A chegada de um filho traz consigo um conjunto de transformações e mudanças a um nível individual, conjugal e social. Acrescem ainda as obrigações e os cuidados que obrigam a novas rotinas e, frequentemente, fazem surgir novas tensões e stress na vida da Mãe, mas igualmente na do Pai.

Nas últimas décadas do séc. XX, o papel do Pai tem vindo a sofrer mudanças que têm acompanhado o próprio processo de transformação da família e sociedade. O antigo papel masculino (tradicional) - figura de autoridade e responsável pelo sustento financeiro da Família, mas pouco envolvido nos cuidados - tem vindo a transformar-se num novo papel - um Pai envolvido e participativo na vida e formação da criança.


Esta mudança de estereótipo do comportamento masculino face à paternidade não surge após o bebé nascer, mas durante o período de gravidez, no envolvimento emocional e comportamental do futuro Pai. Este envolvimento expressa-se pela preocupação e ansiedade pela gravidez, com o bebé e com a chegada ao ambiente familiar, pelo apoio emocional e material proporcionada à grávida, bem como pela participação nas diversas atividades (consultas, preparação, ...). 

Assim sendo, a adaptação à paternidade, da mesma forma que a adaptação à maternidade, é um processo complexo que implica uma série de transformações. 

Mas quando se fala do nascimento de um bebé prematuro, a complexidade das tarefas e exigências aumentam, manifestando o Pai as mesmas dificuldades, incertezas, medos, frustração e impotência que as Mães.

A permanência do bebé nas unidades pode implicar períodos prolongados e o esforço para estar sempre perto obriga os Pais a reorganizarem a sua vida e a estabelecer novas rotinas. A presença do Pai é importante, na medida em que ajuda a criar vínculos, proporciona um maior apoio e segurança para a Mãe e a longo prazo permite uma maior segurança para participar nos cuidados diários com o bebé, após a alta hospitalar. 

O Pai, no período inicial do puerpério, é aquele que estabelece o elo com a equipa. É o primeiro a ir conhecer o bebé e é o responsável por receber as informações sobre o estado de saúde deste e a transmiti-las à Mãe e Família. Dirige a sua atenção para o apoio e auxílio à mulher e preocupa-se com os sentimentos e fragilidade desta. Funciona de um modo geral como mediador, como aquele que apoia e conforta e que estabelece pontes de comunicação com a restante Família. Como é próprio da cultura masculina, posiciona-se como "forte" e assume o controlo da situação.


Mas... está triste, assustado, em choque com o que aconteceu e a tentar processar emocionalmente o melhor que consegue. Sente-se perdido, vive com medo de que alguma coisa possa acontecer. Alguns têm medo de tocar no bebé e depositam a confiança no ambiente tecnológico. É o que mais fala com os técnicos e na maior parte das vezes está mais centrado na mãe do que no bebé. Quase não tem espaço para os seus próprios sentimentos e emoções. 

Os profissionais que trabalham nas unidades têm aqui um papel muito importante na forma como contactam e comunicam com os Pais homens. A inclusão do Pai na atenção e cuidados ao bebé deve ser feita o mais precocemente possível. Quanto mais cedo o Pai for incluído (exemplo: promover o toque, incentivar o desejo de cuidar, ...), maior a possibilidade de se estabelecerem vínculos afetivos fortes e acontecer o desenvolvimento de cuidados para com o bebé. Longe do modelo tradicional de cuidados, em que as Mães eram consideradas as interlocutoras principais nestes ambientes, o Pai deve ser incluído nos cuidados ao bebé de modo a facilitar a construção de uma paternidade mais envolvida e participativa.

O papel do homem está a mudar e insere-se numa nova realidade cultural onde os homens se envolvem ativamente, juntamente com as mulheres, nos cuidados aos filhos. No contexto da prematuridade, é fundamental que os profissionais se sensibilizem com esta mudança e facilitem o seu envolvimento e participação o mais precocemente possível. 

Reconhece-se ainda o esforço acrescido dos Pais homens, após o nascimento prematuro dos bebés. A necessidade de proteger e de apoiar a Mãe durante o internamento do bebé, ao assumirem o controlo da situação, retira-lhes espaço para expressarem os seus sentimentos e emoções. Por outro lado, tentar comunicar com o/a parceiro/a nem sempre é fácil quando ambos estão fragilizados. Embora sintam da mesma maneira, homens e mulheres expressam-se de formas diferentes, o que pode levar a dificuldades de comunicação. É, pois, importante disponibilizar um espaço de apoio psicológico individual ou para o casal. 


Em suma, a adaptação à paternidade é complexa, implica mudanças e transformações que se intensificam quando um bebé nasce prematuro. Para o Pai (prematuro) a "avalanche" de sentimentos e emoções (semelhantes às da Mãe) coexistem com a necessidade de funcionar como figura de suporte e ampara para a Mãe. 


Lília Brito