O que é?

É a capacidade de analisar ou interpretar informações que nos chegam através da audição. Depende do bom funcionamento das áreas auditivas do córtex cerebral e dos "caminhos" que conduzem o som até estas áreas. Podemos dizer que é o que fazemos com o que ouvimos.

O ser humano precisa de um conjunto de habilidades (de processamento auditivo) para ser capaz de comunicar com outros, aprender uma informação nova ou realizar tarefas do dia-a-dia. Essas habilidades incluem a localização sonora, a lateralização, a discriminação auditiva, o reconhecimento de padrões auditivos, a perceção de aspetos temporais e o desempenho auditivo na presença de sinais competitivos ou degradados.


O que é a perturbação do processamento auditivo (PPAC)?

Quando existe comprometimento das habilidades descritas anteriormente, estamos perante uma Perturbação do Processamento Auditivo Central. 

A PPAC não é resultado de um défice de atenção, défice linguístico ou de qualquer outro processo cognitivo, mas pode (ou não) gerar dificuldades em outras áreas (linguagem, aprendizagem ou comportamento). 

Cerca de 2 a 5% das crianças em idade escolar apresentam PPAC, afetando diretamente o seu desempenho escolar e a sua vida social. 


Manifestações comportamentais da PPAC

Linguagem expressiva:
  • dificuldade na produção de sons;
  • dificuldade em compreender ideias abstratas, piadas ou expressões com duplo sentido;
  • dificuldade em perceber os aspetos prosódicos de fala: ritmo e entoação;
  • dificuldade em contar histórias ou manter uma sequência lógica, bem como em repassar recados.

Linguagem e escrita:
  • troca de letras com sons parecidos;
  • inversão de letras;
  • disgrafia;
  • dificuldade na compreensão da leitura;
  • dificuldade em acompanhar o ritmo de um ditado.

Comportamento social:
  • distração e desorganização;
  • ansiedade e impaciência;
  • tendência ao isolamento.

Desempenho escolar:
  • dificuldade de memorização (nomes ou números);
  • dificuldade com regras de acentuação gráfica;
  • dificuldade em línguas estrangeiras ou educação musical;
  • dificuldade na interpretação de problemas de matemática.

Audição
  • dificuldade em perceber a fala na presença de ruído;
  • procura de pistas visuais no rosto do orador;
  • dificuldade em seguir regras ou ordens;
  • dificuldade em localizar a fonte sonora;
  • dificuldade em distinguir direita e esquerda;
  • atenção curta para sons em geral.

Importa salientar que estas manifestações não são exclusivas da PPAC e, por isso, deve realizar-se um diagnóstico diferencial.


Causas da PPAC

Ainda que sejam desconhecidas na maior parte dos casos, a literatura descreve: 
  • intercorrências durante a gestação e o nascimento;
  • otites frequentes durante os primeiros anos de vida;
  • hereditariedade;
  • problemas na maturação do sistema auditivo;
  • falta de estimulação auditiva durante a primeira infância;
  • infeções pós-natais.


Como diagnosticar as PPAC?

A avaliação do PAC é realizada pelo Audiologista e deverá ser precedida de uma anamnese cuidada, de uma observação em Otorrinolaringologia e em Terapia da Fala, da aplicação de uma escala de funcionamento auditivo (SAB) e de uma avaliação auditiva periférica (Impedancimetria, Audiograma Tonal Simples e Audiograma Vocal).

Só existirá critério para avaliação do PAC se a audição periférica estiver íntegra.

O diagnóstico da PPAC é feito através de testes comportamentais que avaliam o conjunto das habilidades auditivas já referidas. A sua aplicação exige que a criança seja capaz de compreender as tarefas solicitadas, demonstre um nível de linguagem recetiva e expressiva que lhe permita compreender os estímulos verbais e uma atenção e memória auditivas suficientes para executar os exercícios propostos. Dificuldades ao nível do desenvolvimento, cognição e/ ou aprendizagem podem dificultar ou mesmo inviabilizar uma avaliação. 

A idade mínima para a avaliação do PAC são os 6 anos. Ainda assim, se existirem suspeitas de alteração do processamento em crianças menores, a escala de funcionamento auditivo ou outros questionários/ checklists existentes poderão ser uma ajuda importante (para médicos, terapeutas da fala, professores, psicólogos ou pais) numa triagem inicial, determinando a pertinência no encaminhamento para a avaliação. 

Para além disso, existe ainda o Rastreio do PAC, constituído por 3 testes simples e rápidos, e que pode ser realizado por outros profissionais. Permite avaliar a localização sonora e a memória sequencial verbal e não verbal, integrando também uma excelente ferramenta de despiste quando as crianças não podem realizar o exame completo ou, mais uma vez, para verificar a urgência na realização da avaliação completa. 

Não obstante, e como já referido, as manifestações da PPAC podem justapor-se a outras alterações sensoriais ou cognitivas e, por isso, é crucial uma abordagem multidisciplinar de cada caso. 


Existe tratamento para o PPAC?

A criança com PPAC beneficiará de um programa de intervenção individualizado, ou treino auditivo, para estimular as habilidades auditivas que estão prejudicadas. 

Esta intervenção deverá ser feita pelo Audiologista (treino formal em ambiente acusticamente controlado) e pelo Terapeuta da Fala (treino informal). 


Orientações para Pais/ Professores de crianças com PPAC

Na escola:
  • posicionar a criança o mais próximo do professor e longe de fontes de ruído (portas, janelas ou ventiladores);
  • chamar a atenção da criança antes de falar;
  • falar pausadamente, enfatizando palavras-chave;
  • dar instruções verbais e escritas para as tarefas a executar.

Em casa:
  • sempre que possível, auxiliar a criança nas atividades mais difíceis;
  • criar situações diárias de comunicação entre Pais e Filho(a): contar histórias, cantar músicas, descrever as atividades do dia-a-dia.


Inês Martins