Frases como estas: "Hoje ele está impossível"; "Sofia, consigo ele não faz birras"; "Com a educadora corre sempre melhor", são comuns a todos nós!

A birra deve ser um dos temas mais falados pelos pais, educadores, psicólogos, especialistas, avós e vizinhos. Desde a vertente educacional, à emocional ou à comportamental, muitas são as estratégias dadas em centenas de sites pela internet e em cursos. Existem muitos debates sobre as suas origens, o porquê de acontecerem e quais os seus resultados na vida adulta.


Muito haveria para falar sobre este assunto e muitas seriam as opiniões de cada um, mas existem inúmeras formas de resolver as birras e cada família tem o seu ritmo, a sua linguagem e os seus hábitos. 

Tendo em mente os "meus" pequenotes e as suas famílias, consigo compilar alguns concelhos que muitos pais, devido às rotinas e ao corre-corre do seu dia-a-dia, acabam por esquecer. Por isso, este artigo pretende alertar para algumas dessas situações:

  1. Sono e fome nunca fez bem a ninguém

    As crianças tendem a fazer mais birras quando têm fome, sono ou quando ficam doentes... e é normal! Até nós adultos nos sentimos completamente diferentes quando estamos com fome e não conseguimos comer a horas. Assim, lembre-se que cada criança tem o seu próprio ritmo e que uns precisam de comer mais ou dormir mais que outros em determinadas alturas do dia.

  2. Falar simples e direto - ajuda mesmo!

    Quando nos irritamos, a tendência é para falar mais e mais alto - pois é! Mas deveria acontecer exatamente o oposto.

    Deste modo, se a criança fala com uma ou duas palavras, o máximo que deveríamos usar seriam duas palavras. Se perceber que o seu filho, mesmo com um discurso simples, não consegue resolver a birra, ajude-o a cumprir o que pediu ou até mesmo sair do lugar onde se encontra o estímulo que desencadeou a birra.

    Não julgue nem fale sobre o comportamento menos adequado. Concentre-se de imediato no comportamento assertivo, como ficar mais calmo ou parar de gritar.

  3. Seja positivo e firme

    "Não faças isso"; "Não mexas nisso"; "Não digas isso" - Não, Não Não! Sempre Não! - Gosta de ouvir a palavra Não? Eu também não!

    Mas é das palavras mais usadas no nosso dia-a-dia. O que vou dizer parece impossível (mesmo impossível), mas em vez de dizer sempre "Não", mude a forma de falar. Por exemplo, em vez de "Não mexas nisso", utilize "Deixa estar assim". E vez de "Não corras", utilize "Anda mais devagar". Mesmo que não consiga aplicar sempre, poderá pensar em determinadas situações que o possa fazer.


    Explico porque é importante: para algumas crianças, esta palavra só promove o comportamento que não pretende que ela tenha. Por isso, ter uma abordagem positiva, em que identifica o comportamento correto a ter, vai ajudá-la a saber o que fazer. Pois, já deve ter reparado que quanto mais diz para não fazer algo, mais eles vão tentar fazer aquilo que está errado, certo? Por isso, quebre este ciclo através da linguagem!

  4. Respire fundo e calma!

    Há dias em que nada parece resultar: respire fundo e analise a situação:

    - o que aconteceu? O que causou a birra?
    - como é que eu a resolvi? Quais foram as consequências?

    Escreva num papel a resposta a estas perguntas. Isso ajudar-vos-á a perceber quais as estratégias que melhor resultam com o vosso filhote. E pensem sobre: "o que estava a tentar ensinar?"; "Como é que estou a verbalizar o que ele deve fazer?". Ensine-o todos os dias! O cérebro precisa desse constante reforço. Depois, procure estabelecer um acordo em que fique explícito que, se cumprir determinada tarefa, obterá o que pretende.

  5. Birras por sensações

    Lavar o cabelo, barulho muito alto, comida crocante, comida mole, camisolas de lã, etiquetas... podem causar uma birra? Sim! Lembre-se que o cérebro das crianças está a tornar-se maduro e, por vezes, sensações como vestir uma camisola, lavar ou escovar o cabelo são registadas no cérebro como se fosse algo novo ou até como se fosse um ataque ao seu corpo.

    Este processo pelo qual todos nós passamos chama-se integração sensorial. Ou seja, é a forma como recebemos, modelamos e processamos a informação que vem dos órgãos dos nossos sentidos: tacto, visão, olfato e paladar. É por isso que, por vezes, se ouve falar de baixa sensibilidade ou hipersensibilidade auditiva, por exemplo.

    Os nossos pequenotes estão a crescer e a forma como processam as sensações está constantemente a ser registada no seu cérebro - daí esse impacto criar conflitos - surgindo este tipo de birras. Assim, lembre-se: deve expor o seu filhote gradualmente a este tipo de estímulos. Se vir que existem muitas birras e que o seu filho fica mesmo muito agitado, poderá pedir ajuda a um terapeuta ocupacional especialista em integração sensorial.


Apenas citei algumas das situações que mais ocorrem no dia-a-dia. Lembrem-se que, se o vosso filhote estiver a ser acompanhado por algum terapeuta, podem pedir-lhe ajuda, pois todos os comportamentos têm uma razão para ocorrerem e uma consequência. 

As birras farão sempre parte da nossa vida e mostram que estamos a ficar mais velhinhos. Por isso, em vez de apenas educar em situações limite, lembre-se que todos os dias servem para ensinar a criança a lidar com a frustração e com os seus sentimentos. 



Sofia Rocha-Bernardino