Rinite alérgica
quarta-feira, 17 de abril de 2019
A rinite alérgica é uma doença inflamatória crónica do interior do nariz. É provocada pela resposta exagerada do nosso sistema imunitário a partículas microscópicas inofensivas presentes no ar, chamadas alergénios.
Os sintomas mais frequentes de rinite alérgica são os espirros, a comichão e pingo no nariz e a congestão nasal. Muitas vezes o excesso de secreções nasais que escorrem para a garganta também provoca tosse ou incómodo a engolir. A rinite está associada a outras doenças respiratórias como a sinusite, a conjuntivite e a asma alérgicas. Estima-se, por exemplo, que cerca de 40% dos doentes com rinite sofram também de asma.
A rinite é das doenças crónicas mais frequentes das vias aéreas. Em Portugal, pensa-se que entre 16 a 26% da população sofra desta doença. As crianças são um grupo particularmente afetado, uma vez que a rinite interfere com a qualidade do sono e com a concentração escolar.
Em Portugal, os principais alergénios responsáveis pelos sintomas de rinite são os ácaros do pó doméstico e os pólenes.
Os sintomas mais frequentes de rinite alérgica são os espirros, a comichão e pingo no nariz e a congestão nasal. Muitas vezes o excesso de secreções nasais que escorrem para a garganta também provoca tosse ou incómodo a engolir. A rinite está associada a outras doenças respiratórias como a sinusite, a conjuntivite e a asma alérgicas. Estima-se, por exemplo, que cerca de 40% dos doentes com rinite sofram também de asma.
A rinite é das doenças crónicas mais frequentes das vias aéreas. Em Portugal, pensa-se que entre 16 a 26% da população sofra desta doença. As crianças são um grupo particularmente afetado, uma vez que a rinite interfere com a qualidade do sono e com a concentração escolar.
Em Portugal, os principais alergénios responsáveis pelos sintomas de rinite são os ácaros do pó doméstico e os pólenes.
Ácaros
Os ácaros são artrópodes da classe dos Aracnídeos, tal como as aranhas e os escorpiões. Existem ácaros em todos os continentes e a sua presença depende sobretudo da humidade e da temperatura da região. Entre as principais espécies de ácaros estudadas pelo seu potencial alergénico destacam-se os Dermatophagoides e os Lepidoglyphus.
Vivem sobretudo no pó doméstico, uma vez que, por um lado, este contém queratina (proveniente de células mortas da pele humana), que lhes fornece uma fonte de alimento e, por outro, as habitações apresentam geralmente uma temperatura estável e uma humidade relativa elevada.
Encontram-se principalmente em locais onde existe maior contacto com a nossa pele, como colchões, almofadas, cobertores e sofás e em objetos que acumulam pó com facilidade, como livros, peluches, alcatifas e cortinados.
Os sintomas dos doentes alérgicos estão relacionados com a quantidade de ácaros presentes. Devido aos maiores níveis de humidade no ar, os seus números aumentam durante o outono e inverno e, por isso, este é normalmente o período onde ocorrem sintomas mais intensos. Ainda assim, podem existir em número suficiente para provocar sintomas na primavera e até no verão.
É impossível eliminar completamente os ácaros das nossas casas. A estratégia mais eficaz passa por tentar criar condições pouco favoráveis para a sua presença e por manter hábitos regulares de limpeza, para que o seu número possa ser controlado.
Devido ao tempo que é passado no quarto de dormir, esta é normalmente a divisão da casa mais importante para intervir. Devem ser evitados tapetes grossos, alcatifas e cortinados pesados. O chão, o colchão e as almofadas devem ser aspirados regularmente, idealmente com um aspirador com filtro HEPA (High Efficiency Particulate Air). Existem aspiradores pouco dispendiosos equipados com este filtro, tanto com saco de pó tradicional ou com filtro de água. É também recomendado optar por um colchão anti-ácaros e, se possível, envolver as almofadas e o edredão em coberturas impermeáveis e laváveis. Os lençóis de flanela, cobertores de lã e edredões de penas normalmente acumulam mais ácaros que o linho ou algodão. Para a sua lavagem é conveniente utilizar um programa quente (>55ºC) para eliminar eficazmente os ácaros. Convém recordar que aparelhagens de música, TVs, computadores, consolas de jogos, livros, decorações, brinquedos e especialmente peluches acumulam facilmente pó. Caso existam peluches que não possam ser lavados a altas temperaturas, os ácaros podem ser eliminados deixando-os 24h num saco, no congelador.
Pólenes
Os pólenes são um conjunto de grãos minúsculos, geralmente invisíveís a olho nu, produzidos por plantas com o objetivo de fertilizar à distância.
Nem todos os pólenes provocam alergias. Os pólenes habitualmente responsáveis por sintomas de alergia pertencem às espécies das gramíneas, ervas daninhas e árvores que polinizam utilizando o vento (anemofilia), em vez de dependerem do seu transporte por insetos (entomofilia), Os pólenes anemófilos são mais numerosos, mais leves, o que facilita o seu transporte pelo vento, e mais pequenos, pelo que conseguem entrar no nosso aparelho respiratório mais facilmente. Os pólenes entomófilos de flores coloridas, como as rosas e orquídeas, o pólen visível a olho nu, como o do pinheiro, e elementos vegetais como o "algodão do choupo" são demasiado grandes e pesados para entrar nas vias aéreas e provocam sintomas alérgicos muito raramente.
A concentração de pólenes na atmosfera depende da polinização de cada espécie e das condições geográficas e atmosféricas ao longo do dia e em cada ano.
A quantidade total de pólenes é maior nos dias quentes, com sol e vento e o pico máximo é habitualmente atingido próximo do meio-dia ou início da tarde. A quantidade de pólenes é menor nos dias de chuva, pois os pólenes são arrastados para o chão. Existem menores concentrações no ar no início da manhã e ao final da tarde e noite. Os locais junto ao mar têm níveis de pólen mais baixos que o interior.
Em Portugal, a maioria dos pólenes existem na atmosfera entre março e julho. É possível consultar os níveis de pólenes através do Boletim Polínico disponível online.
Não é possível evitar uma completa exposição aos pólenes no meio exterior, no entanto, algumas medidas permitem alguma proteção e minimização de sintomas. É por isso recomendado, nos períodos de elevada concentração de pólenes, evitar atividade física intensa ao ar livre, especialmente em dias quentes com vento forte. A utilização de óculos pode prevenir sintomas oculares no exterior. Em viagens de carro ou comboio é aconselhado manter as janelas fechadas. No caso de ser utilizada uma motorizada, utilizar capacete integral.
Após chegar a casa, é importante mudar de roupa e sacudir o cabelo ou, idealmente, tomar um banho. Recomenda-se manter as janelas fechadas nos dias com maior concentração polínica e só arejar a casa durante a noite ou nas primeiras horas da manhã. A roupa que fica a secar ao ar livre pode também transportar consigo pólenes para o interior da casa.
Os animais domésticos podem também transportar ácaros ou pólenes no seu pelo (sobretudo para camas, tapetes e sofás). Por esse motivo, poderá justificar-se, em alturas de maior concentração de alergénios, dar banhos mais frequentes e limitar o seu acesso aos quartos.
Estas medidas podem diminuir significativamente a exposição a alergénios e, desta forma, diminuir também os sintomas provocados pela alergia. Em alguns casos, pode ser necessário complementar estas estratégias com medicação anti-alérgica. É reomendado consultar o seu médico de família ou um imunoalergologista para o diagnóstico e tratamento da rinite alérgica.
Pedro Morais Silva
Iodo na gravidez e infância e o desenvolvimento cognitivo
sexta-feira, 12 de abril de 2019
O iodo é um mineral essencial ao longo de todo o ciclo de vida, sendo dos nutrientes com mais impacto ao nível da função cerebral. Pelo seu papel na formação das hormonas tiroideias (conhecidas como triiodotironina e tiroxina ou T3 e T4, respetivamente), é crucial para a função neuronal, sendo que situações de deficiência são compatíveis com alterações da estrutura e função dos neurónios, com consequente prejuízo da função cognitiva.
Durante a gravidez, o feto depende do fornecimento materno de iodo. Se este for insuficiente, a produção de hormonas tiroideias (que se inicia no feto a partir da 20ª semana) vai ser deficitária, podendo comprometer o seu desenvolvimento, nomeadamente o nível da sua capacidade visual e verbal, atenção, memória e desenvolvimento motor. Em situações de défice severo, particularmente no início da gravidez, pode desenvolver-se um quadro de cretinismo, uma patologia que se caracteriza por atraso mental, anormalidades do crescimento e desenvolvimento motor, bem como problemas de fala e audição.
De facto, um estudo realizado em 3631 grávidas revelou que apenas 17% das grávidas estudadas em Portugal Continental tinham valores de iodo urinário (um indicador da ingestão de iodo) adequados, sendo que, nas regiões autónomas da Madeira e Açores, o valor encontrado foi ainda menor, revelando um insuficiente aporte deste mineral.
Pela sua importância, a Direção-Geral da Saúde recomenda a suplementação de iodo, sob a forma de iodeto de potássio (150 a 200 mcg/ dia), a todas as mulheres (salvo contraindicação médica, como em situações de patologia da tiróide), desde o período pré-concecional até ao final da amamentação.
Relativamente à infância, uma vez que o cérebro continua o seu crescimento e desenvolvimento durante esta fase, uma ingestão deficiente deste nutriente, de forma crónica, em idades precoces, pode contribuir para um reduzido Quociente de Inteligência (QI) e dificuldades de aprendizagem.
De facto, um estudo realizado em 3631 grávidas revelou que apenas 17% das grávidas estudadas em Portugal Continental tinham valores de iodo urinário (um indicador da ingestão de iodo) adequados, sendo que, nas regiões autónomas da Madeira e Açores, o valor encontrado foi ainda menor, revelando um insuficiente aporte deste mineral.
Pela sua importância, a Direção-Geral da Saúde recomenda a suplementação de iodo, sob a forma de iodeto de potássio (150 a 200 mcg/ dia), a todas as mulheres (salvo contraindicação médica, como em situações de patologia da tiróide), desde o período pré-concecional até ao final da amamentação.
Relativamente à infância, uma vez que o cérebro continua o seu crescimento e desenvolvimento durante esta fase, uma ingestão deficiente deste nutriente, de forma crónica, em idades precoces, pode contribuir para um reduzido Quociente de Inteligência (QI) e dificuldades de aprendizagem.
Figura 1 - Fontes alimentares de iodo e o seu papel a nível cerebral. Fonte: Iodine consumption and cognitive performance: Confirmation of adequate consumption. Food Science & Nutrition. 2018 |
De que forma é então possível obter um aporte adequado deste nutriente?
Uma vez que o nosso organismo não tem capacidade de sintetizar iodo, é necessário obtê-lo a partir da alimentação. As suas principais fontes alimentares são os peixes de água salgada, o marisco e as algas, sendo que os laticínios como o leite e os iogurtes constituem também boas fontes.
Por outro lado, o consumo de sal iodado surge como uma importante medida para aumentar o aporte deste nutriente, sendo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), bem como pela Direção-Geral de Educação (este último no contexto das cantinas escolares). Contudo, dados do projeto nacional Iogeneration, realizado em escolas do Norte do país (regiões do Tâmega, Grande Porto e Entre Douro e Vouga), revelaram que nenhuma das escolas estudadas tinha adotado esta medida até então e que apenas 2% das famílias utilizava este tipo de sal na confeção das suas refeições. Para além disto, cerca de 59% e 32% das crianças avaliadas, respetivamente, em Lisboa e na região Norte do país, apresentavam concentrações de iodo urinário inferiores às recomendações da OMS, indicando que a sua ingestão fica aquém das necessidades.
Desta forma, apesar do iodo ser um nutriente relativamente pouco abordado, percebemos que assume um papel crucial no desenvolvimento infantil, com importantes repercussões na cognição e que, medidas simples, como a utilização de sal iodado na confeção das refeições podem ser bastante úteis e efetivas para colmatar a carência deste mineral.
Maria Inês Cardoso
Receitas saudáveis para toda a Família
Este mês trazemos uma receita de peixe e uma sobremesa saudáveis. Consultámos, para isso, o Caramelo's Kitchen Blog, do Paleo XXI.
Esperamos que gostem.
Lombos de salmão selvagem crocante
Ingredientes:
- Lombos de salmão selvagem
- Frutos secos a gosto
- Limão (sumo e casca)
- Tomilho q.b.
- Sal e pimenta q.b.
- Azeite q.b.
Modo de preparação:
- Ligar o forno a cerca de 200 - 220ºC.
- Numa tábua de corte, junte os frutos secos, a casca de limão, o tomilho e as especiarias e pique de forma grosseira.
- Junte um fio de azeite a esta mistura até fazer uma liga.
- Pincele os lombos de salmão com azeite e deite umas gotas de limão.
- Coloque os lombos num tabuleiro forrado com papel vegetal e cubra cuidadosamente os lombos com a mistura de frutos secos.
- Leve ao forno até o salmão cozinhar e a cobertura ficar tostada (cerca de 10min). Não deixe o salmão cozinhar demasiado para não ficar seco.
- Acompanhe com puré de legumes ou uma salada.
Gelado de banana
Ingredientes:
- 1 banana congelada às rodelas
- 1 colher de sopa de creme de coco (ou leite de coco ou natas)
Modo de preparação:
- Triture a banana e o creme de coco num processador até atingir uma consistência bem cremosa.
- Servir com um topping que preferir. Pode usar lascas de chocolate negro (mínimo 70% de cacau) e/ ou frutos secos.
Bom apetite!!
o pai, a mãe e eu
Preparar a Parentalidade: Quando e Como?
quarta-feira, 10 de abril de 2019
A preparação para a parentalidade deverá começar antes da chegada de uma gravidez. Idealmente deverá iniciar-se com uma reflexão individual sobre qual o significado pessoal do que é ser mãe e ser pai e qual o significado pessoal do que é ter um filho.
Podem colocar-se questões do tipo: Quero ou não ter filhos? O que é para mim ser mãe/ pai? Porque faz sentido ser mãe/ pai? Será porque a sociedade pressiona? Será porque o meu (minha) companheiro (a) quer? Será só porque sim ou porque é suposto? ...
Alguns dos motivos para se ter filhos podem ser, por exemplo:
- Realização pessoal: sonhar que uma criança complementa o universo familiar;
- Gostar de crianças e querer cuidá-las;
- Religião: o sexo com a função de procriação;
- A visão da Mãe com o amor incondicional: modelo de comportamento admirado e idealizado;
- Medo do futuro; arrependimento, ter alguém que possa ser cuidador;
- Valores morais e éticos: segundo o modelo considerado adequado pela sociedade, a vida só teria sentido quando se cria uma família com filhos;
- Realizar-se por meio dos sucessores: querer dar aos filhos o que não teve ou ganhou dos pais, assim como projetar expetativas e sonhos não realizados numa criança;
- Projeto para a vida: ser bem-sucedido profissionalmente, comprar um apartamento e tornar-se Pai ou Mãe. (Há casais que planeiam todos os detalhes do futuro, incluindo o projeto de ter filhos, ...)
- Simplesmente querer: há pessoas que nunca pensaram na hipótese de viver sem ter filhos e, desde pequenas, sabem que um dia os querem ter. (Necessidade biológica e/ ou psicológica.)
Alguns motivos para não se ter filhos são, por exemplo:
- Simplesmente não querer;
- Querer viver em função de si próprio;
- Não estar disponível para mudanças e novas rotinas;
- Querer atenção exclusiva do (a) companheiro (a): há casais que sentem dificuldade em dividir o amor com outro, mesmo que seja com um filho;
- Querer evitar erros do passado: "Pessoas traumatizadas pela separação conjugal dos pais querem que os possíveis filhos não venham a sofrer desilusões como as que passaram";
- Ter medos físicos da dor associada ao processo;
- Temer não ser um bom Pai ou Mãe;
- Priorizar a carreira;
- Não gostar de crianças e como tal não se imaginar cuidador (a);
- Não querer a perda de liberdade.
Não importa qual a decisão tomada nesta matéria. Não é por aqui que se define a qualidade das pessoas. O importante é que a decisão de ter ou não ter filhos seja em função daquilo que se sente e deseja profundamente. Está é a primeira premissa para a preparação para a parentalidade.
Genericamente podemos considerar a existência de três momentos chave para esta preparação:
1. Antes de uma gravidez: este seria o momento ideal; que a gravidez decorresse de um desejo refletido e amadurecido e que o seu aparecimento permitisse uma continuação coerente e consistente da preparação para se ser Pai/ Mãe.
2. Na gravidez:
- na comunidade do tal desejo/ planeamento prévio ou,
- quando esta não foi planeada naquele momento da vida (preparação por vezes bem mais exigente).
3. Sempre, desde que se têm filhos, porque a cada etapa do seu desenvolviemnto é necessário ajuste e adaptação.
Muitas vezes, quando se pensa na preparação para a chegada de um filho, pensa-se no enxoval do recém-nascido, no quarto, no berço, na roupa e nos outros objetos materiais que precisam estar disponíveis.
Menos vezes se pensa em ser pais preparados para criar e educar uma criança num ambiente emocionalmente gratificante e estável.
É mais importante uma compreensão de si mesmo, uma consciência de si próprio e das suas características, uma consciência do seu equilíbrio emocional... Se vamos criar/ educar uma nova pessoa, devemos saber em que condições nos encontramos, em que fase do nosso processo de formação e desenvolvimento estamos e o que precisamos melhorar.
Não podemos esquecer, NUNCA, que o bem-estar emocional dos pais leva à SAÚDE MENTAL dos filhos.
Preparar a parentalidade antes da gravidez remete-nos para o planeamento familiar (PF).
O PF é o direito que se tem de decidir se se quer ter filhos, quando se quer tê-los e quantos filhos se quer ter (o Estado deve ser responsável por garantir informações de fácil acesso, apoio, educação, métodos contracetivos e consultas médicas à família).
Se a decisão for avançar para a parentalidade, o PF ajuda a refletir e dialogar no casal sobre as responsabilidades de cada um antes, durante e após a chegada do filho.
O planeamento de uma gravidez deverá permitir ao casal ir progressivamente interiorizando e amadurecendo o papel que os espera (refletir e falar abertamente sobre as suas dúvidas, receios e medos - normais), com a noção de que a parentalidade lhes vai exigir disponibilidade e resistência psicológica (e não só económica).
Por vezes, é inexistente um planeamento psicológico da gravidez ajustado (exp.: ocorrência de uma gravidez inesperada e inconsequente, a decisão num período de vida errado, como por exemplo, numa fase de luto). Estamos no terreno das gravidezes em situação de risco psicológico onde pode ser importante uma ajuda psicoterapêutica.
A este propósito diz-nos Eduardo Sá, em 2017: "Importa evitar uma «gravidez na barriga» que se desencontra da «gravidez no pensamento»."
Preparar a parentalidade na gravidez pode acontecer na continuidade do projeto parental prévio, onde o desejo de gravidez decorre amadurecido e refletido como vimos atrás. Mas, se a gravidez não foi planeada (ou foi de forma pouco consistente), o desafio desta preparação é maior e com mais possibilidade de risco psicológico.
Poderão viver-se momentos sensíveis, a partir dos quais se pode desenvolver um trabalho terapêutico no contexto multidisciplinar através de consultas pré-natais, concorrendo para a consolidação dos processos de gravidez e consequente parentalidade.
Caberá aos profissionais estarem atentos à disponibilidade dos pais para a parentalidade, observando igualmente a qualidade da relação do casal e a forma como cada um deles vivencia este processo. Desta atenção decorre, para além da vigilância obstétrica:
- Informar sobre as alterações e fragilidade normais de uma gravidez (na mulher, no homem e no casal);
- Valorizar a comunicação entre eles e com os profissionais disponíveis;
- Facilitar a presença do companheiro, sempre que o casal solicite (em caso de exames e consultas pré-natais).
- Introduzir o bebé - referir (qb) a importância de ambos comunicarem com o bebé in utero (acariciar, conversar, imaginar);
- Incentivar a presença em cursos de preparação para o parto;
- Dinamizar visitas à maternidade;
- Divulgar informação escrita concisa e atraente sobre apoios familiares, aspetos pediátricos, psicológicos, jurídicos... antes do nascimentos obstétrico do bebé;
- Informar sobre as características e exigências do parto e do puerpério (principalmente quando não frequentam os cursos de preparação para o nascimento);
- Alertar para as alterações normais do pós-parto e para os fatores de risco para a depressão pós-parto;
- Alertar para que é comum que o Pai se sinta excluído e inseguro (podendo inclusive desenvolver também ele uma depressão pós-parto);
- Mostrar disponibilidade para esclarecer/ clarificar/ apoiar na nova fase e nos desafios da parentalidade;
- Alertar para que atualmente há muita literatura que pode facilitar o processo, mas também que entre a teoria e a prática há algumas diferenças;
- Tranquilizar relativamente à importância do bom-senso, do processo de aprendizagem e do autoconhecimento que decorre deste mesmo processo.
Importa ainda alertar para o super desafio: conciliar individualidade - conjugalidade - parentalidade.
Gostaria de terminar com algumas frases que ajudam a destruir mitos em torno da parentalidade e alertar para a importância do recurso a equipas de especialistas que podem ajudar, se necessário, a tornar mais prazerosa a preparação e a vivência da parentalidade:
- Nem todas os casais que ficam grávidos planeiam ser Mães/ Pais;
- Nem todos os filhos foram ou são desejados;
- Nem todas as mulheres grávidas se sentem belas e felizes com a sua gravidez;
- Nem todas as mulheres que planeiam uma gravidez se sentem, de facto, grávidas psicologicamente;
- Nem todas as mulheres que estão grávidas passam os nove meses como se fossem os melhores meses das suas vidas (o conhecido "estado de graça");
- Gravidez e Maternidade são duas realidades distintas, cujo desejo nem sempre é coincidente. Pode desejar-se ser Mãe e ter dificuldade em viver a gravidez enquanto processo biológico;
- Nem sempre os casais estão sintonizados no desejo de gravidez/ parentalidade.
Maria de Jesus Correia
A orelha ouve, o cérebro escuta - Processamento Auditivo Central
quarta-feira, 3 de abril de 2019
O que é?
É a capacidade de analisar ou interpretar informações que nos chegam através da audição. Depende do bom funcionamento das áreas auditivas do córtex cerebral e dos "caminhos" que conduzem o som até estas áreas. Podemos dizer que é o que fazemos com o que ouvimos.
O ser humano precisa de um conjunto de habilidades (de processamento auditivo) para ser capaz de comunicar com outros, aprender uma informação nova ou realizar tarefas do dia-a-dia. Essas habilidades incluem a localização sonora, a lateralização, a discriminação auditiva, o reconhecimento de padrões auditivos, a perceção de aspetos temporais e o desempenho auditivo na presença de sinais competitivos ou degradados.
O que é a perturbação do processamento auditivo (PPAC)?
Quando existe comprometimento das habilidades descritas anteriormente, estamos perante uma Perturbação do Processamento Auditivo Central.
A PPAC não é resultado de um défice de atenção, défice linguístico ou de qualquer outro processo cognitivo, mas pode (ou não) gerar dificuldades em outras áreas (linguagem, aprendizagem ou comportamento).
Cerca de 2 a 5% das crianças em idade escolar apresentam PPAC, afetando diretamente o seu desempenho escolar e a sua vida social.
Manifestações comportamentais da PPAC
Linguagem expressiva:
- dificuldade na produção de sons;
- dificuldade em compreender ideias abstratas, piadas ou expressões com duplo sentido;
- dificuldade em perceber os aspetos prosódicos de fala: ritmo e entoação;
- dificuldade em contar histórias ou manter uma sequência lógica, bem como em repassar recados.
Linguagem e escrita:
- troca de letras com sons parecidos;
- inversão de letras;
- disgrafia;
- dificuldade na compreensão da leitura;
- dificuldade em acompanhar o ritmo de um ditado.
Comportamento social:
- distração e desorganização;
- ansiedade e impaciência;
- tendência ao isolamento.
Desempenho escolar:
- dificuldade de memorização (nomes ou números);
- dificuldade com regras de acentuação gráfica;
- dificuldade em línguas estrangeiras ou educação musical;
- dificuldade na interpretação de problemas de matemática.
Audição
- dificuldade em perceber a fala na presença de ruído;
- procura de pistas visuais no rosto do orador;
- dificuldade em seguir regras ou ordens;
- dificuldade em localizar a fonte sonora;
- dificuldade em distinguir direita e esquerda;
- atenção curta para sons em geral.
Importa salientar que estas manifestações não são exclusivas da PPAC e, por isso, deve realizar-se um diagnóstico diferencial.
Causas da PPAC
Ainda que sejam desconhecidas na maior parte dos casos, a literatura descreve:
- intercorrências durante a gestação e o nascimento;
- otites frequentes durante os primeiros anos de vida;
- hereditariedade;
- problemas na maturação do sistema auditivo;
- falta de estimulação auditiva durante a primeira infância;
- infeções pós-natais.
Como diagnosticar as PPAC?
A avaliação do PAC é realizada pelo Audiologista e deverá ser precedida de uma anamnese cuidada, de uma observação em Otorrinolaringologia e em Terapia da Fala, da aplicação de uma escala de funcionamento auditivo (SAB) e de uma avaliação auditiva periférica (Impedancimetria, Audiograma Tonal Simples e Audiograma Vocal).
Só existirá critério para avaliação do PAC se a audição periférica estiver íntegra.
O diagnóstico da PPAC é feito através de testes comportamentais que avaliam o conjunto das habilidades auditivas já referidas. A sua aplicação exige que a criança seja capaz de compreender as tarefas solicitadas, demonstre um nível de linguagem recetiva e expressiva que lhe permita compreender os estímulos verbais e uma atenção e memória auditivas suficientes para executar os exercícios propostos. Dificuldades ao nível do desenvolvimento, cognição e/ ou aprendizagem podem dificultar ou mesmo inviabilizar uma avaliação.
A idade mínima para a avaliação do PAC são os 6 anos. Ainda assim, se existirem suspeitas de alteração do processamento em crianças menores, a escala de funcionamento auditivo ou outros questionários/ checklists existentes poderão ser uma ajuda importante (para médicos, terapeutas da fala, professores, psicólogos ou pais) numa triagem inicial, determinando a pertinência no encaminhamento para a avaliação.
Para além disso, existe ainda o Rastreio do PAC, constituído por 3 testes simples e rápidos, e que pode ser realizado por outros profissionais. Permite avaliar a localização sonora e a memória sequencial verbal e não verbal, integrando também uma excelente ferramenta de despiste quando as crianças não podem realizar o exame completo ou, mais uma vez, para verificar a urgência na realização da avaliação completa.
Não obstante, e como já referido, as manifestações da PPAC podem justapor-se a outras alterações sensoriais ou cognitivas e, por isso, é crucial uma abordagem multidisciplinar de cada caso.
Existe tratamento para o PPAC?
A criança com PPAC beneficiará de um programa de intervenção individualizado, ou treino auditivo, para estimular as habilidades auditivas que estão prejudicadas.
Esta intervenção deverá ser feita pelo Audiologista (treino formal em ambiente acusticamente controlado) e pelo Terapeuta da Fala (treino informal).
Orientações para Pais/ Professores de crianças com PPAC
Na escola:
- posicionar a criança o mais próximo do professor e longe de fontes de ruído (portas, janelas ou ventiladores);
- chamar a atenção da criança antes de falar;
- falar pausadamente, enfatizando palavras-chave;
- dar instruções verbais e escritas para as tarefas a executar.
Em casa:
- sempre que possível, auxiliar a criança nas atividades mais difíceis;
- criar situações diárias de comunicação entre Pais e Filho(a): contar histórias, cantar músicas, descrever as atividades do dia-a-dia.
Inês Martins
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