A gravidez e a saúde oral
A gravidez traz consigo grandes mudanças na mulher e, inevitavelmente, na família. É nesta altura que se repensam os hábitos de vida, em prol do adequado desenvolvimento do bebé. E, embora comecem a haver mudanças, algumas acabam por cair no esquecimento.
Hoje iremos abordar um dos aspetos mais importantes da gravidez e que é, em grande parte das vezes, descurado. E com isto refiro-me à saúde oral. Talvez este "esquecimento" ocorra muito em parte por questões financeiras. Mas já lá chegaremos.
Dizem que, durante a gravidez, o sangramento das gengivas é perfeitamente normal. Mas será mesmo normal? Podemos desde já dizer que não. Não é normal e este é um dos sinais que necessita para agendar uma consulta com um dentista.
Mas então, porque razão será tão importante cuidar dos dentes durante a gravidez?
A resposta é simples e assustadora. É importante cuidar dos dentes durante a gravidez, porque uma mãe com problemas dentários, futuramente terá uma criança com os mesmo problemas.
Estima-se que um quarto das mulheres em idade fértil (com idade para engravidar) apresenta cáries e que cerca de 30% das grávidas apresentam gengivite (inflamação das gengivas provocada por uma higiene deficiente ou por alterações hormonais).
Por outro lado, vários estudos indicam a possível relação entre cáries e os partos prematuros ou restrições de crescimento in utero. Isto porque, as cáries são causadas por bactérias que, quando viajam pela corrente sanguínea, poderão provocar outras reações e desencadear o parto prematuro ou a restrição de crescimento.
Por último, informar ainda que em 70% dos casos estudados, é a mãe que transmite estas bactérias à criança, aumentando em muito o risco de aparecimento de cáries.
Sim, isto é verdade e passo a explicar a razão.
As cáries dentárias são a doença infeciosa crónica mais frequente, mais até do que, por exemplo, a asma. No entanto, são completamente passíveis de prevenir através da mudança de hábitos de higiene e alimentares.
E porque razão os problemas dentários são, de certa forma, transmissíveis?
Já reparou, certamente, numa mãe a certificar-se da temperatura da sopa levando a colher à sua própria boca antes de a oferecer ao filho. Quase todas as mães o fazem de forma inconsciente e, por isso, sem se aperceberem do aspeto nocivo desta ação.
Pois é! Algo tão simples pode significar a transmissão da bactéria que é a causadora das cáries. Isto, ou o limpar a boca/ cara da criança com a nossa saliva, o lamber a chucha porque caiu ao chão, antes de a dar novamente à criança... Neste caso, incluímos aqui também o pai, a vó ou outra pessoa significativa e cuidadora. Importante salientar que a colonização (infeção pela bactéria) pode acontecer desde o nascimento, mas tem maior probabilidade de ficar retida na boca após o nascimento do primeiro dente.
Mas, foquemo-nos em si, que está grávida. O que poderá fazer para diminuir o risco de vir a ter cáries e de as transmitir ao seu bebé?
Tendo em conta o que dizem os especialistas e a Direção-Geral da Saúde, deixamos aqui alguns conselhos:
- escovar os dentes duas vezes ao dia, com pasta com flúor e uma escova macia;
- limitar a ingestão de alimentos açucarados às refeições e fora delas;
- optar por beber água e/ ou leite magro, em vez de bebidas açucaradas;
- dar preferência à fruta em vez de sumos de fruta naturais.
- comer pequenas quantidades de alimentos nutritivos ao longo do dia;
- bochechar, após vomitar, com uma solução composta por 1 colher de chá de bicarbonato de sódio, num copo de água. Esta solução eliminará o ácido que ficar nos dentes, evitando a sua destruição.
Para complementar estas medidas, há estudos que indicam que, se a futura mãe bochechar diariamente com produtos prescritos pelo dentista, a partir dos 6 meses de gestação, diminui drasticamente a colonização da boca e a transmissão das bactérias para o filho. Existe também outra medida, embora ainda pouco se conheça relativamente a dosagens e duração do uso. Esta medida tem a ver com o uso de pastilhas Xilitol, após as refeições. O xilitol é um adoçante natural, encontrado nas fibras de muitos vegetais e que tem um efeito positivo no controlo das bactérias na boca, pois embora doce, inibe o crescimento destas últimas e não prova cáries.
Por último, falta abordar a questão da visita ao dentista.
Referem as diretrizes que a visita ao dentista deve ocorrer entre as 14 e as 20 semanas de gestação, pois embora o risco de aborto provocado pelo tratamento do dentista seja mínimo em qualquer momento da gravidez, este é o período ideal.
Se tiver tido uma visita ao dentista nos últimos 6 meses, recomenda-se que agende uma nova visita que, idealmente deverá acontecer ainda durante a gravidez. Caso a sua última visita tenha sido há mais de 6 meses, deverá agendar uma antes das 20 semanas.
E aqui surge a questão mencionada no início deste artigo. Por norma, estas consultas são tão dispendiosas que, para muitos portugueses, tratar dos dentes só em última instância. Foi a pensar nisso que a Direção-Geral da Saúde criou o Cheque Dentista.
Então mas o que é isto? Todas as grávidas têm direito? Não é um direito apenas em vigor para as crianças?
O cheque dentista funciona como um voucher que dá acesso a um conjunto de cuidados ao nível da saúde oral, quer na prevenção, quer no diagnóstico e tratamento.
Este voucher pode ser utilizado em qualquer parte do país, mas o médico deverá ter aderido ao Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral. Para saber quais os médicos aderentes, pode consultar a lista no sítio da internet do SNS24.
Todas as grávidas têm direito a 3 cheques dentista, completamente gratuitos e que devem ser utilizados até 60 dias após o parto.
Não se esqueça que a saúde oral é muito importante e que uma grávida saudável significa um bebé saudável.
Aposte na sua saúde oral... pelo seu filho!
o pai, a mãe e eu
Os cocós dos bebés
"O meu filho não faz cocó!" ou "O meu filho faz cocó verde!" ou ainda "O meu filho faz demasiado cocó!". Estas são as frases que mais ouço durante as minhas consultas. Manifestamente uma das maiores preocupações dos pais, nos primeiros meses de vida dos seus filhos.
Mas qual a razão desta preocupação? Serão as cólicas que muitas vezes estão associadas? Será a informação que se encontra pela internet e que nem sempre é a mais fidedigna?
Uma vez que a preocupação é frequente e transversal, decidi que este tema merecia ser alvo de um artigo. Aqui tentarei esclarecer quanto à coloração, frequência e consistência das fezes e deixar algumas dicas que poderão ser úteis para a resolução de alguns problemas que possam surgir.
Sendo assim, aqui vamos nós.
Durante a gestação, o intestino encontra-se completamente formado a partir das 8 semanas. Por volta das 10 semanas de gestação, este começa a trabalhar, absorvendo o líquido amniótico que o feto ingere e que será eliminado em forma de urina. É nesta altura que se começa a produzir o mecónio (primeiras fezes do bebé, verde e espesso, com aspeto tipo "pastilha elástica").
Por norma e em situações normais, o bebé apenas evacua o mecónio após o nascimento, tendo o colostro (primeiro leite produzido pela mãe e que parece uma "aguadilha") uma função facilitadora para esta primeira dejeção. Ao fim de mais ou menos 3 dias, as características das fezes mudam, dependendo do tipo de leite (materno ou artificial) ingerido pelo bebé. Caso a mãe amamente, as fezes características do leite materno são amarelas, líquidas e a maior parte das vezes com grânulos, tipo "papa mal passada". Caso o leite oferecido seja o artificial, as fezes tendem a ser mais pastosas e uniformes, de cor também amarelada.
Por vezes, as fezes tomam a tonalidade verde ou acastanhada. Esta mudança de cor poderá estar associada à alimentação da mãe, caso esteja a amamentar. No entanto, existe outra corrente que refere que o contacto do ar com as fezes na fralda oxida-as, atribuindo-lhes a tonalidade verde. Por isso, não precisam preocupar-se!
Há, no entanto, necessidade de procurar ajuda por parte do médico assistente e/ ou enfermeira, caso as fezes:
- estejam muito escurecidas (e aparentemente com sangue misturado) e tenham cheiro muito intenso;
- sejam muito claras/ esbranquiçadas;
- tenham sangue vivo;
- sejam muito moldadas ("bolinhas").
Como já referi antes, as fezes tendem a ser mais líquidas e, nas primeiras semanas, será normal que haja uma dejeção em cada mamada. Contudo, não há bebés iguais, com o mesmo comportamento e, por isso, cada um terá um padrão intestinal diferente. Assim, também é normal que o seu bebé tenha apenas uma dejeção por dia. Após o primeiro mês de vida, dizem os especialistas que, os bebés poderão passar quase 5 dias sem evacuar, dado que se pensa que nesta fase todo o leite materno ingerido é totalmente absorvido. Obviamente que se o bebé mostrar desconforto, deverá ajudá-lo a evacuar, com massagem abdominal e/ ou estimulação. No entanto, aconselho-vos a tentar que o bebé evacue pelo menos uma vez por dia.
Como já percebemos, o número elevado de dejeções não é de todo sinónimo de diarreia, pelo que não deverá suscitar qualquer preocupação.
Aos 6 meses de vida, com o início da alimentação complementar, as características das fezes irão assemelhar-se muito às do adulto. Fezes castanhas, mais moldadas e cheiro mais intenso. Alguns alimentos tendem a provocar obstipação (dificuldade em evacuar), pelo que, em caso de dúvida, devem contactar a enfermeira/ médico que vos acompanha.
Por último, pensando que por vezes as fezes se tornam mais ácidas e provocam assaduras, deixar uma dica sobre a higiene do rabinho.
No dia-a-dia, em casa, devem utilizar água e sabão e um pano para secar devidamente a pele do bebé. As toalhitas deverão ter uso exclusivo fora de casa, já que não se torna prático levar água num recipiente, para lavar o rabinho. Isto porque, o uso permanente de toalhitas fragiliza a pele e promove, elas próprias, assaduras.
o pai, a mãe e eu
A baba e os dentes
É vulgar dizer-se que um bebé, quando começa a "babar-se" (salivar) muito, tem os dentes prestes a nascer. Mas, se o seu bebé tem menos de 6 meses, a causa não será essa.
Faz parte do normal desenvolvimento da criança, esta começar a salivar em grande quantidade, entre os 2 e os 4 meses. É nesta altura que as glândulas salivares (glândulas que estão na boca e que produzem saliva) iniciam a sua produção de saliva. Contudo, este amadurecimento não é acompanhado pelo desenvolvimento muscular da boca e garganta (orofaringe), o que faz com que a criança não consiga deglutir a maior parte da saliva que é produzida. Esta situação poderá durar até após os 12 meses. Note-se que, principalmente na fase adulta, as glândulas salivares produzem, por dia, perto de 1 a 2L de saliva.
Parece-nos importante salientar que a saliva desempenha um importante papel na saúde oral e na digestão. Ela lubrifica e humedece os alimentos, facilitando a mastigação e deglutição. Ajuda também, através dos seus componentes, a iniciar a digestão. Para além disso, ao humedecer a boca, permite controlar o crescimento de bactérias, diminuindo a probabilidade de aparecerem cáries.
Mas, o que poderá fazer para evitar que o seu filho permaneça molhado devido à baba?
Com o aumento da saliva, a criança passa a ter o rosto e pescoço molhados. Se não for frequentemente limpo, a pele poderá macerar e levra a infeções provocadas por fungos. Desta forma deve:
- colocar um babete na criança e mudá-lo com regularidade;
- secar, com frequência, a cara e pescoço, para que estas zonas não fiquem molhadas durante muito tempo;
- caso a pele do pescoço comece a ficar avermelhada, pode colocar uma camada muito fina sa pomada que utiliza no rabinho;
- vigiar sinais de agravamento e consultar a enfermeira/ médica de família/ pediatra, caso perceba que não há melhoras nos sinais da pele.
Não obstante, também é verdade que, quando os dentes começam a nascer, a salivação pode acontecer de forma acentuada, devido ao desconforto gerado pelo rompimento da gengiva.
Esta situação, por norma, ocorre a partir dos 6 meses. Pode verificar que o seu bebé fica muito incomodado, as gengivas estão inchadas e vermelhas e a criança tende a levar tudo à boca e "raspar" as gengivas.
Assim, aconselhamos:
- ofereça um mordedor, alguns dos quais têm gel que deve refrigerar (no frigorífico ou congelador) antes de oferecer à criança, já que isso irá proporcionar alívio do desconforto, por diminuição da inflamação;
- pode utilizar uma compressa embebida em água fresca e aplicar nas gengivas da criança;
- utilizar algum produto natural, adquirido na Farmácia e que proporcione alívio do desconforto.
O nascimento dos dentes provoca algum desconforto adicional na criança?
É frequente os pais associarem a diarreia ou outros sintomas gastrointestinais, ao nascimento dos dentes. No entanto, esta relação não é causa efeito. O que poderá acontecer é uma diminuição da imunidade e, como as crianças passam a estar mais sensíveis, levar a que adoeçam mais facilmente.
Caso haja alguma alteração, procurem o apoio do profissional de saúde que vos tem acompanhado.
Quando os dentes rompem, há algum cuidado a ter?
Sim! Quando os dentes começarem a romper, deve ter o cuidado de lavar os dentinhos pelo menos 2 vezes ao dia, sendo que uma das vezes deve, obrigatoriamente, ser ao deitar.
Para a higiene dos dentes, poderá utilizar inicialmente uma dedeira ou compressa. Mas poderá adquirir uma escova com cerdas macias e utilizar pasta de dentes para crianças (com flúor na quantidade de 1000 a 1500 ppm).
Quando deverá ser feita a primeira visita ao dentista?
A primeira visita deverá ser feita assim que o primeiro dente romper, ou seja, a partir dos 6 meses. Pode parecer-vos estranho, mas nesta altura o dentista colherá os dados da vossa história ao nível da saúde oral e identificará o risco para a criança. Quanto mais cedo esta avaliação for feita, com maior antecedência se inicia a prevenção de cáries. Para além disso, vai permitir à criança familiarizar-se com o dentista e toda a parafernália existente no consultório, levando a menos momentos de ansiedade, no futuro. Em todo o caso, poderão ler sobre esta questão no artigo publicado no nosso blogue.
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