O que é o Citomegalovírus (CMV)?
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019
O Citomegalóvírus (CMV) é um vírus da família dos vírus herpes. Existem duas vias de transmissão do vírus:
- a via horizontal através do contacto interpessoal, principalmente através de secreções como a saliva, a urina, a via sexual ou a partir de produtos sanguíneos por transfusão ou transplantes;
- a via vertical que acontece na transmissão ao feto, durante a gravidez.
E porque é o CMV importante durante a gravidez?
Em Portugal, cerca de 1% de todos os recém-nascidos têm CMV, mas a maior parte dos bebés que nascem portadoras deste vírus não são doentes, são bebés saudáveis. No entanto, é uma infeção portencialmente grave, sendo a principal causa infeciosa congénita de atraso mental e surdez nas crianças, pelo que os cuidados preventivos são muito importantes.
Os sintomas da infeção a CMV na grávida geralmente são ausentes ou ligeiros, como a síndrome gripal, podendo manifestar-se por febre, dor de garganta, dores nas articulações ou dores musculares.
Idealmente a serologia para CMV deve ser avaliada no período pré-concecional, de forma a ser feito o aconselhamento em relação aos cuidados a ter durante a gravidez.
A serologia IgG e IgM negativa mostra que a mulher não tem anticorpos para este vírus e que deverá ter todas as precauções durante a gravidez, para evitar o contágio, a primoinfeção.
A serologia IgG positiva e IgM negativa significa que já houve contacto com o CMV, tem anticorpos IgG, no entanto não previnem as reinfeções ou reativações, mas estas têm menor significado clínico.
E que cuidados deveremos ter para evitar esta infeção?
Não existe vacina! Os grupos de risco são grávidas que:
E que cuidados deveremos ter para evitar esta infeção?
Não existe vacina! Os grupos de risco são grávidas que:
- trabalham em creches e infantários;
- profissionais de saúde expostos a grupos infetantes como crianças, imunodeprimidos, transplantados;
- têm filhos em idade pediátrica;
- ou que esteja imunodeprimida.
Está recomendado:
- lavagem frequente das mãos com água e sabão, após contacto com fraldas/ urina, saliva ou secreções respiratórias de crianças;
- não beijar crianças na boca ou na face;
- não partilhar os mesmos utensílios nas refeições.
O Pai do bebé deverá ter os mesmos cuidados, de forma a prevenir que infete a grávida.
No caso de suspeita de infeção, a grávida deve ser encaminhada para um centro especializado nesta área.
Patrícia Isidro Amaral
Osteopatia e o bebé: quando realizar uma consulta?
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019
A osteopatia pediátrica oferece a possibilidade de tratar as disfunções antes que elas se instalem e se tornem irreversíveis. As indicações da osteopatia no bebé são várias, mas ainda pouco conhecidas pelos profissionais de saúde e pelos pais. As consultas regulares podem ser um grande conforto para as crianças, assegurando que todas as fases importantes do desenvolvimento decorrem dentro da normalidade.
De modo a obter um tratamento o mais eficaz possível, nós aconselhamos realizar uma avaliação osteopática depois do parto, tanto para o bebé como para a Mãe. O osteopata não vai substituir o pediatra, enfermeiro ou outro especialista que o vosso filho possa necessitar.
O parto pode ser promotor de um dos primeiros traumatismos do bebé. Um trabalho de parto prolongado (mais de 8h) ou muito rápido (menos de 2h), pode perturbar o normal funcionamento da estrutura craniana e o seu desenvolvimento. Se for um trabalho de parto difícil, com necessidade de recorrer a fórceps ou ventosas, este recurso vai influenciar a mobilidade da junção dos ossos do crânio e criar distúrbios funcionais imediatos ou futuros.
Outras indicações são:
- gravidez gemelar;
- cordão umbilical enrolado à volta do pescoço ou do braço;
- parto com uso de anestesia epidural;
- cesariana.
Mesmo que, aparentemente, o seu filho não apresente sinais preocupantes, é importante verificar a ausência de blocagem (restrições na mobilidade). Os distúrbios podem aparecer depois, como um torcicolo ou uma deformação do crânio.
Quando realizar uma consulta de osteopatia pediátrica?
- Dificuldades na sucção;
- Regurgitações;
- Agitação após ser alimentado;
- Apresenta-se sempre muito inquieto e adota uma postura arqueada quando está no colo ou durante a amamentação;
- Pernas e braços tensos;
- Dificuldade em segurar a cabeça;
- Chora com frequência;
- Problemas no sono (dorme pouco e adormece com dificuldade);
- Assimetria do crânio;
- Alterações ao nível das pernas (por exemplo: a posição das pernas);
- Posição viciada da cabeça;
- Otites de repetição, ...
Para reencontrar a harmonia:
O osteopata vai realizar um exame muito suave das diferentes mobilidades fisiológicas (crânio, coluna, abdómen, ...) e desta forma descobrirá a disfunção menor que está na origem de todos os distúrbios do seu filho. O princípio em osteopatia é encontrar o problema, corrigi-lo, harmonizar o conjunto e deixar o corpo trabalhar.
Um exame atento em cada nascimento
A consulta inicia-se com uma colheita de dados detalhada com os Pais e depois o osteopata e o bebé vão conversar através das mãos. O tratamento não é doloroso. Todas as técnicas são suaves. É possível que o bebé chore durante a consulta para exprimir a ansiedade relativamente a um ambiente que lhe é estranho e para relaxar as tensões. Mas não demora muito tempo. Muitas vezes os bebés adormecem. Depois, precisamos de tempo para dar alguns conselhos aos Pais. Uma ou duas consultas podem ser suficientes... depende de cada bebé.
Elodie Coget
Elodie Coget
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019
Nasceu em França, tendo concluído aí os seus estudos. Decidiu vir para Portugal por gostar muito deste país e para, assim, poder estar mais perto de familiares (a sua Mãe é portuguesa).
Tem um curso de 5 anos, que em França é equivalente ao grau de Mestre e completou uma pós-graduação em Osteopatia Pediátrica, Osteopatia do Desporto e Posturologia.
Atualmente trabalha na SH, clínica em Canidelo (Vila Nova de Gaia), Clínica da Muralha, em Chaves e tem consultório próprio, em Vidago.
Gosta muito da área pediátrica, uma vez que os resultados nas crianças são incríveis e aprende todos os dias com elas.
Aromaterapia nas crianças
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019
A palavra aromaterapia vem do grego ároma (cheiro) e therapeía (tratamento). Trata-se do conjunto de formas terapêuticas que usam os princípios ativos dos óleos essenciais biológicos para tratar patologias de ordem física, emocional e mental.
Os óleos essenciais são substâncias que são parte integrante das plantas: das raízes, dos frutos, das cascas das árvores, das folhas e das flores. São obtidos maioritariamente através de um processo de destilação (através do qual vamos obter óleo essencial), ou de um processo de pressão a frio (vamos obter essência).
Os óleos essenciais podem ser usados de diversas formas, em interação com o nosso organismo:
- por difusão (através de um difusor - que não deve aquecer o óleo essencial);
- por inalação;
- por aplicação na pele (com o óleo vegetal biológico);
- por ingestão (sempre com glícido ou uma gordura);
- ...
É muito importante que usemos sempre óleos essenciais de qualidade, nomeadamente que sejam biológicos. Na prática da aromaterapia clínica, o óleo essencial é usado como um medicamento e com um fim terapêutico, por isso devemos ser rigorosos na escolha dos óleos essenciais, conhecendo bem as cromatografias ou aconselhando-nos com um aromaterapeuta experiente.
Os óleos essenciais vão ajudar a estimular, regular e equilibrar diversas funções no organismo, no sentido de poder criar um equilíbrio e um bem-estar integral. Com esse intuito podemos usar os óleos essenciais também como prevenção. Por exemplo, podemos usar o óleo essencial de Tea Tree (Maleleuca alternifolia), aplicado no abdómen, juntamente com óleo vegetal biológico e massajar no sentido dos ponteiros do relógio para estimular e fortalecer o nosso sistema imunitário. Podemos usar também o Tea Tree, juntamente com o óleo vegetal biológico para bochechar e fortalecer, da mesma forma, o nosso sistema imunitário.
Devemos ter algum cuidado em escolher óleos essenciais para as crianças. Não podemos utilizar nelas todos os óleos e é importante saber adaptar a posologia à idade de cada uma (o modo de aplicação, o número de gotas, a frequência por dia, ...).
O óleo essencial de Lavanda Hybrida (Lavandula hybrida) pode ser usado nas crianças em situações de cólicas abdominais, em casos de diarreia, assim como em doenças da pele, tais como eritema da fralda, eczema, acne, entre outros. O óleo essencial de Eucalipto Radiata é um bom aliado nas infeções das vias respiratórias superiores (secreções nasais e tosse), assim como otites externas e amigdalites víricas.
Com algum conhecimento é possível ter uma pequena farmácia aromática em casa, com a qual possamos ir acompanhando e estimulando a saúde dos nossos pequenos. Da mesma forma, os óleos essenciais permitem-nos tratar as doenças logo aos primeiros sintomas, evitando assim a progressão das patologias e favorecendo o reequilíbrio do corpo.
Esther de León Rodríguez
Esther de León Rodríguez
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019
Esther nasceu em Madrid e Licenciou-se em Medicina, iniciando a formação em Medicina Antroposófica no IFMA (Instituto de Formación en Medicina Atroposófica de Madrid).
Em 2012, já em Portugal, especializou-se em Medicina Geral e Familiar. Nesse mesmo ano descobriu uma das suas grandes paixões, a Aromoterapia. Fez formação na Escola de Aromaterapia de Raquel Costa e tornou-se membro do Comité Científico da Associação Portuguesa de Aromaterapia. Desde essa altura, trabalha com aromaterapia na sua prática clínica, fundamentalmente com crianças e na saúde da mulher.
Realizou uma pós-graduação em Acupuntura Integrativa, na CESPU, assim como diversas formações em Tui Na, Ventosterapia e outras áreas terapêuticas da Medicina Tradicional Chinesa.
Neste momento dá consultas particulares numa clínica em Lisboa e Póvoa de Varzim, através de uma perspetiva integrativa, acompanhando os processos de saúde e doença de uma forma holística. Isto porque, a saúde permanece num equilíbrio dinâmico e cada um de nós tem a possibilidade de fazer melhor por si mesmo.
Sintomatologia gastrointestinal na gravidez
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019
- Náuseas e vómitos
São as complicações mais frequentes na gravidez, afetando cerca de 50 a 80% das mulheres. O início da sintomatologia ocorre, normalmente, por volta da 4ª a 6ª semana de gestação, abrandando ou cessando, na maioria dos casos, até à 20ª semana.
O aparecimento destes sintomas parece estar associado à elevação dos níveis de progesterona na gravidez, uma vez que esta hormona diminui o esvaziamento gástrico, promovendo uma digestão mais lenta. Para além disto, níveis elevados de estrogénios e da hormona gonadotrofina coriónica humana (hCG), o stress e ansiedade e uma maior predisposição genética também têm sido apontadas como possíveis causas.
Em situações mais graves, embora ocorra apenas em 0,3% a 3% das mulheres, pode surgir hiperemese gravídica, uma complicação caracterizada pela presença de náuseas e vómitos severos e persistentes. Como consequência, a grávida pode apresentar desidratação severa, distúrbios eletrolíticos (pela perda de sais minerais) e perda de peso, existindo também um maior risco de parto prematuro e de o bebé nascer pequeno para a idade gestacional e/ ou baixo peso.
De forma a controlar os sintomas e evitar o surgimento de complicações é importante:
- Evitar longos períodos de jejum. Estar de estômago vazio piora os sintomas;
- Fazer refeições leves e frequentes;
- Evitar comer 2-3h antes de ir dormir;
- Evitar alimentos e refeições com muita gordura e reforçar o consumo de alimentos ricos em proteína como carne, pescado e ovo;
- Evitar alimentos muito condimentados e com odores fortes;
- Preferir alimentos e bebidas frescas;
- Reforçar a ingestão de água de forma a prevenir a desidratação, particularmente entre refeições;
- Incluir o gengibre na sua alimentação. Vários estudos têm demonstrado uma associação entre o seu consumo e a diminuição dos episódios de náuseas;
- Ponderar, juntamente com o seu médico, a suplementação (ou reforço da mesma) de vitamina B6 (piridoxina) dado que esta tem vindo a ser associada a uma melhoria dos sintomas.
- Refluxo gastroesofágico e azia
O refluxo gastroesofágico é também comum, particularmente na fase final da gravidez, afetando cerca de 40 a 85% das grávidas.
Devido à ação da progesterona, verifica-se uma diminuição da pressão do esfíncter esofágico inferior, o que favorece a subida do conteúdo gástrico para o esófago. Para além disto, tal como já referido, níveis elevados desta hormona retardam o processo da digestão, sendo natural que, estando o conteúdo gástrico mais tempo no estômago, existirá uma maior predisposição para o surgimento de refluxo. Por outro lado, devido a uma maior produção de gastrina pela placenta, ocorre uma maior acidificação do estômago, culminando numa maior sensação de azia aquando do refluxo.
Nestes casos deve:
- Fazer refeições leves e frequentes;
- Evitar comer 2 a 3h antes de ir dormir;
- Elevar a cabeceira da cama e deitar-se para o lado esquerdo;
- Evitar roupa apertada;
- Evitar alimentos/ refeições com muita gordura, uma vez que esta promove um atraso no esvaziamento gástrico;
- Evitar alimentos e especiarias picantes;
- Evitar café e bebidas com cafeína (como chá verde e preto), bem como chocolate e alimentos com mentol, dado promoverem o relaxamento do esfíncter esofágico inferior;
- Limitar a ingestão de líquidos às refeições. Deve beber bastante água, mas deve fazê-lo maioritariamente no intervalo das refeições para facilitar a digestão e não agravar a sintomatologia;
- Evitar alimentos ácidos como os citrinos e o tomate por aumentarem a sensação de ardor.
- Obstipação
A obstipação, vulgarmente designada como prisão de ventre, é também comum e normal na gravidez, apresentando uma prevalência de cerca de 40%.
A diminuição do nível de atividade física nesta fase, uma ingestão hídrica abaixo das necessidades e um baixo consumo de fibra contribuem para esta situação. Por outro lado, a progesterona está, mais uma vez, implicada neste processo, ao provocar uma diminuição da motilidade intestinal. Também devido a fatores hormonais, parece haver uma maior reabsorção intestinal de água na grávida, tornando as fezes mais duras.
Para promover uma melhoria do seu trânsito intestinal deve:
- Aumentar a ingestão de alimentos ricos em fibra (pão integral ou de mistura, arroz e massa integral, aveia, leguminosas, hortículas, particularmente ameixas, kiwis e figos);
- Reforçar o consumo de água (2L/ dia). De nada adianta aumentar o consumo de fibra sem aumentar a ingestão hídrica, antes pelo contrário, pode até piorar a situação uma vez que a fibra necessita da água para exercer a sua função;
- Praticar atividade física moderada de forma regular. Para além de apresentar muitos outros benefícios na gravidez, é importante para aumentar a motilidade intestinal.
Nota: A suplementação de ferro pode provocar ou piorar o quadro de obstipação. Se estiver a tomar estes suplementos e sentir um agravamento dos sintomas, consulte o seu médico.
Maria Inês Cardoso
Receitas saudáveis para toda a Família
o pai, a mãe e eu retoma hoje a publicação mensal de receitas saudáveis para toda a Família.
Para este mês escolhemos um pequeno-almoço (retirado do livro "O livro da Marta uma forma de amar", de Marta Horta Varatojo) e uma sobremesa (retirado do livro "Cozinha 100% vegetal e saudável", de Carina Barbosa) saudáveis, onde os principais ingredientes são a framboesa e o caju. Esperamos que gostem e que, quando experimentarem, nos deixem a vossa opinião em comentário a esta publicação.
Pequeno-almoço: Papas de aveia com framboesas
- 1 chávena de chá de flocos de aveia
- 1 chávena de bebida de arroz e coco
- 1 colher de sopa de sultanas
- 1 colher de café rasa de baunilha em pó
- 1 chávena de chá de framboesas (pode usar outra fruta da época)
- 6 folhas de hortelã
- 2 colheres de sopa de geleia de arroz
Modo de preparação
- Numa taça, junte os flocos de aveia, a bebida de arroz e coco, a baunilha, 4 folhas grandes de hortelã picadas e 1 colher de sopa de sultanas. Deixe a demolhar durante toda a noite no frigorífico.
- Para o molho de framboesas: pique 2 folhas de hortelã e envolva com a geleia e as framboesas, até obter um molho.
- Sirva as papas de aveia com este molho e decore com hortelã.
Dica: em vez de bebida de arroz e coco, pode usar bebida de espelta e juntar 1 colher de sopa de coco ralado. Pode guarnecer com puré de maçã.
Sobremesa: Tarte fria de caju
Ingredientes
Base
- 280g de amêndoas
- 12 tâmaras medjool
Recheio
- 500g de cajus
- 1 limão (sumo)
- 100 mL de geleia de agave ou geleia de arroz
- 120 mL de natas de soja para sobremesas
Cobertura
- doce de chia e framboesa
- framboesas, mirtilos e groselhas para decorar
Modo de preparação
- Demolhe os cajus por 1 hora em água acabada de ferver. Descaroce e corte as tâmaras em bocados. Reserve.
- Num processador de alimentos, coloque as amêndoas e as tâmaras. Triture até obter um farelo. Espalhe a mistura numa forma com fundo e lateral amovíveis. Com a base de um copo, faça pressão para cortar a base da tarte. Coloque no frigorífico, enquanto prepara o recheio.
- Entretanto prepare o recheio: coloque todos os ingredientes do recheio no processador e triture até obter uma mistura homogénea e cremosa. Verta o preparado sobre a base da tarte, alise o topo com uma espátula e cubra a forma com película aderente. Leve ao forno para solidificar durante 4 horas.
- Retire a tarte do congelador e espalhe o doce por cima. Sirva sempre frio.
Dica: De forma a que seja mais saudável, o doce de chia e framboesa deve ser confecionado em casa.
Bom apetite!
o pai, a mãe e eu
O Pai e a Prematuridade
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019
A chegada de um filho traz consigo um conjunto de transformações e mudanças a um nível individual, conjugal e social. Acrescem ainda as obrigações e os cuidados que obrigam a novas rotinas e, frequentemente, fazem surgir novas tensões e stress na vida da Mãe, mas igualmente na do Pai.
Nas últimas décadas do séc. XX, o papel do Pai tem vindo a sofrer mudanças que têm acompanhado o próprio processo de transformação da família e sociedade. O antigo papel masculino (tradicional) - figura de autoridade e responsável pelo sustento financeiro da Família, mas pouco envolvido nos cuidados - tem vindo a transformar-se num novo papel - um Pai envolvido e participativo na vida e formação da criança.
Esta mudança de estereótipo do comportamento masculino face à paternidade não surge após o bebé nascer, mas durante o período de gravidez, no envolvimento emocional e comportamental do futuro Pai. Este envolvimento expressa-se pela preocupação e ansiedade pela gravidez, com o bebé e com a chegada ao ambiente familiar, pelo apoio emocional e material proporcionada à grávida, bem como pela participação nas diversas atividades (consultas, preparação, ...).
Assim sendo, a adaptação à paternidade, da mesma forma que a adaptação à maternidade, é um processo complexo que implica uma série de transformações.
Mas quando se fala do nascimento de um bebé prematuro, a complexidade das tarefas e exigências aumentam, manifestando o Pai as mesmas dificuldades, incertezas, medos, frustração e impotência que as Mães.
A permanência do bebé nas unidades pode implicar períodos prolongados e o esforço para estar sempre perto obriga os Pais a reorganizarem a sua vida e a estabelecer novas rotinas. A presença do Pai é importante, na medida em que ajuda a criar vínculos, proporciona um maior apoio e segurança para a Mãe e a longo prazo permite uma maior segurança para participar nos cuidados diários com o bebé, após a alta hospitalar.
O Pai, no período inicial do puerpério, é aquele que estabelece o elo com a equipa. É o primeiro a ir conhecer o bebé e é o responsável por receber as informações sobre o estado de saúde deste e a transmiti-las à Mãe e Família. Dirige a sua atenção para o apoio e auxílio à mulher e preocupa-se com os sentimentos e fragilidade desta. Funciona de um modo geral como mediador, como aquele que apoia e conforta e que estabelece pontes de comunicação com a restante Família. Como é próprio da cultura masculina, posiciona-se como "forte" e assume o controlo da situação.
Mas... está triste, assustado, em choque com o que aconteceu e a tentar processar emocionalmente o melhor que consegue. Sente-se perdido, vive com medo de que alguma coisa possa acontecer. Alguns têm medo de tocar no bebé e depositam a confiança no ambiente tecnológico. É o que mais fala com os técnicos e na maior parte das vezes está mais centrado na mãe do que no bebé. Quase não tem espaço para os seus próprios sentimentos e emoções.
Os profissionais que trabalham nas unidades têm aqui um papel muito importante na forma como contactam e comunicam com os Pais homens. A inclusão do Pai na atenção e cuidados ao bebé deve ser feita o mais precocemente possível. Quanto mais cedo o Pai for incluído (exemplo: promover o toque, incentivar o desejo de cuidar, ...), maior a possibilidade de se estabelecerem vínculos afetivos fortes e acontecer o desenvolvimento de cuidados para com o bebé. Longe do modelo tradicional de cuidados, em que as Mães eram consideradas as interlocutoras principais nestes ambientes, o Pai deve ser incluído nos cuidados ao bebé de modo a facilitar a construção de uma paternidade mais envolvida e participativa.
O papel do homem está a mudar e insere-se numa nova realidade cultural onde os homens se envolvem ativamente, juntamente com as mulheres, nos cuidados aos filhos. No contexto da prematuridade, é fundamental que os profissionais se sensibilizem com esta mudança e facilitem o seu envolvimento e participação o mais precocemente possível.
Reconhece-se ainda o esforço acrescido dos Pais homens, após o nascimento prematuro dos bebés. A necessidade de proteger e de apoiar a Mãe durante o internamento do bebé, ao assumirem o controlo da situação, retira-lhes espaço para expressarem os seus sentimentos e emoções. Por outro lado, tentar comunicar com o/a parceiro/a nem sempre é fácil quando ambos estão fragilizados. Embora sintam da mesma maneira, homens e mulheres expressam-se de formas diferentes, o que pode levar a dificuldades de comunicação. É, pois, importante disponibilizar um espaço de apoio psicológico individual ou para o casal.
Lília Brito
Equipa
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019
Nasceu a 29 de Junho de 1981, formou-se na antiga Escola Superior de Enfermagem de S. Vicente de Paulo e especializou-se na Universidade Católica Portuguesa. Trabalhou durante 11 anos na Maternidade Dr. Alfredo da Costa, na Unidade de Neonatologia.
Dispõe também de uma pós-graduação em desenvolvimento infantil.
Para além disso, tem alguns projetos no âmbito da comunidade e colaborou com os Bombeiros Voluntários, na emergência pré-hospitalar.
É Conselheira de Aleitamento Materno e instrutora de massagem infantil, certificada pela APMI.
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