A Perturbação do Espetro Autista (PEA) é uma patologia do neurodesenvolvimento caracterizada por alterações em duas áreas fundamentais:
- perturbações da comunicação e interação social;
- padrões de comportamento restritos e repetitivos.
Engloba doenças anteriormente designadas como "perturbação autística" ou "Doença de Asperger", entre outras.
É mais frequente no sexo masculino e encontra-se em cada 2-20 por cada 1000 habitantes. Algumas das crianças afetadas apresentam défice intelectual (75%) ou epilepsia (11-39%).
A sua causa específica é desconhecida. Parece dever-se a uma interação entre fatores genéticos, fatores de suscetibilidade individual e exposição ambiental (tóxicos, infeções, ...).
As manifestações clínicas - Quando suspeitar:
Os sinais sugestivos surgem mais frequentemente no 2º ano de vida, mas os quadros menos graves podem manifestar-se entre os 4-6 anos. Uma criança com um desenvolvimento normal até certa data, que depois não progride ou regride nas aquisições, deve ser avaliada.
As consultas entre os 14 e 24 meses de idade são fundamentais no rastreio.
1- Perturbações na comunicação e interação social:
- atraso na linguagem;
- sem intenção de comunicar: não imita, não aponta;
- dificuldade na comunicação não-verbal: pouca expressão da face e dos gestos, postura rígida, não olha nos olhos;
- défice nas relações sociais: dificuldade em iniciar ou manter a relação com os outros e em compreender a intenção e a opinião dos colegas; brinca individualmente e não em conjunto.
2- Comportamentos, atividades e interesses estereotipados, repetitivos, restritos:
- estereotipias e maneirismos motores repetitivos: abanar os braços/ mãos, estalar os dedos, balanceio, andar em bicos de pés, ecolalia (repete continuamente os sons que ouve);
- dependência da rotina: crianças com dificuldade em aceitar mudanças e adquirem rotinas/ rituais peculiares sem propósito específico;
- interesses restritos e fixos: preocupam-se com os objetos pouco comuns, por vezes obsessivamente (matrículas, dinossauros, ...);
- jogo: têm dificuldade em encontrar o significado/ utilidade dos objetos, dificuldade no jogo simbólico, manipulação pouco usual dos objetos;
- alteração das sensações: reações intensas a sons/ texturas/ sabores/ cheiros/ cores.
3- Outras características:
- alterações motoras: marcha em bicos de pés, "desajeitados";
- comportamentos de auto-agressão, alterações do sono, preferências alimentares peculiares;
- "Sobredotados" (1-10%): algumas crianças têm capacidades notáveis de memória, matemática, música, arte, entre outras, apesar de dificuldades profundas noutras áreas.
Sinais de alarme:
O diagnóstico:
Perante a dúvida dos pais ou professores, deve procurar-se aconselhamento no médico de família ou pediatra, que pode fazer um rastreio inicial. Posteriormente, é feita referenciação a uma equipa multidisciplinar experiente nesta área.
O diagnóstico é apoiado num exame clínico completo e na avaliação do desenvolvimento com escalas específicas. Deve excluir-se défice visual e auditivo (a criança que não ouve ou que não vê, também não comunica).
Contudo, o diagnóstico nem sempre é fácil e imediato. Por vezes são necessárias várias intervenções e observações para se chegar a uma conclusão.
A intervenção:
Objetivos: maximizar o funcionamento, promover a autonomia e melhorar a qualidade de vida da Criança e da Família.
Equipa multidisciplinar: Pediatra do desenvolvimento; Neuropediatra; Pedopsiquiatra; Psicólogo; Geneticista; Terapeuta da Fala; Terapeuta Ocupacional; Audiologista; Assistente Social; Educador.
Intervenção: comportamental, educacional, farmacológica e envolvimento da Família.
O prognóstico:
É difícil prever a evolução, especialmente em crianças com menos de 3 anos.
Crianças com menor funcionalidade e com patologias associadas podem evoluir menos favoravelmente. Algumas crianças irão manter o diagnóstico, apesar da melhoria substancial nos sintomas nucleares. Outras, com manifestações mais ligeiras, evoluem muito bem e deixam de ter os critérios de PEA.
Não existe cura para a PEA, mas os sintomas podem atenuar progressivamente. O diagnóstico precoce e a intervenção multidisciplinar atempada são essenciais.
Sara Brito
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