Orientações para pais com crianças com uma Perturbação do Espetro do Autismo
quarta-feira, 30 de outubro de 2019
"Sofia, quando saí do consultório, o meu corpo estava ali com o meu filho e o meu marido, mas a minha mente estava a mil, querendo fugir dali..."
Este testemunho é exemplo do que eu vivo com os "meus" pais. Ao longo dos últimos anos, tenho acompanhado famílias que recebem o diagnóstico de Perturbação do Espetro do Autismo. Tento estar ao lado deles desde o início, daí conseguir compilar algumas estratégias e orientações que nos ajudaram a desenvolver um trabalho em conjunto.
Passo a mencionar oito passos que não devem ser aplicados sem a consulta ou aprovação do técnico que vos acompanha:
- Encontre rapidamente uma fonte segura de informação
No consultório, muitas vezes, acenam a cabeça como se concordassem com o que o médico está a dizer, mas mal entram no carro, as dúvidas começam a surgir. "Não terá sido algo que fiz na gravidez? Como vai ser o desenvolvimento? Vai falar? Mas o que é mesmo esta perturbação?"
A forma mais rápida de obter respostas: internet!
Estaria a ser rígida convosco se dissesse para não o fazerem. Entendo a ansiedade de querer satisfazer as vossas dúvidas. No entanto, o conhecimento é poder quando é bem fundamentado e filtrado.
Por isso, procurem sempre sites com credenciais fidedignas e intervenções que sejam "evidence-based", ou deja, intervenções que já foram estudadas e exploradas em diversos ambientes e culturas - isso fará com que a vossa pesquisa reduza de 2500 tratamentos, para 100 possíveis tratamentos para o autismo.
Qualquer dúvida, novidades ou notícias sobre um tema exponham ao vosso técnico. Ele terá de averiguar se a fonte é segura e se existem artigos científicos que apoiem essa matéria. Por favor, nunca tenham vergonha de fazer perguntas.
- Rodeiem-se de profissionais especializados
Abordo este tema porque, por vezes, o médico sugere uma equipa ou um técnico com quem trabalha regularmente. Quando conseguem alguém que trabalhe com o vosso filho, tentem perceber se ele irá ajudar, respondendo às vossas perguntas ou receios.
Por vezes, o profissional recomendado pode ser tecnicamente muito bom, mas a nível de relação interpessoal parece não ter havido um "click". Nunca se sentirão confortáveis com ele. Por isso, peçam ao vosso médico mais contactos ou procurem alguém com quem possam trabalhar e manter uma relação estável.
- Valorizem o vosso papel na dinâmica terapêutica
Devido a ser uma intervenção precoce, estamos a atuar num cérebro que ainda está em desenvolvimento, sendo comum falarmos de neuroplasticidade - a capacidade do cérebro de se moldar e adquirir novos comportamentos e competências, abrindo assim uma janela para novos começos.
Nós precisamos da vossa ajuda - sim, é fundamental! - por isso, peçam aos vossos técnicos que vos ensinem o básico. Mesmo que não façam na perfeição, não se preocupem, estão a dar o vosso melhor!
- Aproveitem todas as oportunidades
Escrevam numa folha as vossas rotinas e as brincadeiras preferidas do vosso pequenote. Irá ajudar a terem uma visão geral das atividades do vosso dia-a-dia (refeições, banhos, brincadeiras a sós, escola, ama ou jardim de infância.
Ao analisarem o vosso dia, tentem perceber quando o vosso filho está mais desperto e atento ou mais cansado. Assim, distribuam o tempo a sós pelo dia. Por exemplo, em de brincarem uma hora inteira com ele (pode ser frustrante para todos), podem dividir em períodos de minutos: podendo ser no banho, nas refeições, mudar a fralda ou com brinquedos.
- Removam os "distratores" (brinquedos, tablets e televisões)
Nestes momentos em que estão frente a frente e sozinhos, controlem o ambiente que vos rodeia. Quantos mais distratores tiverem à vossa volta, mais difícil será captar a atenção do vosso filho. Assim, terão mais oportunidades de criar contacto visual e pedidos.
- Comecem com pequenos jogos
Podem experimentar, por exemplo, imitar as ações ou as brincadeiras dos vossos filhos.
Enquanto brincam, tentem recriar o que ele está a fazer, isso provavelmente suscitará a atenção dele. Ou, por exemplo, criem brincadeiras que possam envolver. Algumas sugestões: colocar uma manta no chão e puxar como se fosse um comboio; bolinhas de sabão; bolinhas saltitonas; creme de barbear num tabuleiro; plasticina; puzzles ou brinquedos sensoriais.
Dêem sempre a primeira viagem grátis, ou seja, explorem um bocadinho a brincadeira. Se ele estiver a gostar, parem e esperem que ele olhe e venha ter convosco. Assim que isso acontecer, continuem a brincar. Façam sempre tudo com entusiasmo, festejando cada pequena conquista. Quando conseguem a atenção dos vossos filhotes e percebem que conseguiram interagir digam mesmo "Uaaaauuuu!! Que lindo!"
- Comportamentos negativos e estereotipias
Infelizmente para estes campos, cada criança é única. Terão de analisar com o vosso terapeuta o que fazer. Ou seja, cada um de nós comporta-se de maneira diferente face à mesma situação, por isso, é preciso ser estudado e analisado em cada criança. Entender o porquê, onde, quando e o que é que aconteceu para este comportamento estar a acontecer. Após essa análise, perceber se é funcional e se há alguma estratégia a aplicar.
- Por último, tomem conta de vós
Eu sei! Não é fácil! Têm imenso com que lidar, mas ajudem-se a vós próprios. Quando não estão bem, todos à vossa volta sofrem. Pensem: um dia de cada vez. Haverá dias difíceis e dias maravilhosos. Valorizem todos os momentos.
Sofia Rocha-Bernardino
Sofia Rocha-Bernardino
segunda-feira, 28 de outubro de 2019
Licenciada em Reabilitação Psicomotora, pela Universidade Técnica de Lisboa - Faculdade de Motricidade Humana.
Conta ainda com as seguintes formações:
- Pós-graduação em Síndrome de Asperger, pela Sheffield Hallam University;
- Mestrado em Perturbações do Espetro do Autismo, pela Sheffield Hallam University.
É "SPELL Trainer" - Formadora do método "SPELL" National Autistic Society. Intervenção Especializada e Individualizada com Perturbações Genéticas e do Desenvolvimento Global.
É implementadora certificada no método "PECS", pelo que faz treino de competências relacionais e de autonomia.
Certificada em estratégias do pré-escolar nas Perturbações do Espetro do Autismo - TEACCH.
Faz intervenção psicomotora em crianças com dificuldades de comunicação e relação e do espetro do autirmo, dos 3 aos 12 anos.
É instrutora certificada para cursos de massagem para bebés e pais (0 aos 12 meses)
Hábitos alimentares das crianças portuguesas
sexta-feira, 25 de outubro de 2019
Nos primeiros anos de vida, mais do que em qualquer outra fase, uma alimentação adequada é crucial para assegurar um bom crescimento e desenvolvimento que se refletirá na saúde futura.
Se por um lado, os défices nutricionais podem resultar num comprometimento do desenvolvimento físico e mesmo cognitivo (como é o caso do iodo), o excesso de determinados nutrientes é igualmente prejudicial.
Sabemos que o açúcar, sal e gordura estão presentes em quantidades excessivas na alimentação das nossas crianças. 17% destas ingere diariamente bebidas açucaradas (particularmente néctares e refrigerantes sem gás), 10% consome diariamente sobremesas doces e 73% come semanalmente (1 a 4 vezes por semana) snacks salgados (pizza, hambúrguer, batatas fritas ou outros snacks de pacote). Estes hábitos aumentam em muito o risco de excesso de peso e de comorbilidades futuras como a diabetes, dislipidémia e doença cardiovascular.
Para além de ser imperativo limitar estes alimentos e bebidas de forma a melhorar a saúde das gerações mais novas, também o excesso de proteína deve ser tido em atenção nas crianças.
Segundo dados recentes da Direção-Geral da Saúde, apresentados no manual "Alimentação Saudável dos 0 aos 6 anos - Linhas de Orientação para Profissionais e Educadores", as crianças portuguesas consomem 4 vezes mais proteína do que aquilo que são as suas necessidades.
Embora seja um nutriente crucial, envolvido no crescimento, manutenção de tecidos, produção de hormonas e enzimas, o seu excesso contribui para um ganho de peso excessivo.
Os laticínios e a carne, oferecida muitas vezes em quantidades semelhantes às de um adulto, são os que mais contribuem (com 60%) para o aporte excessivo de proteína.
Se pensarmos no caso do ovo, por exemplo, que é um alimento nutricionalmente rico, na grande maioria das vezes não é considerado como um suficiente fornecedor proteico numa refeição principal, sendo frequentemente associado à carne ou peixe.
O ovo apresenta uma proteína de alto valor biológico, isto é, que fornece todos os aminoácidos essenciais (à semelhança da proteína da carne, peixe e produtos lácteos), cuja quantidade é suficiente para incluir de forma isolada (sem carne, nem peixe, mas sempre em associação com os hortícolas, arroz/ massa/ batata ou outro fornecedor de hidratos de carbono e fruta como sobremesa), numa refeição como o almoço e o jantar. Para além disso, o ovo é uma ótima fonte de vitamina B2, B6 e A, assim como de fósforo, ferro e colina, um nutriente essencial ao desenvolvimento cerebral.
Apesar disto, muitas vezes, quando o ovo surge numa ementa escolar sem associação com carne e peixe, é frequente haver a ideia, muitas vezes por parte dos pais, de que a refeição não será suficientemente completa para a criança. Não só o é, como permite uma maior variedade na sua alimentação, bem como uma redução do consumo de carne ou peixe.
Opções como o ovo escalfado, mexido, cozido ou em omelete são excelentes para as refeições de miúdos e graúdos. Um ovo deverá ter cerca de 55g, que corresponde a um tamanho M (≥ 53g e < 63g).
Quanto à carne ou peixe, 2 porções de 25g diárias (já cozinhada(o), sem ossos/ espinhas ou gorduras/ peles) deve ser o máximo ingerido por uma criança até aos 6 anos.
Os laticínios são também importantes alimentos que fornecem proteína de elevada qualidade, bem como minerais, cálcio, fósforo e iodo, embora a sua quantidade deva ser também limitada como qualquer outro alimento ou bebida.
É recomendável o consumo de 3 a 4 porções diárias - 1 porção corresponde a 1/2 chávena almoçadeira de leite (125mL) ou 1 iogurte sólido (125g) ou 1 fatia fina de queijo (20g). Desta forma, o volume diário máximo de laticínios a consumir deve ser de 400 a 500mL.
Como forma de conclusão, é importante ressalvar que o facto de uma criança comer muito bem (em quantidade), não é sinónimo de qualidade. Deve sim ter uma alimentação completa, variada e equilibrada, onde o valor nutricional dos alimentos deve prevalecer.
As boas escolhas alimentares devem começar desde cedo. É na infância que se começam a modular bons hábitos que prevalecerão na vida adulta e crianças com uma alimentação adequada são certamente crianças mais saudáveis e mais felizes!
Maria Inês Cardoso
Osteopatia e tratamento do torcicolo do bebé
quarta-feira, 23 de outubro de 2019
O torcicolo corresponde a um espasmo muscular mais ou menos importante de um músculo: o esterno-cleido-occipito-mastoide (ECOM). A contração desse músculo provoca uma má posição da cabeça do bebé.
Existem dois tipos de torcicolo:
- Torcicolo muscular congénito: devido a um espasmo do músculo esterno-cleido-occipito-mastoide que vai limitar a amplitude do movimento. Existe desde o nascimento ou nas primeiras semanas de vida. A cabeça do bebé está inclinada para o lado do músculo tenso. Pode observar uma pequena massa fibrosa no músculo com espasmo.
- Torcicolo congénito: menos frequente, a má posição da cabeça está associada à malformação de nascimento.
Quais são as causas dos torcicolos?
Causas dos torcicolos musculares congénitos:
- a posição do bebé dentro da barriga da mãe (aumento nos casos de gravidez gemelar, de um bebé em posição sentado ou falta de líquido amniótico);
- depois de um parto difícil (parto de longa duração, cordão enrolado ao pescoço ou uso de instrumentos no parto).
Causas dos torcicolos congénitos:
- um desequilíbrio dos músculos do pescoço devido à ausência congénita unilateral do ECOM;
- uma má formação óssea a nível do pescoço;
- uma anomalia do sistema nervoso, devido a um tumor ou má formação nervosa.
Quais são as consequências?
75% dos casos, na ausência de tratamento, o torcicolo desaparece antes dos 8 meses, mas é importante saber que 25% dos bebés precisam de tratamentos. Os distúrbios podem resolver-se sozinhos passado algum tempo, mas pode causar alguns desequilíbrios. Como por exemplo:
- assimetria facial;
- deformação do crânio (plagiocefalia): o bebé estará sempre com o pescoço virado para o mesmo lado, pelo que o apoio prolongado cria a deformação;
- deformação da coluna cervical;
- distúrbios da visão.
Porque é que a Osteopatia pode ajudar?
Quando o corpo do bebé está sujeito a tensões ao nível do pescoço, todo o corpo vai adaptar-se.
A bacia pode inclinar-se para o mesmo lado que a cabeça, de forma a diminuir as tensões musculares do pescoço.
Com um tratamento suave, o osteopata liberta as tensões a nível do pescoço, o que vai restabelecer uma boa rotação e inclinação para ambos os lados. Igualmente, ele trata todas as tensões que apareceram com esta situação.
Um trabalho pluridisciplinar com um fisioterapeuta será importante para a recuperação total do bebé.
Alguns conselhos:
- quando estiver a dar biberão, alterne o lado (braço direito, braço esquerdo), para evitar que o bebé tenha sempre a cabeça virada para o mesmo lado;
- coloque os brinquedos, luz (...) do lado para o qual o bebé não roda a cabeça;
- verifique o alinhamento da cabeça, tronco e bacia quando senta o seu bebé no "ovinho";
- sempre com vigilância, utilize a posição de lado ou de barriga para baixo, quando o bebé estiver acordado.
Elodie Coget
Otite externa
quarta-feira, 16 de outubro de 2019
O ouvido é constituído por três partes: Ouvido Externo, Ouvido Médio e Ouvido Interno.
O Ouvido Externo inclui o Pavilhão Auricular e o Canal Auditivo Externo (CAE).
Este último é um tubo composto por cartilagem no seu terço externo e por osso nos dois terços internos. Encontra-se revestido internamente por pele:
- que contém glândulas sudoríparas modificadas que produzem cera, lubrificam e protegem a pele e diminuem o seu pH - dificultando o crescimento de bactérias;
- que realiza uma descamação centrífiga, isto é, a camada superficial que vai esfoliando migra continuamente para o exterior, em direção à abertura do CAE.
O que é uma Otite Externa?
É um processo infecioso do Ouvido Externo podendo afetar quer a porção cartilaginosa do pavilhão, quer a pele do CAE. Menos frequente que a Otite do Ouvido Médio, afeta anualmente 1 em cada 200 indivíduos e é causada, em 98% dos casos, por bactérias (podendo ser ainda de causa fúngica ou, raramente, viral).
O que provoca uma Otite Externa?
É uma infeção frequentemente relacionada com a manipulação da pele do CAE com cotonetes, ganchos ou outros instrumentos utilizados para este fim e que provocam a compactação da cera e lesões na pele do canal. Da mesma forma, a presença de elementos agressivos como o gel de banho, o champô ou o sabonete podem causar o mesmo efeito.
Aparece ainda associada à frequência de piscinas, principalmente no verão - época em que a qualidade da água se apresenta, muitas vezes, duvidosa: seja pelo elevado número de banhistas, deficientes hábitos de higiene (não utilização de duches, por exemplo) ou pelas elevadas temperaturas.
Nas crianças, a introdução de corpos estranhos não detetados nas primeiras 48-72h, dependendo do seu tipo de traumatismo por si provocado, pode igualmente constituir uma causa para a inflamação ou infeção do CAE.
Quais os sintomas?
- início rápido (menos de 48h);
- otalgia - dor no ouvido - (prurido - comichão/ plenitude aural - sensação de ouvido tapado) muito intensa, espontânea e que se agrava quando se faz pressão local ou se mobiliza o pavilhão auricular;
- evidência de inflamação (eritema, vermelhidão ou edema do conduto);
- secreção mais ou menos pastosa, de odor desagradável;
- diminuição da acuidade auditiva se o CAE inflamar.
- Sendo uma infeção local, da pele e tecidos adjacentes, habitualmente não é acompanhada de febre, exceto nas formas mais graves.
- Se não for tratada, o inchaço pode aumentar e produzir dor suficiente para que o movimento da mandíbula se torne desconfortável.
- esta infeção é particularmente perigosa nos diabéticos.
Como se faz o diagnóstico?
Os médicos baseiam o seu diagnóstico nos sintomas do paciente e na observação clínica:
- otoscopia para verificar a existência de vermelhidão, edema e pus;
- se a infeção for causada por fungos também pode ser diagnosticada através de exame ou cultura (de uma amostra do pus e/ ou detritos).
Qual o tratamento?
A maioria dos casos resolve-se espontaneamente em poucos dias. Pode, contudo, ser necessária:
- remoção de resíduos;
- aplicação de gotas otológicas, com antibióticos e/ ou antifúngicos;
- administração de analgésicos sistémicos;
- manter o ouvido seco durante todo o tratamento.
Importante relembrar, contudo, que a educação para a prevenção é essencial para evitar as Otites Externas!
Inês Martins
Gravidez e parentalidade no Masculino
quarta-feira, 9 de outubro de 2019
Introdução:
Ao falarmos sobre gravidez e parentalidade no masculino, consideramos que estão envolvidas variáveis de ordem cultural, social e psicológicas bem como que, também para os homens, há uma série de exigências às quais terão que se ajustar.
A forma como cada homem vai vivenciar a gravidez e a paternidade depende, portanto, de vários aspectos aos quais não são alheios também a oportunidade da gravidez e a qualidade da relação conjugal.
Não podemos esquecer que para lidar com todos os momentos exigentes da vida é fundamental a forma como se estruturou a personalidade. É daqui que surge a base mais ou menos estruturada para se lidar com as transformações, os conflitos e ambivalências inerentes à gravidez e à parentalidade nos homens e nas mulheres.
É importante que tenha havido uma infância suficientemente satisfatória que permita confiar, estabelecer compromissos e ter uma boa capacidade de contenção. É fundamental saber gerir invejas e raivas, bem como, especificamente para o homem, é importante ainda ter esclarecidas as questões de masculinidade, lidar ajustadamente com os aspetos femininos e masculinos da sua personalidade e ter em conta a qualidade da relação com o próprio pai (J.R. Leff 1991, 2001).
Portanto, o que sabemos é que durante a gravidez, também o homem:
É importante que tenha havido uma infância suficientemente satisfatória que permita confiar, estabelecer compromissos e ter uma boa capacidade de contenção. É fundamental saber gerir invejas e raivas, bem como, especificamente para o homem, é importante ainda ter esclarecidas as questões de masculinidade, lidar ajustadamente com os aspetos femininos e masculinos da sua personalidade e ter em conta a qualidade da relação com o próprio pai (J.R. Leff 1991, 2001).
Portanto, o que sabemos é que durante a gravidez, também o homem:
- reavalia o seu passado como criança;
- reavalia o ter sido filho dos seus pais;
- põe em causa a sua capacidade de ser pai;
- vive um turbilhão de emoções;
- vive a expetativa de novas situações.
Diferentes tipos de pai:
Concordamos com Leff (2001) que considera poder falar-se de três tipos de pai, de acordo com a forma como vivem a experiência da paternidade:
- Pai participante: É aquele que apresenta uma identidade de género flexível e segura, permitindo-se dar espaço aos seus núcleos femininos/ maternos, sem se sentir ameaçado na sua masculinidade/ paternidade. Assim, participa na gravidez e nos cuidados ao bebé de forma espontânea e tranquila.
- Pai renunciador: Este será o pai que intensifica os atributos masculinos, a identificação com o pai e o poder paternal enquanto reforçadores da sua virilidade, tendo alguma dificuldade em lidar com as suas zonas mais femininas, relacionadas com o materno. Este pai, terá alguma dificuldade na empatia com a experiência interior da mulher grávida/ mãe, sendo o seu orgulha na gravidez o que se relaciona com a confirmação da sua virilidade. Claramente considera que a gravidez e cuidados relacionados são assunto de mulheres.
- Pai recíproco: Este pai tem uma vivência intermédia. Oscila entre as caraterísticas dos dois grupos anteriores. Apresenta sentimentos mistos sobre a gravidez, parto e cuidados ao bebé; sente a diferença biológica em relação à mulher e assume essa diferença. Este pai vivenciará a paternidade com ambivalência e reflexão e irá integrá-la de acordo com o modo como for gerindo a sua experiência e também de acordo com o modo como a mulher o for executando.
Atualmente, os homens podem vivenciar a experiência de paternidade a dois níveis: um relativo à relação com o contexto físico e psicológico da mulher grávida e o outro referente à sua própria experiência de homem expetante para o qual contribuem o momento sociocultural atual, a sua história pessoal, as suas caraterísticas de personalidade, a sua relação com a mulher e os seu desejo de ser pai.
É certo que podem experimentar uma elaboração de paternidade que lhes permite estar em contacto com a parte feminina e materna da sua personalidade (Leff, 2001; Clereget, 1980), bem como reconhecerem-se como sensíveis e afetuosos sem que isso ponha em causa a sua masculinidade e ainda viver o processo enquadrados no atual momento social e cultural que lhes dá espaço para expressão de emoções e expetativas (Correia, 2004).
Homem grávido:
Esta expressão obviamente que é usada há pouco tempo e surge quando queremos referir-nos a um homem que vive a gravidez com um compromisso emocional e psicológico marcado e com alguma identificação à mulher grávida.
Alguns autores consideram mesmo que estes homens vivem a gravidez num processo de fases de desenvolvimento psicológico, tal como na mulher.
Habitualmente, nestes casos, vivem a gravidez observando o corpo da mulher em transformação, sentindo como agradável a realidade de tocar na barriga e sentir o feto a mexer, participando nas consultas de gravidez e na preparação para o parto, aproveitando a ecografia para visualizar o feto e sentir novas emoções, vivenciando um imaginário de expetante e futuro pai, projetando no casal os projetos de parentalidade, participando e colaborando no trabalho de parto e partilhando os cuidados ao filho.
Concluindo:
Estamos longe do tempo em que o homem/ pai aparecia unicamente como uma figura de autoridade, a responsável pelas gestões económica, dos bens, do mundo exterior da criança e da família enquanto à mulher/ mãe cabiam os cuidados domésticos, os cuidados afetivos e emocionais da criança.
As transformações económica, social e cultural iniciadas no século passado levaram a que, homens e mulheres, se percebessem mais semelhantes e se permitissem uma gestão da vida doméstica, profissional e consequentemente da parentalidade mais igualitária e partilhada, independentemente do género.
Assim, no nosso tempo, é possível que homem e mulher possam partilhar o cuidado do bebé (já "in utero"); Badinter (1993) fala-nos de uma Revolução Parental a partir da qual homem e mulher podem vivenciar e repartir a parentalidade de uma forma semelhante, de acordo com as suas caraterísticas/ escolhas/ desejos.
Maria de Jesus Correia
A importância da psicomotricidade na infância (pré-escolar)
quarta-feira, 2 de outubro de 2019
A psicomotricidade visa contribuir para o desenvolvimento integral da criança, tendo em vista o aspeto cognitivo, emocional e físico, no qual as atividades da psicomotricidade possam ser trabalhadas no contexto escolar, de forma a auxiliar no processo de aprendizagem ou em contexto terapêutico, de modo a diminuir lacunas ou dificuldades.
A primeira infância (0 - 6 anos) é considerada como um período crítico da aprendizagem. É nesta altura que se desenvolvem as principais aquisições a um ritmo elevado. Assim sendo, e considerando que a psicomotricidade intervém de forma preventiva, o seu papel nesta faixa etária será predominantemente uma intervenção nos fatores psicomotores, capacitando a criança de estratégias e habilidades a nível motor, cognitivo e emocional, observando o normal desenvolvimento infantil.
Nesta faixa etária, o desenvolvimento, embora esteja de certa forma "programado", está muito dependente das oportunidades a que a criança seja exposta. As crianças têm a necessidade de descobrir, explorar, conhecer e vivenciar através do seu corpo, para aprender. A educação psicomotora condiciona as aprendizagens pré-escolares da seguinte forma:
- potencializa a equilibração, noção corporal e espácio-temporal;
- promove a socialização, interajuda e a gestão de regras;
- desenvolve funções como a memória, atenção, linguagem;
- entre outras...
Através da promoção destas aprendizagens poderão ser observadas, nas crianças, alguns destes resultados:
- melhoria da postura;
- caligrafia mais legível e orientada;
- maior destreza e coordenação;
- melhor capacidade de socialização...
A psicomotricidade, e como já explicado no artigo anterior, permite através de algo tão simples e prazeroso que é o brincar, desenvolver as habilidades para a vida.
Se tem dúvidas sobre o desenvolvimento psicomotor do seu filho, procure o técnico capacitado para o ajudar... o PSICOMOTRICISTA.
Fátima Sousa
(instagram: @psicomotricista.fs)
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