A importância de brincar
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
"... para se desenvolver normalmente, a criança precisa de aderir a actividades cada vez mais complexas com um ou mais adultos que tenham uma relação emocional irracional com a criança. Alguém tem de amar essa criança. Isso é o número um. Em primeiro, no final e sempre."
Urie Bronfenbrenner
Todos reconhecem a influência das experiências precoces durante os primeiros anos de vida. A ausência de experiências ou relações sociais e emocionais adequadas condiciona alterações da arquitetura e estrutura cerebral e consequentemente da função cognitiva. Quanto mais pequena for a criança, mais importante o seu impacto, variável com a idade/ estádio de desenvolvimento - nos denominados períodos críticos.
O jogo, também adiante designado por brincar, é uma atividade natural da infância, com grande relevância em todo o processo educativo das crianças e nas áreas da intervenção precoce e educação especial.
É também a expressão de estados intencionais, representações construídas a partir do que as crianças conhecem e continuamente apreendem em meio natural de vida. Consiste num conjunto de atividades espontâneas, sucedâneas e experimentais com objetos que captam a sua atenção e interesse. Pode envolver ou não cuidadores, pares, despoletar ou não afetos e sentimentos e ser ou não pretenso.
O brincar pode ser considerado um domínio do desenvolvimento pelo seu papel estruturante, de exploração do meio, de interação com objetos, adultos e pares. O brinquedo é um instrumento de descoberta e exploração, ou seja, é um objeto de experiência.
Dadas as interações entre o jogo e a linguagem, jogo e cognição, jogo e desenvolvimento socioemocional, o brinquedo e o jogo são facilitadores da motivação da criança e uma importante mais valia estratégica para implementar as relações sociais e interação nos vários contextos de vida da criança.
Brincar é uma atividade estruturante e enriquecedora em cinco dos domínios do desenvolvimento psicomotor e cognitivo da criança:
- o desenvolvimento motor;
- o desenvolvimento social;
- o desenvolvimento cognitivo;
- o comportamento adaptativo (IDEIA, 2004).
Podemos considerar, neste processo, duas vertentes:
(a) jogo como atividade desenvolvimental;
(b) jogo como atividade para atingir outros objetivos e domínios, como já referido.
Smilansky descreveu quatro tipos de jogo:
- Jogo funcional;
- Jogo condicional;
- Jogo com regras;
- Jogo dramático.
Jogo funcional
No jogo funcional, a criança participa em atividades sensoriomotoras utilizando as suas competências psicomotoras. Baseia-se na necessidade da criança em mover-se e conhecer as suas capacidades, aprimorá-las (por imitação e repetição) e identificar os seus limites.
Jogo condicional
No segundo ano de vida, a criança move-se por todo o espaço disponível e ao seu alcance, explorando o que lhe é permitido. Aperfeiçoa as suas competências sensoriomotoras e inicia o seu próprio processo criativo que perdura, desde que implementado e estimulado, até à adultícia.
Jogo com regras
A partir dos 4-5 anos de vida, inclui jogos de mesa e jogos lúdicos (físicos) que lhe vão permitir compreender e incutir a ideia de regra, aceitá-la e respeitá-la, brincando em consonância com estas.
Jogo dramático
Descrito por Smilansky e Shefatya é o tipo de jogo mais elaborado. Está associado à compreensão do meio, à imitação, criatividade e influencia positivamente o futuro sucesso académico das crianças.
Vale a pena debruçar-nos um pouco mais sobre este tipo de jogo, observável desde os três anos, composto por duas vertentes: a imitativa e a imaginativa ou criativa. Um exemplo da primeira pode observar-se quando a criança imita um adulto ou situação, num contexto real e inclui a recriação de ações e discurso do adulto, personificação de objeto (boneco) ou animal. Já o jogo imaginativo exige que a criança desenvolva e crie algo de diferente durante o processo de imitação. Devido à sua própria visão e interpretação do que vê, não é capaz de imitar na íntegra a pessoa ou situação, fazendo apelo à sua imaginação, preparando-se para a escola.
Este mesmo autor estudou grupos de crianças oriundas de estratos socioeconómicos favorecidos e desfavorecidos (n= 36 crianças, das quais 18 provenientes de famílias da classe média e 18 de famílias socioeconomicamente desfavorecidas) e verificou que o primeiro grupo de crianças eram mais participativas, apresentavam linguagem mais desenvolvida e sofisticada, com frases mais extensas, expressões mais ricas, maior percentagem de nomes, pronomes, verbos, advérbios e vocabulário mais variado, comparativamente ao outro grupo de crianças.
Smilansky observou ainda que aos três anos, o segundo grupo não tinha competências de jogo sociodramático e que existiam ainda diferenças culturais entre crianças oriundas de famílias africanas e do médio oriente, comparativamente às europeias. Ou seja, se esta realidade for transportável para Portugal, com uma sociedade multicultural, onde abundam crianças de famílias africanas e de programas europeus de deslocalização, certamente o jogo sociodramático terá um impacto positivo e de inegável valor na preparação de todas as crianças para a escola.
Em síntese, o jogo sociodramático, bem como o jogo funcional, jogo condicional e jogo com regras são componentes chave para o sucesso académico, porque incluem regras e expetativas que as crianças vão assimilando ao longo do seu desenvolvimento. Estes tipos de jogo e brincar podem ser observados, quer quando a criança brinca sozinha, quer quando incluída num grupo de pares ou no jogo sociodramático, sendo que só neste último são integradas simultaneamente as competências sensoriomotoras, jogo funcional e com regras.
A National Association for the Education of Young Children (NAEYC, 2009), em 2009 aprovou um documento intitulado "Position Statement on Developmentally Appropriate Practice, NAEYC - Key Messages of the Position Statement", em que afirma e passamos a citar: "... o brincar promove competências chave para o sucesso da aprendizagem. No jogo dramático de nível superior, os papéis colaborativos, cenários e controle dos impulsos, necessários às limitações da actividade, desenvolvem a capacidade de auto-regulação, pensamento simbólico, crítico, memória e linguagem, fundamentais à aprendizagem, sociabilidade e sucesso escolar...".
Daí a importância dos docentes providenciarem e implementarem oportunidades de jogo/ brincar sociodramático (teatro, role-play), que podem ainda sustentar e desencadear oportunidades de aprendizagem (académicas ou de aquisição de comportamentos e conceitos morais), diversificação de áreas, tópicos ou focos de interesse.
Acresce ainda a importância da investigação no ensino de atividades de jogo e brincar em crianças com autismo, em que se verificou a aquisição de competências noutros domínios (social, linguagem).
Outros estudos focaram-se no momento do jogo simbólico, imitação, verbalização e jogo cooperativo.
Nem todas as crianças em geral ou com problemas de neurodesenvolvimento, como o autismo, respondem positivamente ao mesmo tipo de intervenção. São sempre necessários programas individualizados de intervenção, que devem sempre ter em conta a idade de desenvolvimento mental da criança, a linguagem recetiva, a idade cronológica, as áreas fortes e as áreas fracas de competências.
Conclusões:
- O jogo é um dos domínios do desenvolvimento, através do qual se pode motivar a criança para a aprendizagem e implementar a criatividade;
- O jogo é um suporte ao desenvolvimento de áreas como a cognição, linguagem, comunicação e desenvolvimento social;
- O jogo é um importante instrumento para identificar a existência de atraso ou dificuldades no brincar/ jogo nas crianças.
Recomendações:
- Implementar e dar suporte ao desenvolvimento das atividades lúdicas;
- Utilizar os contextos naturais para os propósitos do jogo;
- Monitorizar os ganhos/ progressos no jogo e repercussão noutras áreas;
- Atenção à tensão entre o tempo de brincar e o das atividades pré-académicas (tempo de brincar é tempo de qualidade para aprender!).
"One of the most powerful ways to change the world is to make it better for Kids."
(Jack P. Shonkoff - Professor de Saúde Infantil e Desenvolvimento da Universidade de Harvard)
Maria do Carmo Vale
Maria do Carmo Vale
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020
A Prof. Dra. Maria do Carmo Vale apresenta um extenso currículo no âmbito da Pediatria, tendo cerca de 200 trabalhos publicados e comunicados em reuniões e revistas nacionais e estrangeiras.
Apresentamos, de seguida, o seu percurso profissional.
Atividade Clínica:
- desde 2013 em atividade clínica privada e coordenadora da Unidade de Pediatria do Neurodesenvolvimento, da Fundação Nossa Senhora do Bom Sucesso (IPSS);
- 2004 - 2013: Coordenadora do Centro de Pediatria do Neurodesenvolvimento, do Hospital de Dona Estefânia (HDE);
- 2004 - 2011: Chefe de Equipa do Serviço de Urgência, do HDE;
- 1991 - 2004: Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos, do HDE;
- 1999: Subespecialidade de Cuidados Intensivos Pediátricos, pela Ordem dos Médicos.
- 1990: Especialidade de Pediatria Médica, pelos Hospitais Civis de Lisboa e Ordem dos Médicos;
- 1983 - 2013: Assistente Hospitalar Graduada de Pediatria Médica, no HDE.
Carreira Académica:
- 2017 e 2019: Professora Coordenadora de Curso Pós Graduado em Neurodesenvolvimento da Criança e do Adolescente - 1ª e 2ª Edições - NOVA Medical School:
- 2015 - Doutoramento na Especialidade de Medicina da Mulher, Infância e Adolescência - Pediatria;
- 2007 - 2013: Assistente Convidada da Disciplina de Pediatria, no âmbito do mestrado integrado da Nova Medical School, Universidade Nova de Lisboa.
- 2001: Mestre em Bioética, pela Faculdade de Medicina de Lisboa.
Cargos Desempenhados
- Desde 2011: Membro da Comissão de Ética da ARSLVT;
- 2009 - 2018: Nomeada pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) representante da Saúde, na Subcomissão Regional do Sistema Nacional de Intervenção Precoce (SNIPI);
- 2006 - 2009: Comissão Consultora da ARSLVT para a Área da Saúde da Criança e do Adolescente;
- 2005 - 2011
- Membro da Comissão Executiva da Comissão Nacional de Ética para a Investigação Clínica (CEIC), por nomeação do Ministério da Saúde;
- Membro da Comissão Plenária da Comissão Nacional de Ética para a Investigação Clínica (CEIC)
- Chefe de Equipa do Serviço de Urgência do HDE; - 2005 - 2010: Presidente da Comissão de Ética para a Saúde, do HDE;
- 2003 - 2004: Vice-Presidente da Comissão de Ética para a Saúde, do HDE.
Birras: o eterno dilema
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020
Frases como estas: "Hoje ele está impossível"; "Sofia, consigo ele não faz birras"; "Com a educadora corre sempre melhor", são comuns a todos nós!
A birra deve ser um dos temas mais falados pelos pais, educadores, psicólogos, especialistas, avós e vizinhos. Desde a vertente educacional, à emocional ou à comportamental, muitas são as estratégias dadas em centenas de sites pela internet e em cursos. Existem muitos debates sobre as suas origens, o porquê de acontecerem e quais os seus resultados na vida adulta.
Muito haveria para falar sobre este assunto e muitas seriam as opiniões de cada um, mas existem inúmeras formas de resolver as birras e cada família tem o seu ritmo, a sua linguagem e os seus hábitos.
Tendo em mente os "meus" pequenotes e as suas famílias, consigo compilar alguns concelhos que muitos pais, devido às rotinas e ao corre-corre do seu dia-a-dia, acabam por esquecer. Por isso, este artigo pretende alertar para algumas dessas situações:
- Sono e fome nunca fez bem a ninguémAs crianças tendem a fazer mais birras quando têm fome, sono ou quando ficam doentes... e é normal! Até nós adultos nos sentimos completamente diferentes quando estamos com fome e não conseguimos comer a horas. Assim, lembre-se que cada criança tem o seu próprio ritmo e que uns precisam de comer mais ou dormir mais que outros em determinadas alturas do dia.
- Falar simples e direto - ajuda mesmo!Quando nos irritamos, a tendência é para falar mais e mais alto - pois é! Mas deveria acontecer exatamente o oposto.Deste modo, se a criança fala com uma ou duas palavras, o máximo que deveríamos usar seriam duas palavras. Se perceber que o seu filho, mesmo com um discurso simples, não consegue resolver a birra, ajude-o a cumprir o que pediu ou até mesmo sair do lugar onde se encontra o estímulo que desencadeou a birra.Não julgue nem fale sobre o comportamento menos adequado. Concentre-se de imediato no comportamento assertivo, como ficar mais calmo ou parar de gritar.
- Seja positivo e firme"Não faças isso"; "Não mexas nisso"; "Não digas isso" - Não, Não Não! Sempre Não! - Gosta de ouvir a palavra Não? Eu também não!Mas é das palavras mais usadas no nosso dia-a-dia. O que vou dizer parece impossível (mesmo impossível), mas em vez de dizer sempre "Não", mude a forma de falar. Por exemplo, em vez de "Não mexas nisso", utilize "Deixa estar assim". E vez de "Não corras", utilize "Anda mais devagar". Mesmo que não consiga aplicar sempre, poderá pensar em determinadas situações que o possa fazer.
Explico porque é importante: para algumas crianças, esta palavra só promove o comportamento que não pretende que ela tenha. Por isso, ter uma abordagem positiva, em que identifica o comportamento correto a ter, vai ajudá-la a saber o que fazer. Pois, já deve ter reparado que quanto mais diz para não fazer algo, mais eles vão tentar fazer aquilo que está errado, certo? Por isso, quebre este ciclo através da linguagem! - Respire fundo e calma!Há dias em que nada parece resultar: respire fundo e analise a situação:- o que aconteceu? O que causou a birra?- como é que eu a resolvi? Quais foram as consequências?Escreva num papel a resposta a estas perguntas. Isso ajudar-vos-á a perceber quais as estratégias que melhor resultam com o vosso filhote. E pensem sobre: "o que estava a tentar ensinar?"; "Como é que estou a verbalizar o que ele deve fazer?". Ensine-o todos os dias! O cérebro precisa desse constante reforço. Depois, procure estabelecer um acordo em que fique explícito que, se cumprir determinada tarefa, obterá o que pretende.
- Birras por sensações
Lavar o cabelo, barulho muito alto, comida crocante, comida mole, camisolas de lã, etiquetas... podem causar uma birra? Sim! Lembre-se que o cérebro das crianças está a tornar-se maduro e, por vezes, sensações como vestir uma camisola, lavar ou escovar o cabelo são registadas no cérebro como se fosse algo novo ou até como se fosse um ataque ao seu corpo.
Este processo pelo qual todos nós passamos chama-se integração sensorial. Ou seja, é a forma como recebemos, modelamos e processamos a informação que vem dos órgãos dos nossos sentidos: tacto, visão, olfato e paladar. É por isso que, por vezes, se ouve falar de baixa sensibilidade ou hipersensibilidade auditiva, por exemplo.
Os nossos pequenotes estão a crescer e a forma como processam as sensações está constantemente a ser registada no seu cérebro - daí esse impacto criar conflitos - surgindo este tipo de birras. Assim, lembre-se: deve expor o seu filhote gradualmente a este tipo de estímulos. Se vir que existem muitas birras e que o seu filho fica mesmo muito agitado, poderá pedir ajuda a um terapeuta ocupacional especialista em integração sensorial.
Apenas citei algumas das situações que mais ocorrem no dia-a-dia. Lembrem-se que, se o vosso filhote estiver a ser acompanhado por algum terapeuta, podem pedir-lhe ajuda, pois todos os comportamentos têm uma razão para ocorrerem e uma consequência.
As birras farão sempre parte da nossa vida e mostram que estamos a ficar mais velhinhos. Por isso, em vez de apenas educar em situações limite, lembre-se que todos os dias servem para ensinar a criança a lidar com a frustração e com os seus sentimentos.
Sofia Rocha-Bernardino
Como escolher o calçado das crianças?
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020
Quando falamos de saúde dos pés é fundamental falarmos da importância da escolha de um calçado adequado nas várias etapas do crescimento.
Sabemos que a estrutura óssea das crianças é plástica e um calçado que não respeite a mobilidade normal dos pés pode provocar alterações na sua morfologia e condicionar o crescimento normal do pé. Por isso, herdar sapatos não é um bom princípio. Cada pessoa desgasta o calçado de uma forma diferente, sendo que os sapatos adotam a forma do pé do primeiro usuário.
A maioria dos bebés começa a andar entre os 9 e os 15 meses de vida. No início, a criança tem dificuldades em manter o equilíbrio, a marcha vai-se desenvolvendo com a idade e aos 3/ 4 anos observa-se uma marcha com um padrão independente. Aos 6 anos já existem todas as estruturas ósseas que se consolidam de forma definitiva aos 18 - 20 anos, como tal, cada idade tem necessidades biomecânicas específicas.
Como regra geral, a função do calçado é a de proteger o pé permitindo uma mobilidade adequada, numa fase de pleno crescimento e formação. Para além disso, é muito importante ter em conta alguns aspetos:
- numa fase inicial não devemos forçar, nem ajudar a criança a caminhar. A criança caminhará quando estruturalmente estiver preparada.
- até aos 8/ 9 meses os pés têm uma sensibilidade tátil exteroceptiva, maior que as mãos. A partir deste período vão perdendo, de forma progressiva, este tipo de sensibilidade e começam a desenvolver a propriocepção. Isto é, o bebé começa a ter consciência das partes do corpo, contudo, antes de dar os primeiros passos, o bebé necessita da informação que recebe da planta dos pés e das articulações para coordenar os seus movimentos e conseguir o equilíbrio. Portanto, nesta primeira fase não devemos calçar o bebé. Eles próprios se descalçam sempre que podem, como uma forma de autodefesa. Faz sentido utilizar as meias para proteção do pé, frente a agentes externos como o frio e a humidade.
- relativamente ao tamanho do calçado, é importante que, com umas meias postas, a distância dos dedos à ponta do calçado tenha entre 0,5 cm a 1 cm de espaço.
- os sapatos devem possibilitar o movimento livre dos dedos com uma sola que permita a flexão anterior do pé.
- os ténis ou sapatilhas e os sapatos devem facultar uma apropriada transpiração, sendo forrados com tecidos naturais, de preferência pele.
- nas aulas de natação utilize sandálias de borracha para evitar infeções fúngicas e víricas.
- para fomentar a independência, os sapatos com fecho e velcro são a melhor escolha para coadjuvar a tarefa de calçar e descalçar.
Paula Carvalho
O Pai, a Mãe e o Vicente - O CrossFit e o pós-parto
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020
Olá. Eu sou a Fábia, coach do CrossFit Leiria e mamã de primeira viagem. Estou aqui para falar um pouco sobre a vida pós-parto e o CrossFit.
Todas as mulheres são reais e depois do parto colocamos tudo em causa, nomeadamente se estamos preparadas para esta realidade, se conseguimos estar a 100% para o nosso bebé, se sabemos lidar com a amamentação, se temos em conta todos os cuidados diários deste e ainda com a nossa recuperação.
No meu caso, a primeira semana foi a mais difícil, apesar de ter o melhor do Mundo nos braços. A "subida" do leite, amamentar em livre demanda e as noites em branco fizeram parte desta aventura.
Todavia, a família concordou em ter visitas desde o primeiro dia, pois eu sentia-me bem (tive a sorte de recuperar rápido do parto) e a companhia da família e amigos fazia-nos bem. Ajudava a aliviar a pressão, os medos e as inseguranças.
Penso que é nesta altura que mais importa a união familiar. Isto porque, com o nascimento do bebé, as mães tendem a ter menos atenção por parte da família e amigos, em detrimento do bebé. E, de facto, é neste momento que as mães mais precisam de atenção e carinho.
Por outro lado, até para nós o bebé vem sempre em primeiro, o que faz com que acabemos por esquecer-nos de nós próprias. Por isso, é importante pedir ajuda quando nos sentimos esgotadas física e psicologicamente. E é aqui que entra o CrossFit! No meu caso, faz parte da minha profissão e do meu estilo de vida, acabando por ter sido uma lufada de ar fresco na minha recuperação e manutenção da saúde mental.
Não existe um momento ideal para retomar os treinos após ser mamã. Cada caso é um caso e o mais importante é saber ouvir o seu corpo.
Então, quando iniciar a atividade física de acordo com a Medicina?
O American College of Obstetricians and Gynecologists recomenda que as recém mamãs comecem a praticar exercício físico logo que seja seguro em termos físicos e médicos. Tratando-se de um parto normal, geralmente tem indicação para iniciar o exercício físico 4 a 6 semanas após o parto (após a consulta de revisão do puerpério). No caso de cesariana, poderá levar um pouco mais de tempo. No meu caso pessoal, iniciei a atividade física ao fim de 2 semanas de pós-parto, por indicação da médica.
Após termos sido Mães, o corpo tem de ser, acima de tudo, funcional. Por isso aos poucos comecei a tirar um tempinho para mim e voltar à rotina.
Nas primeiras semanas iniciei com a avaliação da diástase abdominal e exercícios de fortalecimento do pavimento pélvico (para diminuir a probabilidade de incontinência urinária), pois este fica fraco, flexível e sem apoio devido ao efeito combinado de gravidez, parto, diminuição de estrogénio (durante a amamentação) e fadiga física. Ainda exercícios de respiração hipopressiva pós-parto (ativação dos músculos profundos que vão reforçar todo o core), reforço muscular e exercícios focados na postura.
No início é importante ser cautelosa devido às mudanças ocorridas, tanto pela gravidez, como pelo parto. Estas alterações requerem tempo e dedicação para que tudo volte ao funcionamento "normal".
Na terceira semana, voltei aos treinos de CrossFit sem deixar de dar importância aos exercícios iniciais. Eu estava muito contente por voltar à box, mas senti que a cabeça tinha um ritmo e o corpo respondia de forma completamente diferente. O que é normal, por isso tive de adaptar alguns exercícios e dar prevalência à baixa intensidade e impacto.
No entanto, lembro-me que ir treinar me deixava bastante contente, menos ansiosa e quando terminava o treino era uma sensação fantástica de "ar fresco" e bem-estar!
No início é importante ser cautelosa devido às mudanças ocorridas, tanto pela gravidez, como pelo parto. Estas alterações requerem tempo e dedicação para que tudo volte ao funcionamento "normal".
Na terceira semana, voltei aos treinos de CrossFit sem deixar de dar importância aos exercícios iniciais. Eu estava muito contente por voltar à box, mas senti que a cabeça tinha um ritmo e o corpo respondia de forma completamente diferente. O que é normal, por isso tive de adaptar alguns exercícios e dar prevalência à baixa intensidade e impacto.
No entanto, lembro-me que ir treinar me deixava bastante contente, menos ansiosa e quando terminava o treino era uma sensação fantástica de "ar fresco" e bem-estar!
Aos poucos, o meu corpo foi recuperando a memória, fui recuperando a força, conseguindo recuperar as habilidades anteriores. A parte mais difícil foi a da musculatura do core, que foi sendo "acordada", recebendo estímulo e recuperando a sua funcionalidade aos poucos.
Passo a enumerar alguns benefícios dos treinos de CrossFit após a consulta de revisão do puerpério:
- correção postural;
- redução do stress;
- melhoria da qualidade do sono;
- aumento da autoestima;
- redução de problemas de incontinência, sendo para isso necessário o acompanhamento de profissionais especializados para tal;
- aumento da energia;
- socialização;
- bem-estar e melhoria do humor;
- redução da fadiga;
- ganhos de força e da funcionalidade corporal;
- ganhos na mobilidade;
- perda de peso;
- alimentação vs treino vs amamentação;
- reforço do core.
O CrossFit ajuda ainda nas tarefas diárias com o bebé. Estamos melhor preparadas para transportar o Sistema de Retenção ("ovinho") e subir escadas com ele, transportando também as malas/ sacos; passar horas com o bebé ao colo; dar banho e trocar a fralda/ vestir; dar de mamar sem muito desconforto e até mentalmente sentimo-nos mais preparadas para os desafios do dia-a-dia e para o desconhecido.
Em relação ao treino, desaconselho nos primeiros três/ seis meses (dependendo de cada situação) exercícios de impacto como corrida, saltos, abdominais crunch e todo o tipo de pranchas em que haja a contração do músculo reto abdominal. Isto porque irá promover ou aumentar a sua diástase (separação da linha alba). Evite também dobrar o tronco pela cintura, agachar ou suportar cargas superiores a metade do seu peso corporal. Desta forma, estará a dar conforto às articulações e descanso à coluna que estiveram em sobrecarga nos últimos meses.
Resumindo...
Mamãs, pensem em vós não só como mães, mas também como mulheres. Procurem uma atividade que vos faça bem e traga felicidade.
O CrossFit pode ser uma ótima escolha!! Como apaixonada pela modalidade, posso dizer que traz benefícios não só para a vossa saúde, como também para a vossa vida. Se ainda não encontraram algo que vos motive, dêem uma oportunidade ao CrossFit. Com toda a certeza irão apaixonar-se por esta comunidade, por tudo o que ela pode fazer por vós e pela vossa família.
Fábia Velosa
Fábia Velosa
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020
Fábia Velosa é apaixonada pelo Desporto.
Licenciada em Desporto e Bem-estar e com outras formações na mesma área (instrutora de várias modalidades de Fitness).
Contacta com CrossFit há 5 anos e meio e é: Coach de CrossFit (Level 2); Coach de Weightlifting; Mobility Classes; Personal Trainer, Treinadora de Kettlebell Sport (Nível 1) e treina Funcional Kids.
É fascinada pela metodologia e eficácia que tem o CrossFit e é sua opinião que este é o topo do Fitness.
O seu principal objetivo é evoluir não só como atleta, mas como Coach e é com esse olhar que vê o CrossFit não como uma moda, mas como um verdadeiro estilo de vida.
À nossa imagem e semelhança
domingo, 2 de fevereiro de 2020
Há ditados populares ou apenas
aquelas expressões familiares sobre os quais nunca nos debruçámos muito, mas
que vamos balbuciando também.
Todos conhecemos aquele que diz “Filho és, pais serás. Assim como fizeres,
assim encontrarás”. Ouvimos e pensamos: mas que fatalismo. Parece que
vivemos uma vida de represália e fatalismo. Não acham?
No entanto, se removermos estes
aspetos negativos e nos debruçarmos um bocadinho sobre o seu significado,
chegamos à conclusão que não é mais do que a constatação de que as crianças são
uma “esponja” e absorvem os comportamentos dos pais, para depois os reproduzir.
Uma excelente forma de percebermos o que andamos a fazer é, nos mais pequenos,
assistir às suas brincadeiras.
Na sequência das minhas consultas
às famílias, tenho vindo a pensar muito sobre esta questão. Assim como naquilo
que muitas vezes dizemos sobre repetirmos o comportamento e atitudes dos nossos
pais, quando, acerrimamente, jurámos nunca o fazer. E, esta minha reflexão, tornou-se
ainda mais necessária após uma formação a que assisti na passada semana.
Abordámos a Família do século XXI, onde a principal questão da audiência foi:
como ajudar a criança a lidar com a falta de rotinas e a falta de consistência
com que muitas vezes se depara, por ter pais separados, duas casas e tudo o que
lhe é subjacente. A resposta (muito inteligente, aliás) da formadora foi: como lidam com a situação quando, a viver o
casal na mesma casa, ambos adotam posturas muito diferentes? Um, a postura de
ditador e outro de passividade ou assertividade?
Realmente, é preciso gritar que
NÃO HÁ PAIS PERFEITOS! Que a parentalidade é uma vivência UNA e que, por isso,
não há receitas. O que pode ser adequado para uma família, não o será, com
certeza, para outra.
Mas no meio desta consciência, é
importante lembrar também que não nos podemos demitir de fazer o MELHOR. De
pensar nas nossas atitudes, nos nossos comportamentos. Há que passar a melhor
mensagem aos nossos filhos, mesmo num mundo que se encontra virado do avesso. E
nos dias em que não nos for possível, temos de saber colocar-nos ao seu nível
e, olhos nos olhos, dizer DESCULPA. “Desculpa por ter gritado quando podia ter
dito o que queria de forma mais tranquila. Desculpa por não te ter dado
atenção, mas sabes? O pai (ou a mãe) hoje tive um dia muito complicado.
Zanguei-me no trabalho ou o trânsito louco deixou-me sem paciência…” Eles vão
compreender! E, para além disso, o que estão a promover é o diálogo e a
partilha e, quando eles estiverem zangados, perdidos, tristes, saberão que
poderão contar com os pais para compreender aquele momento mais angustiante.
Sim, as crianças são o motor da
mudança. Sim, com eles podemos ter um mundo melhor. MAS, é agora a altura de o
preparar, reconhecendo as nossas limitações, embora dando sempre, mas SEMPRE, o
nosso melhor.
o pai, a mãe e eu
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