Um dos grandes desafios que se coloca, hoje em dia, ao nível da educação são as dificuldades de aprendizagem não diretamente relacionadas com algum tipo de deficiência. 

Muitas destas dificuldades são detetadas assim que a criança ingressa no primeiro ciclo de ensino básico, outras, apenas, ao nível do segundo ciclo, quando o currículo começa a ser mais exigente. 

É frequente verificar-se que, algumas destas crianças estão identificadas como prematuras e, muitas vezes, grandes prematuras. Outras vezes verifica-se precisamente o contrário, ou seja, apesar de a criança ter sido prematura, a escola desconhece completamente a situação.


Estas crianças são crianças que, ao longo de todo o seu percurso escolar apresentaram dificuldades de aprendizagem, muitas vezes, até dificuldades de aquisição do mecanismo de leitura, escrita e cálculo, mas que nunca foram alvo de alguma avaliação. Quando essas dificuldades se agravam, e todo o processo de avaliação se despoleta, ao realizar a anamnese é comum os pais referirem que a criança foi prematura, mas correu sempre tudo bem. Não tendo afetada, nem necessitado de qualquer acompanhamento. 

Verifica-se também casos de crianças identificadas como prematuras que, ao serem confrontadas com os desafios da escola, não apresentam dificuldades significativas. Algumas destas crianças beneficiaram do apoio do SNIPI (Serviço Nacional de Intervenção Precoce na Infância). 

Este serviço, apetrechado de profissionais da saúde (terapeutas da fala, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e psicólogos) e da educação (educadores de infância) e, ainda, assistentes sociais é, de momento, um grande suporte e uma resposta de qualidade às necessidades de estimulação que os bebés prematuros apresentam, com o qual os pais/ famílias podem contar para enfrentar o grande desafio de cuidar de um bebé prematuro, proporcionando-lhe toda a estimulação e apoio de que este necessita para se desenvolver de forma harmoniosa. 

Salienta-se que quanto mais precoce for a estimulação da criança, maiores são as probabilidades de esta não apresentar qualquer atraso de desenvolvimento, ou sequelas derivadas da prematuridade.

A estimulação motora irá proporcionar-lhe a possibilidade de rebolar, sentar, gatinhar e andar dentro da idade expectável permitindo-lhe, assim, estabelecer interações adequadas com o meio envolvente. Tendo em conta que os indivíduos aprendem em contacto com o meio, quanto maiores e mais diversificados forem esses contactos, maiores são as probabilidades de aprendizagem.


Além do trabalho que os vários profissionais desenvolvem diretamente com a criança, há também um grande trabalho desenvolvido com os pais, e ou cuidadores, no sentido de os capacitar para trabalhar com a criança, de forma a haver uma complementaridade de todo o trabalho desenvolvido.

Quanto mais efetivo for esse trabalho, maiores são as probabilidades de sucesso. Esse sucesso vai depender, sem qualquer dúvida, da qualidade da articulação e da intervenção estabelecidas conjuntamente entre os técnicos e as famílias.

Penso que o maior desafio para os pais, em grande parte dos casos, é a aceitação da mudança do paradigma, em que todo o saber e capacidade de ação está centrado nos técnicos intervenientes, para aquele em que eles próprios assumem uma importância igual, ou maior, à dos técnicos.


É certo que a maioria dos pais não possui conhecimento técnico para intervir com o bebé prematuro, pelo que precisa do apoio dos técnicos. Mas também é certo que os técnicos precisam do apoio dos pais/ cuidadores para trabalharem com a criança, e que os resultados do seu trabalho só são verdadeiramente visíveis quando a família/ cuidadores colabora com as equipas técnicas, realizando os exercícios e atividades que os técnicos lhes ensinam.

Quando não há intervenção técnica, mas há pais/ família/ cuidadores interventivos, a criança evolui.

Nesse sentido, o grande desafio que se coloca aos pais/ família/ cuidadores é mesmo o de serem capazes de assumir o papel principal na tríade.

Esse papel principal passa por proporcionarem à criança um apoio efetivo, não só durante a primeira infância, mas também ao longo das etapas seguintes.

Quando a criança completa seis anos e ingressa no primeiro ciclo, o apoio do SNIPI cessa, contudo os pais/ família poderão sempre recorrer aos serviços de educação, caso a criança ainda apresente dificuldades, no sentido de pedir apoios técnicos.

Os técnicos que trabalham com estas crianças valorizam igualmente a articulação com os pais/ família no sentido de lhes fornecerem estratégias para lidarem com as variadas situações, de modo a que a intervenção seja o mais sistémica possível. Ou seja, uma intervenção não apenas centrada na criança e no técnico, mas sim em todo o contexto em que a criança se insere. 

Os pais também podem ser fisioterapeutas, terapeutas da fala e ocupacionais, educadores, professores e psicólogos. Precisarão, para o fazer, do apoio de técnicos especializados. Precisarão do apoio dos professores.


O grande desafio da tríade pais - criança - professores será o de conseguir trabalhar de forma articulada valorizando os saberes de cada um e criando oportunidades de interação e desenvolvimento. O trabalho de equipa é por isso fundamental.


Em modo de conclusão: quando o bebé nasce prematuro, os pais podem recorrer, por si só, ao SNIPI e pedir para que a criança seja acompanhada. Poderão recorrer a este serviço até a criança completar 6 anos. Depois dessa idade poderão recorrer às equipas de apoio educativo das escolas.

É importante ter sempre um olhar atento para uma criança prematura, pois essa criança não esteve o tempo necessário na barriga da mãe para que todos os processos de maturação ocorressem.

Mesmo muito, muito importante é o dar-lhe colo!

Muito colo! Todas as crianças precisam de colo, as prematuras ainda mais.

Só com muito amor, carinho, atenção e compreensão as crianças poderão desenvolver-se de forma harmoniosa e estruturada. Quando educada num ambiente caloroso, todas as dificuldades que surgem são sempre mais facilmente ultrapassadas.


Um dos motores para o sucesso é, por isso mesmo, o colo no sentido vastíssimo da palavra!



Teresa Moreno