrer complicações para as quais devemos estar atentos.
O acrónimo HELLP traduz-se por H Hemolysis E Elevated L Liver enzimes L Low P Platelets. É uma entidade clínica e laboratorial em que ocorre destruição de células do sangue.
A sua incidência é de cerca de uma em cada mil gravidezes, sendo mais prevalente em mulheres multíparas (gravidezes subsequentes) e jovens. Pode ocorrer em cerca de 10% das grávidas com pré-eclâmpsia.
Clinicamente pode ter diversas apresentações, desde a sensação de mau estar, dor de cabeça, náuseas e vómitos a dor na região do estômago. A pressão arterial poderá estar elevada, no entanto cerca de 20% dos casos cursam com pressão arterial normal. Na análise da urina, a proteinúria poderá estar presente ou ausente.
Várias complicações graves podem advir desta síndrome, nomeadamente o descolamento prematuro de placenta que pode também desencadear a coagulação vascular disseminada, edema agudo do pulmão, hematoma/ rotura da cápsula hepática, descolamento de retina, insuficiência renal aguda, morte materna e perinatal.
Perante o diagnóstico da Síndrome HELLP, o internamento está indicado, com vigilância apertada numa Unidade de Cuidados Intermédios/ Intensivos para estabilização materna e programação do parto. Na estabilização materna importa realçar a profilaxia das convulsões, o tratamento da pressão arterial elevada se presente, transfusão de sangue e derivados de acordo com as necessidades, entre outras abordagens.
O parto está indicado em casos de prematuridade após o ciclo de maturação pulmonar (corticoterapia) para idades gestacionais inferiores às 35 semanas, mas deverá ser realizado de imediato independentemente da otimização pulmonar fetal em casos de deteriorização materna ou estado fetal não tranquilizador.
Para idades gestacionais acima das 35 semanas poderá ser ponderada a corticoterapia, mas essencialmente para fins de melhor outcome materno, que pela elevação do número de plaquetas acima das 80 000 poderá permitir a realização de uma analgesia epidural.
Na pré viabilidade, ou seja, antes das 24 semanas, a interrupção médica da gravidez está indicada por se tratar de uma situação grave.
A via de parto deve ser segundo indicação obstétrica, ou seja, em caso de não existir uma indicação formal obstétrica para cesariana, poderá ser realizada indução do trabalho de parto investindo num parto vaginal. Temos de ter presente no entanto que perante o quadro de gravidade e mediante as condições fetais e mesmo maternas da altura, a decisão da via de parto é individualizada e após a ponderação de todos os fatores. No pós-parto, a vigilância clínica e analítica mantém-se apertada.
Sabemos que as mulheres que sofreram de síndrome HELLP, principalmente se portadoras de hipertensão arterial crónica, apresentam uma taxa mais elevada de complicações em futuras gravidezes, no entanto a probabilidade de voltar a ter uma síndrome HELLP é baixa (3-5%).
Estas mulheres deverão portanto programar e preparar futuras gravidezes, de forma a otimizar os desfechos obstétricos, com o fim a melhorarmos as probabilidades de um final feliz com uma mãe e bebé(s) saudáveis.
Patrícia Isidro Amaral
Receitas saudáveis para toda a Família
quinta-feira, 11 de janeiro de 2018
Hoje fomos à página Bio e Saudável e escolhemos 3 receitas que esperamos que gostem.
Bolinhos de couve- flor
Ingredientes:
- 1 couve-flor pequena;
- 1 ovo;
- 1 dente de alho;
- 1 limão (raspa);
- folhas de tomilho q.b.;
- 200g de queijo feta;
- Sal e Pimenta q.b.;
- 1/2 colher chá de fermento em pó;
- Óleo q.b.;
- 2 iogurtes naturais;
- Cominhos q.b.;
- Bagos de romã q.b.;
- Azeite q.b.
Modo de preparação:
- Cozinhe a couve-flor picada finamente em água a ferver, durante 5 minutos. Escorra-a e seque-a bem com a ajuda de um pano de cozinha.
- Numa taça, misture o ovo com o dente de alho picado, a raspa de limão e folhas de tomilho. Adicione a couve-flor e esmague tudo com a ajuda de um garfo. Junte o queijo feta esfarelado e envolva bem.
- Numa tigela, misture a farinha, sal, pimenta e o fermento. Junte ao preparado de couve-flor.
- Aqueça um pouco de óleo numa frigideira. Frite colheradas de massa, formando bolinhos, que deverão ser virados a meio do processo. Escorra-os e coloque-os sobre papel absorvente. Se desejar, coloque os bolinhos no forno a 150ºC para os manter quentes.
- Misture os iogurtes naturais com os cominhos, sal, pimenta, bagos de romã e um fio de azeite. Sirva com os bolinhos.
Pataniscas de legumes
Ingredientes:
- 5 colheres de sopa de farinha de aveia;
- 1 dL de água;
- 1 cebola;
- 1 ovo;
- 2 ramos de salsa;
- Ervas aromáticas e pimenta q.b.;
- Espinafres a gosto
Modo de preparação:
- Numa tigela coloque a farinha, a água e misture. Junte a cebola, a salsa picada e a gema de ovo. Tempere com ervas aromáticas e pimenta. No final, adicione os espinafres.
- Bata a clara em castelo firme. Por fim, envolva-a no preparado anterior.
- Forre um tabuleiro com papel vegetal. Deite colheradas do preparado e leve ao forno a 200ºC durante 15 a 20 minutos.
Bolachas de Manteiga de Amendoim e Óleo de Coco
Ingredientes:
- 2 chávenas de açúcar de coco;
- 1/2 chávena de óleo de coco prensado a frio;
- 1/4 chávena de cacau em pó;
- 1 chávena de Manteiga de Amendoim;
- 1/2 chávena de uma bebida vegetal à sua escolha;
- Sal q.b.;
- 1 colher de chá de essência de baunilha;
- 3/4 chávena de aveia.
Modo de preparação:
- Coloque o açúcar de coco, o óleo de coco, o cacau em pó, a manteiga de amendoim, a bebida vegetal e uma pitada de sal num tacho até obter uma mistura suave. Deixe ferver durante 4 minutos.
- Adicione a essência de baunilha e, em seguida, a aveia. Misture bem.
- Faça montinhos ou discos com a mistura anterior e coloque-os sobre o papel vegetal, num tabuleiro.
- Leve as bolachas ao forno, durante 20 minutos.
Esperamos que gostem!!! Até dia 20 de Janeiro!!!
Entrevista 2 - A Experiência da Família de Sofia com o BLW (Baby-Led Weaning)
Embora O Pai, a Mãe e Eu não defenda particularmente o método da diversificação alimentar tradicional ou o BLW em particular, temos o dever para com todas as Famílias que nos seguem de oferecer informação que facilite a escolha (neste caso) do método que considerem mais apropriado para os seus bebés.
Considerámos assim importante trazer o testemunho de duas mães, nesta entrevista com nome fictício, que praticam o BLW. Esperamos que vos seja útil.
1- Como conheceu o conceito do BLW?
R: O conceito em si através de amigos e grupos de apoio/ mães, na internet.
2- O que a levou a seguir esta vertente?
R: A experiência com o meu primeiro filho, onde por instinto fiz várias das coisas defendidas neste conceito; o respeito pelo bebé; a partilha do gosto pela alimentação; o tempo de qualidade que se torna uma refeição.
3- Que vantagens pensa que traz para o(a) seu(sua) filho(a)?
R: Uma maior e melhor relação com a alimentação (saudável); a experimentação dos alimentos de forma individual, antes das inúmeras conjugações possíveis; um maior desenvolvimento individual de competências relacionadas com o pegar, sentir e saborear os diferentes alimentos; um poder de escolha nos alimentos que come, quais come primeiro, quais os que dispensa, o que se traduz num maior respeito pelo bebé.
4- Quando iniciou este tipo de alimentação? Como foi a primeira experiência?
R: Alguns dos pilares do BLW foram iniciados com o meu filho mais velho, há 6 anos, ainda sem nunca ter uvido falar do conceito e com muita da carga cultural existente nesta matéria (a alimentação de um bebé). Com o meu filho mais velho iniciei este tipo de alimentação aos 6 meses.
5- Como é que os alimentos são preparados? O método BLW apresenta algumas restrições alimentares?
R: São apresentados ou cozinhados das mais diversas formas, oferecidos em cru, cozidos em água, ao vapor, assados, grelhados, de acordo com os alimentos em si e a idade da criança. As restrições prendem-se, aos 6 meses, com alimentos de difícil mastigação, como os frutos secos, a cenoura e a maçã crua, por exemplo.
6- Visto no início esta experiência não passar por sopas e papas e, uma vez que é introduzido este tipo de alimentação, existem algumas limitações na mastigação e na deglutição dos alimentos. Não tem receio que o(a) seu(sua) filho(a) se engasgue? Explicaram-lhe estratégias de como prevenir o engasgamento e, caso aconteça, como atuar?
R: O receio com o engasgamento com este tipo de alimentação é o mesmo receio que existiria com sopas ou purés. Não tive oportunidade de assistir a nenhum workshop, infelizmente, mas contei com algumas dicas de amigas, li diversa informação e assisti a vários vídeos ilustrativos.
7- Quais os principais cuidados que as Famílias devem ter quando adotam este conceito alimentar?
R: Procurar bastante informação fidedigna sobre a matéria; frequentar, se possível, algum workshop; encontrar um bom grupo de apoio/ partilha de ideias, receios e testemunhos.
8- Como reagiu a sua Família/ amigos? Compreenderam este novo conceito? Se por exemplo deixar o(a) seu(sua) filho(a) em casa dos avós como é que estes o(a) vão alimentar?
R: Com alguma estranheza, alguma aflição com pequenos "engasgamentos", ainda que prontamente solucionados pelo bebé. Caso outra pessoa, que não eu, ficasse a cuidar do meu bebé, alimentava-o de forma "tradicional" por falta de conhecimentos e sentimento de insegurança do cuidador.
9- Não acha que mudar do conceito tradicional para este novo conceito leva a que o(a) seu(sua) filho(a) não se alimente em quantidade insuficiente, uma vez que o BLW acaba por ser uma "brincadeira"/ exploração com/ do alimento?
R: Não, penso que a criança/ bebé se alimenta na medida do que necessita, em oposição à "técnica tradicional" onde as crianças/ bebés tendem a ser alimentados em quantidades superiores ao necessário.
10- Como garante que o(a) seu(sua) filho(a) vai ingerir os nutrientes necessários para um desenvolvimento saudável?
R: Oferecendo alimentos diversos e variando ao máximo as opções oferecidas.
11- Imagine um Pai ou uma Mãe que nunca ouviu falar do conceito. Como descreve o BLW em poucas palavras?
R: Uma opção alimentar para bebés a partir dos 6 meses, onde a base está no respeito pelo bebé e nas suas capacidades, não só de se alimentar, como também de fazer escolhas válidas dos alimentos que ingere. Um conceito que potencia a harmonia familiar às refeições, onde se elimina a alimentação individual e central do bebé, com eventuais momentos de tensão e stress para todas as partes.
Entrevista 1 - A experiência da Família de Elisa com o BLW (Baby-Led Weaning)
Embora O Pai, a Mãe e Eu não defenda particularmente o método da diversificação alimentar tradicional ou o BLW em particular, temos o dever para com todas as Famílias que nos seguem de oferecer informação que facilite a escolha (neste caso) do método que considerem mais apropriado para os seus bebés.
Considerámos assim importante trazer o testemunho de duas mães, nesta entrevista com nome fictício, que praticam o BLW. Esperamos que vos seja útil.
1- Como conheceu o conceito do BLW?
R: Conheci o conceito através de conferências ligadas ao aleitamento materno, em que participei.
2- O que a levou a seguir esta vertente?
R: O facto de poder tornar o meu filho parte integrante das nossas refeições e saber que teria um papel totalmente ativo na sua alimentação.
3- Que vantagens pensa que traz para o(a) seu(sua) filho(a)?
R: Aprende a comer e a conhecer os alimentos, permite melhorar o desempenho na atividade social e, por fim, ingere o que precisa, nas quantidades que precisa.
4- Quando iniciou este tipo de alimentação? Como foi a primeira experiência?
R: Foi muito positiva, pois já demonstrava muitos sinais de prontidão em relação à comida.
5- Como é que os alimentos são preparados? O método BLW apresenta algumas restrições alimentares?
R: Os alimentos são preparados juntamente com os nossos. Não existem restrições alimentares no conceito BLW. O único cuidado que temos diz respeito a qualquer tipo de introdução alimentar, com o sal e o açúcar.
6- Visto no início esta experiência não passar por sopas e papas e, uma vez que é introduzido este tipo de alimentação, existem algumas limitações na mastigação e na deglutição dos alimentos. Não tem receio que o(a) seu(sua) filho(a) se engasgue? Explicaram-lhe estratégias de como prevenir o engasgamento e, caso aconteça, como atuar?
R: Desconheço limitações na mastigação ou deglutição, assim como nunca se engasgou. Engasgou-se várias vezes nos primeiros 6 meses, como qualquer outra criança, com o leite.
Em relação ao gag reflex, foi-me explicado o que era e que se confunde com o engasgar. A princípio é estranho. Depois passa a ser perfeitamente identificável.
7- Quais os principais cuidados que as Famílias devem ter quando adotam este conceito alimentar?
R: Cuidados com a consistência da comida, como por exemplo, a maçã crua não deve ser dada. Deve ser sempre um pouco cozida. De forma geral, todos os alimentos oferecidos devem ter a consistência que permita que se desfaça no "céu da boca" com a força da língua.
8- Como reagiu a sua Família/ amigos? Compreenderam este novo conceito? Se por exemplo deixar o(a) seu(sua) filho(a) em casa dos avós como é que estes o(a) vão alimentar?
R: A princípio foi muito complicado aceitarem, neste momento praticam BLW, porque sabem que é da forma que come com satisfação.
9- Não acha que mudar do conceito tradicional para este novo conceito leva a que o(a) seu(sua) filho(a) não se alimente em quantidade insuficiente, uma vez que o BLW acaba por ser uma "brincadeira"/ exploração com/ do alimento?
R: Pra responder a esta questão seria necessário saber qual é a quentidade adequada para cada criança e não existe nada que fundamente as quantidades. Fico descansada, porque vejo a evolução ponderal (peso).
10- Como garante que o(a) seu(sua) filho(a) vai ingerir os nutrientes necessários para um desenvolvimento saudável?
R: Oferecendo todo o tipo de alimentos e garantindo que as refeições são iguais para toda a família.
11- Imagine um Pai ou uma Mãe que nunca ouviu falar do conceito. Como descreve o BLW em poucas palavras?
R: É um método prático e seguro que permite que a criança aprenda a gostar de comer através da experimentação sensitiva. Permite que consiga distinguir os diferentes sabores e texturas dos alimentos.
Violência no Namoro durante a Adolescência
quarta-feira, 10 de janeiro de 2018
O número de casos de violência no namoro e no ex-namoro têm vindo a aumentar ao longo dos anos. Apesar dos números crescentes e das várias campanhas que frequentemente existem, parece existir ainda alguma dificuldade em identificar determinados sinais menos óbvios no chamado namoro violento.
Para começar, é importante saber que existem cinco tipos de violência no namoro: a violência verbal (insultar, difamar, humilhar, gritar, etc.), a violência psicológica (partir ou danificar objetos com intenção de causar medo, controlar o que veste, etc.), a violência relacional (controlar o que o outro faz nos tempos livres e ao longo do dia, proibir o contacto com familiares e amigos, etc.), a violência física (empurrões, pontapés, bofetadas, etc.) e a violência sexual (forçar à prática de relações sexuais, entre outros, ...).
Que alternativas existem para enfrentar um namoro violento?
Em primeiro lugar, distinguir o que não é de todo saudável numa relação será a base da compreensão para poder definir os limites que devem existir num namoro e em qualquer relacionamento amoroso. Depois de corretamente identificados aqueles que podem ser comportamentos violentos, torna-se essencial saber dizer NÃO. Uma vez que a outra pessoa não aceita esses mesmos limites, há que refletir sobre a viabilidade desta relação e, se esta se tornar inviável, será também imperativo terminar a relação e da forma mais adequada, como poderá ler mais à frente.
Distinguir relações saudáveis de relações tóxicas
Muitas pessoas consideram que determinados comportamentos ou atitudes não são necessariamente sinónimo de violência e acabam por desvalorizar certos sinais que, quando detetados a tempo, podem realmente evitar certos dissabores ou até situações graves de risco.
É consensual que as relações saudáveis são repletas de risos, alegria, apoio mútuo e demonstrações de afeto e carinho. O que pode ser menos óbvio para muitas pessoas é que também nas relações saudáveis é suposto existir confiança no outro, respeito pelas opiniões diferentes, elogios e encorajamentos, sentimento de segurança, convivência com amigos, comuns ou não, planos em conjunto e em separado e liberdade sem invasões ao espaço do outro. Os conflitos também existem ocasionalmente em relações saudáveis, contudo, ao contrário das relações violentas, são conflitos que se resolvem através da negociação e sem violência.
Nas relações não-saudáveis ou tóxicas, o que se observa quase sempre são reações ciumentas e despropositadas, ameaças e pressões, controlo do telemóvel e das redes sociais, ofensas verbais, choro, tristeza, mágoa, raiva, poder, intimidação e humilhação, um ou os dois elementos do casal afastados dos amigos, demasiada dependência do outro, controlo sobre o que outro faz, onde vai e com quem vai e/ ou forçar o outro a ter relações sexuais.
Como aprender a dizer NÃO?
É fundamental não ceder às pressões do(a) namorado(a). Deve perguntar-se "já tinha vontade de fazer isto antes de me terem sugerido?" e refletir sobre quais serão as consequências de dizer "sim" ou "não". Se as consequências de dizer sim são mais negativas que positivas, então pode ser sinal de que a melhor resposta seja NÃO. Deverá sugerir outras alternativas ou explicar simplesmente que não se identifica com determinado comportamento ou que não está preparado(a).
Saber terminar a relação de forma adequada
Desde que reunidas as condições de segurança (num local público e informando previamente um adulto ou amigo de confiança sobre o que vai acontecer), deverá fazê-lo pessoalmente ao invés de terminar a relação por telefone, e-mail, SMS ou carta. É importante procurar ser discreto(a) sem humilhar a pessoa em questão, escolhendo um local sossegado, sem deixar de ser um local público. Deverá conversar com honestidade e firmeza, sem ser insensível. Não deve voltar atrás nem mostrar insegurança que se pode confundir com falsas esperanças em relação a uma possível reconciliação. Por fim, manter a calma e não culpar a outra pessoa pela decisão e respeitar e compreender o descontentamento ou outra reação negativa da outra pessoa. Se não for possível continuar a amizade é fundamental não antecipar essa possibilidade.
Porque a violência no namoro tem três lados, resolvi escrever uma espécie de carta aberta para cada um dos três intervenientes: a vítima, o agressor e o espetador.
A ti, potencial vítima... se TERMINASTE UMA RELAÇÃO e o(a) teu(tua) ex-namorado(a) não aceitou o fim do namoro e não para de te incomodar ou segue-te:
- Não te sintas culpada(o) pelo que está a acontecer. Ele(a) é o(a) único(a) responsável;
- Para te protegeres de eventuais reações agressivas, não fales com ele(a) pessoalmente sozinho;
- Diz-lhe de forma clara e assertiva que o que está a fazer não te agrada e que queres que deixe de te contactar. Fá-lo por telefone ou na presença de uma pessoa em quem confies;
- Anota todos os episódios que forem acontecendo e guarda as provas;
- Fala com alguém em quem confies e com os teus pais e pessoas mais próximas, pedindo-lhes para não darem informações tuas caso recebam contactos dele(a);
- Procura a ajuda de um psicólogo se sentires que não estás a conseguir lidar com o que está a acontecer;
- Podes ligar também para a APAV e 112 em perigo iminente.
A ti, potencial AGRESSOR... A(O) TUA(TEU) NAMORADA(O) TERMINOU CONTIGO e sentes-te perdido(a) e não sabes o que fazer:
- Tens todo o direito de te sentir triste, desiludido(a), com vontade de chorar e com raiva, mas não te esqueças que isso não te dá o direito de insultares, magoares ou ferires a pessoa que terminou a relação contigo;
- Apesar de neste momento te sentires mal, podes acreditar que com o tempo vais sentir-te melhor;
- Desabafa com os teus amigos, com os teus Pais ou com quem confies. Falar sobre o que pensas e sentes pode ajudar;
- Passa mais tempo com os teus amigos e a fazer alguma coisa que gostes, obrigando-te a pensar em outras coisas, para além do que aconteceu;
- Experimenta algo diferente que já tinhas vontade de fazer;
- Oferece a ti mesmo momentos para relaxares ou tratares de ti;
- Lembra-te que o fim da relação não é o fim da tua vida: aproveita para te dedicares a outras áreas que estavam mais esquecidas.
A ti, espetador/ cúmplice... CONHECES ALGUÉM vítima de violência no namoro:
- Ajuda a pessoa a procurar apoio especializado junto da APAV ou de um psicólogo e a conversar com os seus Pais;
- Diz-lhe que ele(a) não tem culpa pelo que está a acontecer;
- Disponibiliza-te para ajudares no que for necessário e estiver ao teu alcance;
- Respeita a sua decisão, sem criticar ou culpabilizar a pessoa por ser vítima;
- Não faças a "mediação" entre a vítima e o(a) agressor(a), porque pode ser perigoso para ti ou para a vítima;
- Valoriza as capacidades da pessoa e incentiva-a dizendo que será capaz de ultrapassar esta situação.
"Não é o amor que sustenta o relacionamento, mas sim o modo de se relacionar que sustenta o amor" (Autor desconhecido)
Cristina Reis
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