Introdução:

Ao falarmos sobre gravidez e parentalidade no masculino, consideramos que estão envolvidas variáveis de ordem cultural, social e psicológicas bem como que, também para os homens, há uma série de exigências às quais terão que se ajustar. 

A forma como cada homem vai vivenciar a gravidez e a paternidade depende, portanto, de vários aspectos aos quais não são alheios também a oportunidade da gravidez e a qualidade da relação conjugal. 


Não podemos esquecer que para lidar com todos os momentos exigentes da vida é fundamental a forma como se estruturou a personalidade. É daqui que surge a base mais ou menos estruturada para se lidar com as transformações, os conflitos e ambivalências inerentes à gravidez e à parentalidade nos homens e nas mulheres.

É importante que tenha havido uma infância suficientemente satisfatória que permita confiar, estabelecer compromissos e ter uma boa capacidade de contenção. É fundamental saber gerir invejas e raivas, bem como, especificamente para o homem, é importante ainda ter esclarecidas as questões de masculinidade, lidar ajustadamente com os aspetos femininos e masculinos da sua personalidade e ter em conta a qualidade da relação com o próprio pai (J.R. Leff 1991, 2001).

Portanto, o que sabemos é que durante a gravidez, também o homem:

  • reavalia o seu passado como criança;
  • reavalia o ter sido filho dos seus pais;
  • põe em causa a sua capacidade de ser pai;
  • vive um turbilhão de emoções;
  • vive a expetativa de novas situações.


Diferentes tipos de pai:

Concordamos com Leff (2001) que considera poder falar-se de três tipos de pai, de acordo com a forma como vivem a experiência da paternidade: 
  • Pai participante: É aquele que apresenta uma identidade de género flexível e segura, permitindo-se dar espaço aos seus núcleos femininos/ maternos, sem se sentir ameaçado na sua masculinidade/ paternidade. Assim, participa na gravidez e nos cuidados ao bebé de forma espontânea e tranquila. 
  • Pai renunciador: Este será o pai que intensifica os atributos masculinos, a identificação com o pai e o poder paternal enquanto reforçadores da sua virilidade, tendo alguma dificuldade em lidar com as suas zonas mais femininas, relacionadas com o materno. Este pai, terá alguma dificuldade na empatia com a experiência interior da mulher grávida/ mãe, sendo o seu orgulha na gravidez o que se relaciona com a confirmação da sua virilidade. Claramente considera que a gravidez e cuidados relacionados são assunto de mulheres. 
  • Pai recíproco: Este pai tem uma vivência intermédia. Oscila entre as caraterísticas dos dois grupos anteriores. Apresenta sentimentos mistos sobre a gravidez, parto e cuidados ao bebé; sente a diferença biológica em relação à mulher e assume essa diferença. Este pai vivenciará a paternidade com ambivalência e reflexão e irá integrá-la de acordo com o modo como for gerindo a sua experiência e também de acordo com o modo como a mulher o for executando. 
Atualmente, os homens podem vivenciar a experiência de paternidade a dois níveis: um relativo à relação com o contexto físico e psicológico da mulher grávida e o outro referente à sua própria experiência de homem expetante para o qual contribuem o momento sociocultural atual, a sua história pessoal, as suas caraterísticas de personalidade, a sua relação com a mulher e os seu desejo de ser pai.  


É certo que podem experimentar uma elaboração de paternidade que lhes permite estar em contacto com a parte feminina e materna da sua personalidade (Leff, 2001; Clereget, 1980), bem como reconhecerem-se como sensíveis e afetuosos sem que isso ponha em causa a sua masculinidade e ainda viver o processo enquadrados no atual momento social e cultural que lhes dá espaço para expressão de emoções e expetativas (Correia, 2004). 


Homem grávido:

Esta expressão obviamente que é usada há pouco tempo e surge quando queremos referir-nos a um homem que vive a gravidez com um compromisso emocional e psicológico marcado e com alguma identificação à mulher grávida. 

Alguns autores consideram mesmo que estes homens vivem a gravidez num processo de fases de desenvolvimento psicológico, tal como na mulher. 

Habitualmente, nestes casos, vivem a gravidez observando o corpo da mulher em transformação, sentindo como agradável a realidade de tocar na barriga e sentir o feto a mexer, participando nas consultas de gravidez e na preparação para o parto, aproveitando a ecografia para visualizar o feto e sentir novas emoções, vivenciando um imaginário de expetante e futuro pai, projetando no casal os projetos de parentalidade, participando e colaborando no trabalho de parto e partilhando os cuidados ao filho. 


Concluindo:

Estamos longe do tempo em que o homem/ pai aparecia unicamente como uma figura de autoridade, a responsável pelas gestões económica, dos bens, do mundo exterior da criança e da família enquanto à mulher/ mãe cabiam os cuidados domésticos, os cuidados afetivos e emocionais da criança. 

As transformações económica, social e cultural iniciadas no século passado levaram a que, homens e mulheres, se percebessem mais semelhantes e se permitissem uma gestão da vida doméstica, profissional e consequentemente da parentalidade mais igualitária e partilhada, independentemente do género. 

Assim, no nosso tempo, é possível que homem e mulher possam partilhar o cuidado do bebé (já "in utero"); Badinter (1993) fala-nos de uma Revolução Parental a partir da qual homem e mulher podem vivenciar e repartir a parentalidade de uma forma semelhante, de acordo com as suas caraterísticas/ escolhas/ desejos. 


Maria de Jesus Correia