"O meu filho não faz cocó!" ou "O meu filho faz cocó verde!" ou ainda "O meu filho faz demasiado cocó!". Estas são as frases que mais ouço durante as minhas consultas. Manifestamente uma das maiores preocupações dos pais, nos primeiros meses de vida dos seus filhos. 

Mas qual a razão desta preocupação? Serão as cólicas que muitas vezes estão associadas? Será a informação que se encontra pela internet e que nem sempre é a mais fidedigna?

Uma vez que a preocupação é frequente e transversal, decidi que este tema merecia ser alvo de um artigo. Aqui tentarei esclarecer quanto à coloração, frequência e consistência das fezes e deixar algumas dicas que poderão ser úteis para a resolução de alguns problemas que possam surgir. 

Sendo assim, aqui vamos nós. 

Durante a gestação, o intestino encontra-se completamente formado a partir das 8 semanas. Por volta das 10 semanas de gestação, este começa a trabalhar, absorvendo o líquido amniótico que o feto ingere e que será eliminado em forma de urina. É nesta altura que se começa a produzir o mecónio (primeiras fezes do bebé, verde e espesso, com aspeto tipo "pastilha elástica"). 

Por norma e em situações normais, o bebé apenas evacua o mecónio após o nascimento, tendo o colostro (primeiro leite produzido pela mãe e que parece uma "aguadilha") uma função facilitadora para esta primeira dejeção. Ao fim de mais ou menos 3 dias, as características das fezes mudam, dependendo do tipo de leite (materno ou artificial) ingerido pelo bebé. Caso a mãe amamente, as fezes características do leite materno são amarelas, líquidas e a maior parte das vezes com grânulos, tipo "papa mal passada". Caso o leite oferecido seja o artificial, as fezes tendem a ser mais pastosas e uniformes, de cor também amarelada. 

Por vezes, as fezes tomam a tonalidade verde ou acastanhada. Esta mudança de cor poderá estar associada à alimentação da mãe, caso esteja a amamentar. No entanto, existe outra corrente que refere que o contacto do ar com as fezes na fralda oxida-as, atribuindo-lhes a tonalidade verde. Por isso, não precisam preocupar-se! 

Há, no entanto, necessidade de procurar ajuda por parte do médico assistente e/ ou enfermeira, caso as fezes: 

  • estejam muito escurecidas (e aparentemente com sangue misturado) e tenham cheiro muito intenso;
  • sejam muito claras/ esbranquiçadas;
  • tenham sangue vivo;
  • sejam muito moldadas ("bolinhas"). 

Como já referi antes, as fezes tendem a ser mais líquidas e, nas primeiras semanas, será normal que haja uma dejeção em cada mamada. Contudo, não há bebés iguais, com o mesmo comportamento e, por isso, cada um terá um padrão intestinal diferente. Assim, também é normal que o seu bebé tenha apenas uma dejeção por dia. Após o primeiro mês de vida, dizem os especialistas que, os bebés poderão passar quase 5 dias sem evacuar, dado que se pensa que nesta fase todo o leite materno ingerido é totalmente absorvido. Obviamente que se o bebé mostrar desconforto, deverá ajudá-lo a evacuar, com massagem abdominal e/ ou estimulação. No entanto, aconselho-vos a tentar que o bebé evacue pelo menos uma vez por dia. 

Como já percebemos, o número elevado de dejeções não é de todo sinónimo de diarreia, pelo que não deverá suscitar qualquer preocupação. 

Aos 6 meses de vida, com o início da alimentação complementar, as características das fezes irão assemelhar-se muito às do adulto. Fezes castanhas, mais moldadas e cheiro mais intenso. Alguns alimentos tendem a provocar obstipação (dificuldade em evacuar), pelo que, em caso de dúvida, devem contactar a enfermeira/ médico que vos acompanha. 

Por último, pensando que por vezes as fezes se tornam mais ácidas e provocam assaduras, deixar uma dica sobre a higiene do rabinho. 

No dia-a-dia, em casa, devem utilizar água e sabão e um pano para secar devidamente a pele do bebé. As toalhitas deverão ter uso exclusivo fora de casa, já que não se torna prático levar água num recipiente, para lavar o rabinho. Isto porque, o uso permanente de toalhitas fragiliza a pele e promove, elas próprias, assaduras. 


o pai, a mãe e eu