Quando o Miguel fez 3 anos, o Autismo bateu-nos à porta. Assim como um vizinho novo lá do prédio, fazia tempo que sentíamos que ele já lá morava, mas ainda não se tinha apresentado. E foi assim, bateu à porta e entrou-nos em casa. Sabemos que todos temos vizinhos diferentes, alguns trazem muitos problemas, outros nem damos por eles. O nosso vizinho Autismo estava apresentado e só o tempo nos diria que tipo de vizinho seria. 

O Autismo não é fácil e de um dia para o outro temos de aprender a viver com ele. São desafios diários, são expetativas desfeitas, são angústias futuras, tudo de repente e ao mesmo tempo. Eu consegui encarar muito bem este meu vizinho tão único, mas não somos todos iguais. 

Recordo uma expressão portuguesa "se não os consegues vencer, junta-te a eles" e foi o que fiz. Juntei-me a ele e levei comigo as pessoas certas nesta caminhada. E aprendi a ouvir quem mais e melhor conhece o Autismo e a seguir os seus conselhos. Não segui nenhum método, corrente, filosofia, dieta, restrição. Segui o meu filho. E quando tinha dúvidas pedia ajuda ao médico, à terapeuta, à educadora, ao pai, à avó, à tia... pedia ajuda a quem realmente conhecia o Miguel e o Autismo. Esforcei-me por escolher a escola certa, por tê-lo rodeado de pessoas que o entendam, que o ajudem a ultrapassar as suas dificuldades e que o enalteçam nas suas virtudes. E consegui!

Não li nem pesquisei muito sobre o tema, até porque penso existir muita teoria por aí que só serve para semear o caos e provocar inquietude nos Pais. Podemos e devemos ler sobre o Autismo, mas as coisas certas, poucas mas boas. Não há uma fórmula milagrosa e o que resulta para uns, entoa em eco para outros. Por isso, não adianta sofrer por antecipação, nem viver em constante angústia e o importante é gostarmos do nosso filho, seja ele como for. Focarmos todas as nossas forças nele e não nos casos de sucesso ou insucesso dos outros. 

Não protegi o meu filho, nem lhe facilitei a vida, porque só avançamos quando aprendemos a pedalar a nossa bicicleta sozinhos. E mostrei-lhe o mundo, como ele é, mesmo com o desconforto que a ele lhe possa causar. Ouvi muitas birras, suportei muitos olhares, mas no dia seguinte lá íamos nós outra vez! Nem sempre é fácil, mas é este o caminho. E passito a passito fomos avançando ao ritmo dele. 

Hoje posso dizer que o vizinho Autismo bateu-nos à porta, entrou, mas não ficou muito tempo! Mora ao nosso lado, volta e meia aparece, muito poucas vezes incomoda e muitas vezes mima-nos com um bolo acabadinho de fazer! Sabemos que irá morar ao nosso lado para sempre, mas já nos habituámos a ele e gostamos dele assim! 


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