Toxoplasmose... o que é e que cuidados devemos ter?
quarta-feira, 31 de outubro de 2018
No início da gravidez, uma das questões mais frequentes é o que se pode ou não comer. Apesar da premissa "gravidez não é doença", existem alguns cuidados a ter, principalmente se não for imune à toxoplasmose.
E o que é a toxoplasmose?
O toxoplasma é um parasita, que em caso de infetar uma mulher grávida, pode causar malformações fetais graves e/ ou morte fetal. A contaminação da grávida pode existir através de quistos pela ingestão de carne crua ou mal cozinhada, ou por oocistos através do contacto com solos, areias de gatos, águas contaminadas ou ingestão de frutas ou vegetais mal lavados.
O ciclo de contaminação ocorre quando o gato come carne crua contaminada eliminando os parasitas nas fezes. Estes podem contaminar a terra e a água, outros animais, frutas e vegetais.
É importante, de forma a ser feito um correto aconselhamento, saber se a mulher é ou não imune à toxoplasmose, idealmente ainda no período antes de engravidar. Tal como a imunidade para a rubéola, a imunidade para a toxoplasmose é duradoura e protetora. Se numa gravidez prévia já existia imunidade, esta permanecerá e não justifica repetir a análise.
Se o resultado da serologia mostrar IgM negativa e IgG positiva - existe IMUNIDADE. No caso da serologia ser IgM negativa e IgG negativa, a grávida não tem imunidade para a toxoplasmose e por isso deverá ter alguns cuidados durante a gravidez, dos quais iremos falar de seguida.
A prevenção é a melhor forma de evitar esta infeção, através de cuidados tanto dietéticos como de higiene.
Que cuidados devemos ter?
Todas as grávidas não imunes à toxoplasmose devem ser alertadas para não ingerir carne crua ou mal cozinhada, o que inclui também carnes curadas, fumadas ou secas. Devem ser também evitados vegetais crus e frutas provenientes da terra, sobre as quais não haja certeza de que estejam corretamente lavadas, tal como não ingerir água que possa estar contaminada.
É também importante alertar para uma correta higienização das mãos após trabalhos de jardinagem ou manipulação de areias dos gatos, sendo nestes casos recomendada a utilização de luvas. Após a manipulação de carne crua os cuidados de higienização das mãos também não devem ser esquecidos.
Gatos domésticos criados apenas com ração e que não saem de casa têm muito menor risco de serem infetantes, pelo que não é necessário evitar o seu contacto.
Em relação à temperatura, o parasita fica inativo tanto com o calor, cozinhando com temperaturas acima dos 67ºC, como com o frio, com a congelação a -12ºC por um período de, pelo menos, 3 dias.
Em Portugal, nas grávidas não imunes à toxoplasmose, realiza-se o rastreio serológico por análises ao sangue, durante a gravidez. Uma grávida poderá ter a infeção a toxoplasmose durante a gravidez, sem se aperceber. Os sintomas poderão ser discretos, similares a uma síndrome gripal, pelo que poderá só ser detetada por análises.
Apesar destes cuidados, não devemos esquecer a importância de ter uma alimentação saudável e equilibrada, uma regra que todos devemos seguir ao longo da nossa vida!
Patrícia Isidro Amaral
Brincar com as vogais
quarta-feira, 24 de outubro de 2018
Por esta altura, as vogais fazem parte não só da rotina de estudos, mas também do dia-a-dia do seu filho. São elas o início da grande aventura que é "aprender a ler". Não sabe como ajudar o seu filho ou está com dificuldades nessa tarefa? Não se preocupe! Pode ser mais fácil do que imagina... com a sua paciência e persistência ele sentir-se-á mais amparado e desafiado para aprender cada dia mais e melhor. Incentive-o a ler e a identificar as vogais em coisas simples, como no seu nome, em brinquedos, embalagens, sinalização ou desenhos animados.
Procure por jogos e livros do interesse do seu filho que poderá comprar a baixo custo ou reproduzir em casa, para ajudar na aprendizagem das vogais. Com eles, conseguirá manter a atenção da criança na tarefa e fará com que ela tenha mais interesse e facilidade em associar as vogais a imagens e sons.
A fonologia (sons) é importante ser trabalhada. Primeiro são ensinados os sons de cada letra individualmente e só depois são construídas as misturas de sons, de modo a que as crianças formem as palavras. Para isso, é preciso que o seu filho perceba que as palavras são formadas por fonemas, que são os sons e aprenda a decodificar, ou seja, entenda que os fonemas e os grafemas formam as palavras e aprenda as regras da escrita. Dessa forma, apresente ao seu filho as vogais orais (a, ê, é, i, ô, ó, u) e as vogais nasais (am, em, im, om, um). Com isto, ele será capaz de construir sozinho a pronúncia de cada um. Este método pode ser aplicado em curtos espaços de tempo até que a criança se familiarize.
Por meio da música, a memorização e aprendizagem podem tornar-se mais fáceis e, consequentemente, a sua tarefa de como ensinar vogais. Sendo assim, procure em livros, na internet ou em desenhos animados na televisão, algumas músicas educativas. Geralmente elas são em forma de poema ou ensinam até mesmo como escrever cada letrinha. Após isto, cante com a criança e faça-a copiar as vogais (sozinhas ou a dar a mão) para um caderno. Assim, ela explorará não só os sons das vogais, mas também os ditongos e a grafia de cada uma. Recorte das revistas e jornais as vogais e façam colagens divertidas e coloridas. Além de mais fácil, poderá ser divertido para todos.
Deixo como sugestões de leitura algumas obras criativas, muito divertidas, que vão prender a atenção dos mais pequeninos e ajudam pais e filhos a superar este desafio juntos.
Não se esqueça que um aluno que lê é um aluno que aprende mais e melhor!
Boas leituras!
Nota: Imagens dos livros retirados do Google Imagens
Teresa Alexandre
Cães de Ajuda Social - Crianças com Trissomia 21 e Autismo
quarta-feira, 17 de outubro de 2018
Vestindo um colete vermelho com a identificação de "Cão de Terapia", a Sueca viaja no carro, caminho ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA). Entra com confiança no hospital, em direção ao Centro de Neuropediatria e Desenvolvimento onde aguardará a chegada da primeira criança. É sexta-feira, quando o Projeto TAA21 decorre. Ao longo da manhã, quatro crianças com Trissomia 21 farão sessão de neurorreabilitação com apoio na terapia assistida por animais.
Focadas no aumento do bem-estar e da autonomia de pessoas com diversidade funcional e suas famílias, a Associação Kokua desenvolve programas de apoio com cães de ajuda social. O cão de ajuda social, enquanto complemento educativo-terapêutico ou apoio na realização de tarefas quotidianas, é um elemento multifuncional, multissensorial e com um forte aporte socioafetivo. A sua ajuda é variada e está organizada nos programas de Intervenção Assistida por Animais (IAA), de Cães de Assistência e o Programa de Irmãos.
A Associação Kokua orienta, principalmente, os seus programas à população com Multideficiência, Deficiência e Perturbação do Espetro do Autismo (PEA). O Programa de IAA está focado na planificação e desenvolvimento de projetos onde o principal objetivo é a introdução do Cão de Ajuda Social (ou Cão de Terapia) em processos educativo-terapêuticos. Comummente, estes programas nascem para complementar processos de reabilitação por forma a melhorar o interesse, motivação, desempenho e desenvolvimento dos utentes/ alunos que neles se encontram inseridos.
Em base à nossa experiência, a introdução de um Cão de Terapia nos processos de reabilitação em populações com Trissomia 21, PEA ou outras Perturbações do Desenvolvimento tem um impacto positivo no envolvimento e motivação de todos os intervenientes (utente/ aluno, família e profissionais). A chegada do animal potencia a participação do utente/ aluno através do aumento da motivação e envolvimento na tarefa, nas quais melhoram os tempos de atenção/ concentração, a organização espacial, a aceitação dos tempos de espera, interesse, respeito e partilha com o outro. A intenção comunicativa aumenta e, por vezes, verifica-se uma maior facilidade no jogo simbólico.
Também observamos um aumento na aceitação da tarefa proposta, assim como uma melhoria na finalização da atividade para dar início a um novo jogo. Os profissionais com os quais trabalhamos usualmente referem que a participação do Cão de Terapia melhora a sua própria motivação, bem como a criatividade no desenho de sessão e reduz a ansiedade, uma vez que aumenta a probabilidade de sucesso no desenvolvimento das atividades planeadas. Por outro lado, os pais também comunicam a redução da ansiedade devido ao maior nível de participação e produtividade nas sessões, havendo geralmente uma antecipação positiva da sessão de trabalho (por exemplo, muitas crianças comunicam vontade de voltar a ver ou brincar com o cão).
O Programa de Cães de Assistência visa a seleção, treino, entrega e seguimento dos mesmos. Estes animais têm como principal função potenciar a autonomia e independência dos seus usuários, introduzidos maioritariamente em fases compensatórias, onde o cão atua nas atividades onde se apresenta maior nível de dificuldade, no decorrer da rotina diária. Pode verificar-se, por exemplo, nos cães-guia ao contornar um obstáculo, nos cães de serviço ao abrir uma porta ou no cão-sinal ao alertar que alguém tocou à campainha.
O Cão de Serviço para Crianças com Autismo (CSCA) distingue-se pois este é incluído na família em fase reabilitadora, isto é, o animal atua como um potenciador do processo reabilitador, trabalhando, fora de casa, como um apoio no aumento da segurança viária e proporcionando padrões de caminhada mais adequados na criança (ritmo, direção e extinção dos comportamentos de fuga) e, dentro de casa ou em contextos terapêuticos, atuando de forma mais semelhante a um Cão de Terapia.
São inúmeras as formas como os Cães de Ajuda Social podem ser um benefício nos processos educativo-terapêuticos de crianças, adolescentes ou adultos com deficiência, multideficiência ou PEA. Devido à variabilidade individual de cada patologia e indivíduo com os quais trabalhamos, é importante compreender que tipo e de que forma os Cães de Ajuda Social poderão ser introduzidos na rotina semanal das famílias e melhorar a qualidade de vida de todos os elementos.
Já é meio dia e a Sueca despede-se da última criança do Projeto TAA21. Sai pela porta da sala, ainda com o seu colete vermelho de Cão de Terapia vestido e, em direção à porta de saída da Unidade, recebe os últimos mimos do dia por parte da equipa e utentes do CHUA.
Também observamos um aumento na aceitação da tarefa proposta, assim como uma melhoria na finalização da atividade para dar início a um novo jogo. Os profissionais com os quais trabalhamos usualmente referem que a participação do Cão de Terapia melhora a sua própria motivação, bem como a criatividade no desenho de sessão e reduz a ansiedade, uma vez que aumenta a probabilidade de sucesso no desenvolvimento das atividades planeadas. Por outro lado, os pais também comunicam a redução da ansiedade devido ao maior nível de participação e produtividade nas sessões, havendo geralmente uma antecipação positiva da sessão de trabalho (por exemplo, muitas crianças comunicam vontade de voltar a ver ou brincar com o cão).
O Programa de Cães de Assistência visa a seleção, treino, entrega e seguimento dos mesmos. Estes animais têm como principal função potenciar a autonomia e independência dos seus usuários, introduzidos maioritariamente em fases compensatórias, onde o cão atua nas atividades onde se apresenta maior nível de dificuldade, no decorrer da rotina diária. Pode verificar-se, por exemplo, nos cães-guia ao contornar um obstáculo, nos cães de serviço ao abrir uma porta ou no cão-sinal ao alertar que alguém tocou à campainha.
O Cão de Serviço para Crianças com Autismo (CSCA) distingue-se pois este é incluído na família em fase reabilitadora, isto é, o animal atua como um potenciador do processo reabilitador, trabalhando, fora de casa, como um apoio no aumento da segurança viária e proporcionando padrões de caminhada mais adequados na criança (ritmo, direção e extinção dos comportamentos de fuga) e, dentro de casa ou em contextos terapêuticos, atuando de forma mais semelhante a um Cão de Terapia.
São inúmeras as formas como os Cães de Ajuda Social podem ser um benefício nos processos educativo-terapêuticos de crianças, adolescentes ou adultos com deficiência, multideficiência ou PEA. Devido à variabilidade individual de cada patologia e indivíduo com os quais trabalhamos, é importante compreender que tipo e de que forma os Cães de Ajuda Social poderão ser introduzidos na rotina semanal das famílias e melhorar a qualidade de vida de todos os elementos.
Já é meio dia e a Sueca despede-se da última criança do Projeto TAA21. Sai pela porta da sala, ainda com o seu colete vermelho de Cão de Terapia vestido e, em direção à porta de saída da Unidade, recebe os últimos mimos do dia por parte da equipa e utentes do CHUA.
Daiana Ferreira
www.kokua.pt
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Instagram @associacaokokua
geral@kokua.pt
Daiana Karen Ferreira
segunda-feira, 15 de outubro de 2018
Daiana Karen Ferreira, 27 anos, fundadora e presidente da Associação Kokua - Cães de Ajuda Social, é licenciada em Psicologia, pelo ISCTE- IUL, pós-graduada em Intervenção Multidisciplinar na Perturbação do Espetro do Autismo, pelo CRIAP e frequenta o Mestrado em Intervenção e Mediação Familiar da Universidad de Sevilla.
Durante dois anos aprofundou a sua formação na área dos cães de ajuda social, na Fundación Bocalán, sendo Instrutora de Cães de Assistência e Especialista em Intervenções Assistidas por Animais.
Durante dois anos aprofundou a sua formação na área dos cães de ajuda social, na Fundación Bocalán, sendo Instrutora de Cães de Assistência e Especialista em Intervenções Assistidas por Animais.
Nutrição nos primeiros 1000 dias de vida - Período Periconcecional
sexta-feira, 12 de outubro de 2018
Uma alimentação completa e equilibrada é essencial para o nosso bem-estar físico e psicológico. Apesar de esta ser uma verdade transversal a todas as fases da vida, assume particular importância em determinados momentos. O período periconcecional é um deles!
Neste artigo será abordada a importância da alimentação e suplementação nos primeiros 100 dias de vida. Este período, desde a conceção até aos 24 meses de idade, constitui uma fase crucial para o desenvolvimento e programação da saúde futura do bebé. Já na década de 80, através da "Hipótese de Barker", se estabelecia uma relação entre a programação fetal e o aparecimento de doenças crónicas na vida adulta.
A preconceção, não abrangida nestes 100 dias, tem também um impacto significativo na saúde das gerações futuras. Embora desejável, muitas das vezes, não é possível atuar nesta fase, dado ainda não existir um acompanhamento médico e/ ou nutricional.
O período gestacional é marcado por inúmeras alterações fisiológicas na mulher. Fatores como aumento do volume sanguíneo, formação da placenta e do líquido amniótico e o crescimento e desenvolvimento do bebé, justificam, naturalmente, o aumento das necessidades da mulher, sejam elas energéticas, nutricionais ou hídricas.
Focando-nos primeiramente nos micronutrientes, o ácido fólico, ou vitamina B9, é o nutriente de que todos ouvimos falar na gravidez. Trata-se de uma vitamina essencial ao desenvolvimento do tubo neural e formação dos glóbulos vermelhos do feto, cujo défice pode ser responsável por malformações congénitas como a espinha bífida. Por esse motivo, a sua demanda aumenta no período da gravidez, de 400 para 600 mcg/ dia.
É recomendado o início da suplementação diária de 400 mcg (0,4 mg), 3 meses antes da conceção, devendo esta prolongar-se até ao final do primeiro trimestre (12 semanas de gravidez). Contudo, importa salientar que a toma de suplementos com doses superiores à recomendada, comum no mercado nacional, apenas se justifica em mulheres de risco (filho com defeito do tubo neural e/ ou história familiar). Desta forma, na generalidade dos casos, os comprimidos devem ser partidos, de forma a ser ingerida apenas a dose recomendada. A par da suplementação, é recomendado um reforço do consumo das principais fontes alimentares de folatos, como é o caso dos vegetais de folha verde como o espinafre e a couve-de-bruxelas, leguminosas, ovo, cereais integrais e frutos gordos.
O iodo, encontrado essencialmente no pescado e no sal iodado, é também um nutriente essencial para o desenvolvimento cognitivo da criança, devendo ser suplementado no período periconcecional. Segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), a grávida e a lactante devem ser suplementadas com 150 a 200 mcg/ dia de iodeto de potássio. Sempre que possível, esta suplementação deve ser também iniciada antes da interrupção do método contracetivo. A substituição do sal comum por sal iodado é também uma medida segura e efetiva para aumentar o aporte deste mineral.
O ferro é igualmente crucial neste perído, verificando-se frequentemente, necessidade da sua suplementação (30 a 60 mg/ dia). De forma a aumentar o seu aporte, é importante reforçar o consumo de vegetais de folha verde e leguminosas, não devendo ser excluído, por completo, o consumo de carne vermelha. O reforço do consumo de alimentos ricos em vitamina C é uma forma de potenciar a absorção do ferro da refeição, evitando o surgimento de anemia materna, nascimento prematuro e baixo peso à nascença. Por outro lado, deve limitar-se o consumo de cafeína, uma vez que esta apresenta o efeito oposto. Para além disso, a cafeína passa através da placenta e do leite materno, exercendo uma ingestão máxima diária de 200 mg (1 a 2 cafés expressos) durante o período da gravidez e lactação.
Relativamente à suplementação nutricional, é importante salientar que a sua toma deve ser sempre iniciada mediante avaliação e prescrição de um profissional de saúde qualificado.
No que toca ao peixe gordo, o seu consumo é fundamental em qualquer fase da vida, dado tratar-se de uma excelente fonte de gordura monoinsaturada, particularmente de ácidos gordos ómega-3 como o EPA (ácido eicosapentanóico) e o DHA (ácido docosahexaenóico). Na grávida, a sua importância é acrescida, uma vez que é essencial a um bom desenvolvimento do sistema nervoso e da retina do feto. Contudo, é necessário ter em atenção o nível de contaminação do peixe, nomeadamente em metilmercúrio, um metal pesado nocivo para a saúde neurológica do feto. É recomendado que as grávidas limitem o consumo de peixes como o tubarão, peixe-espada, espadarte e atum (alguns tipos), uma vez que são as principais fontes deste contaminante. A sardinha, o salmão e o arenque são exemplos de peixes com baixo teor de mercúrio e uma quantidade interessante de ómega-3. Outras opções seguras incluem a pescada, o bacalhau, a solha e o marisco (neste último caso, poderá haver risco de contaminação e de intoxicações alimentares, assunto que irá ser abordado com mais detalhe num futuro artigo). Para além do seu teor em ómega-3, o peixe é uma importante fonte de proteína e iodo, devendo ser consumido 2 a 3 vezes por semana, tal como recomendado para a restante população.
No manual Alimentação e Nutrição na Gravidez, da DGS (que pode encontrar aqui http://www.alimentacaosaudavel.dgs.pt/biblioteca/saude-e-doenca-gravidez/ ), pode consultar o quadro onde estão representadas as necessidades energéticas e de alguns micronutrientes no período da gravidez e lactação (p.5).
No que toca às necessidades energéticas, apesar de se verificar um aumento de 340 kcal no 2º trimestre da gravidez e de 452 kcal no 3º, tal não significa que a grávida deva "comer por dois"! Mais importante que a quantidade, é a qualidade dos alimentos ingeridos. Por isso, devem ser privilegiados alimentos com elevada densidade nutricional, ricos em nutrientes essenciais a um bom desenvolvimento fetal e materno.
Quanto ao ganho ponderal, é recomendado que se inicie a gravidez com um Índice de Massa Corporal (IMC) dentro da normalidade (18,5 a 24,9 kg/ m2), sendo que o aumento de peso ideal vai depender do IMC prévio à gravidez, como pode consultar no manual referido anteriormente (p.4).
Por outro lado, uma boa hidratação materna (cerca de 2 a 2,5L de água/ dia) é particularmente importante nesta fase, uma vez que promove o bom funcionamento do organismo, previne infeções urinárias e a obstipação (a par da fibra e prática regular de atividade física) e melhora a circulação sanguínea. Desta forma é assegurada também uma boa hidratação do bebé, quer in utero, quer posteriormente através do leite materno.
A amamentação exclusiva até aos 6 meses de vida é recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), devendo prolongar-se de forma complementar à diversificação alimentar. O leite materno é um alimento rico do ponto de vista nutricional, suprindo e adaptando-se às necessidades da criança, ao longo do seu desenvolvimento. Para além da sua composição em micro e macronutrientes essenciais a um bom desenvolvimento do bebé, é rico em anticorpos, essenciais a um reforço do sistema imunitário, bem como em bactérias benéficas que colonizam a microbiota intestinal do bebé. Para além disto, contribui para um importante vínculo mãe-bebé beneficiando a saúde e o bem-estar de ambos. Parece ter um efeito protetor em relação ao risco de obesidade futura, diabetes tipo 2 e alergias do bebé, promovendo também a involução uterina e uma maior perda de peso no pós-parto e exercendo ainda um importante efeito anticoncecional. Por todas as razões, sempre que possível, deve ser a primeira opção na alimentação do bebé.
A gravidez, a par dos primeiros meses da vida da criança, constitui um período ideal para a reeducação dos hábitos alimentares de toda a família! É essencial a adoção de uma alimentação e estilo de vida equilibrados, já que a programação da saúde das gerações futuras começa na vida intrauterina.
Maria Inês Cardoso
Nutricionista (3793N)
Receitas saudáveis para toda a família
A nossa rubrica "Comer bem... Crescer melhor" regressou e com ela as Receitas saudáveis para toda a família.
Para este mês deixamos algumas sugestões que descobrimos no site Figos & Funghis e no site da Direção-Geral da Saúde. Esperamos que sejam do vosso agrado.
Robalo Grelhado com cogumelos salteados
Para o robalo
Ingredientes:
- 2 postas altas de robalo, livre de pele e espinhas;
- 1 fio de azeite;
- 1 colher (sopa) de raspas de casca de limão;
- pimenta e sal a gosto.
Modo de preparação:
- tempere as postas de peixe com azeite, o sal, a pimenta e as raspas de limão e esfregue bem.
- Aqueça uma frigideira e quando estiver bem quente coloque as postas de peixe. Deixe grelhar por 5 minutos de cada lado ou até perceber que o peixe está bem cozido, sem deixar passar do ponto (o que deixaria o peixe muito seco).
Para os cogumelos salteados
Ingredientes:
- 200g de cogumelos portobelo limpos e cortados em pedaços médios;
- 2 talos de alho-francês fatiados em pedaços de 3 cm;
- 1 dente de alho espremido;
- 2 colheres (sopa) de azeite;
- 1 ramo de tomilho fresco;
- pimenta e sal a gosto.
Modo de preparação:
- Aqueça o azeite numa frigideira e frite rapidamente o alho e o ramo de tomilho. Junte o alho-francês e refogue por 3 minutos.
- Junte os cogumelos e salteie na frigideira por 5 minutos. Ajuste o sal e a pimenta, a gosto. Deixe os cogumelos bem firmes e desligue. Sirva junto com o peixe grelhado.
Almôndegas de cabrito e legumes
Ingredientes:
- 400g tomate;
- 300g cabrito;
- 300g pão de mistura;
- 200g abóbora;
- 120g cebola;
- 1 ovo;
- 20g alho;
- pimenta q.b.
- manjericão q.b.
Modo de preparação:
- Comece por picar o cabrito. Misture à carne o ovo ligeiramente batido e o pão ralado. Faça pequenas bolas e reserve.
- Para o molho de tomate pique a cebola e o alho e corte o tomate em pedaços. Coloque tudo numa panela, junte um pouco de água se necessário, a pimenta e o manjericão. Deixe estufar até estar tudo cozinhado e triture com uma varinha mágica.
- Coloque as almôndegas no molho e deixe cozinhar cerca de 10 minutos.
- Acompanhe com a abóbora espiralizada ou em juliana.
Bolo de cenoura e laranja com especiarias
Ingredientes:
- 2 ovos tamalho L
- 120g açúcar amarelo;
- 3 colheres de sopa de azeite;
- 1 (100g) cenoura;
- 1 (200g) laranja;
- 7 colheres (sopa) de aveia;
- 100g farinha integral;
- 1 colher (sobremesa) de fermento em pó;
- 1 colher (sopa) ou 1 saqueta de chá preto;
- 1 colher (chá) noz-moscada;
- 1 colher (café) cravinho em pó;
- 1 colher (sopa) canela em pó.
Modo de preparação:
- Ligue o forno e regule-o para os 180ºC.
- Bata as gemas com o açúcar na batedeira até obter um creme. Adicione o azeite, a cenoura finamente ralada no crivo mais fino do ralador, a raspa da casca e o sumo da laranja e misture bem. Junte a aveia, a farinha, o fermento, o chá e as especiarias e mexa até a mistura estar uniforme.
- Bata as claras em castelo bem firme e incorpore-as delicadamente na massa. Deite tudo numa forma previamente untada e forrada com papel vegetal e leve ao forno durante 30 minutos.
Dica: Pode congelar as fatias de bolo.
Bom apetite, Famílias!!! Até para o mês que vem!
O Pai, a Mãe e Eu
Conhecer Montessori
quarta-feira, 10 de outubro de 2018
Numa altura em que as nossas crianças retomaram o caminho da escola, muitos de nós refletimos sobre a escola onde os nossos filhos estão a aprender, sobre a pedagogia que ali é posta em prática, conscientes de que o estilo pedagógico do professor dos nossos filhos vai determinar, e muito, não só as suas aprendizagens académicas, mas essencialmente a sua felicidade e o seu gosto por aprender.
Portugal tem vindo a abrir-se, ao longo dos últimos anos, às pedagogias alternativas, que são, antes de mais, outras formas de olhar a criança e de encarar o processo de aprendizagem.
Uma dessas pedagogias é o método Montessori. Descobri Montessori em França, há cerca de 3 anos quando procurava uma escola para o meu filho do meio, na altura com 6 anos. Procurava uma escola diferente: uma escola que respeitasse a sua necessidade de se mexer enquanto trabalha, uma escola que respeitasse a sua mente sonhadora e o seu corpo irrequieto. A dois passos da nossa casa abriu uma escola Montessori, que nos cativou pelo espaço interior, por privilegiar o contacto da criança com a natureza, pelos materiais pedagógicos e toda a possibilidade de aprender manipulando-os, mas acima de tudo, o que nos apaixonou foram os seus princípios pedagógicos.
A pedagogia Montessori é muito mais do que um simples método de educação: é uma verdadeira filosofia de vida que nos permite acompanhar a criança no seu desenvolvimento e contribuir para que se torne feliz e harmonioso. É, antes de mais, um método que potencia na criança a aquisição de competências essenciais para que cresça feliz: a autonomia, a autorregulação, a liberdade de escolha, a possibilidade de se movimentar livremente dentro do ambiente de aprendizagem, de descobrir a natureza sempre que sente essa necessidade, de aprender essencialmente com as outras crianças, de respeitar e ser respeitada na sua individualidade.
Observando o que acontece no mundo em que vivemos, é inevitável sentir que é extremamente urgente introduzirmos mudanças na pedagogia. Maria Montessori nutria um amor incondicional pelas crianças e acreditava genuinamente que são as crianças que, um dia, poderão mudar o mundo. Defendia a paz e criou uma pedagogia dirigida para o amor, o respeito e a paz. Desenvolveu o conceito de Educação Cósmica, que privilegia o desenvolvimento do respeito pela natureza. Hoje em dia, um pouco por todo o mundo, os pais escolhem a pedagogia Montessori para as suas crianças, no intuito de lhes proporcionar bem-estar e felicidade, mais do que sucesso académico. As crianças educadas de acordo com Montessori tornam-se crianças empáticas, confiantes, autónomas, focadas e felizes nas suas aprendizagens.
A Pedagogia Montessori é acima de tudo um novo olhar sobre as crianças. Um olhar focalizado sobre o portencial único e irrepetível de cada uma delas, um respeito pelo seu ritmo de aprendizagem, uma tomada de consciência da importância de lhes dar tempo para que possam absorver tudo à sua volta, respondendo assim às necessidades de uma forma excecional de inteligência que Maria Montessori denominou de Mente Absorvente.
As crianças ganham tempo para aprender ao seu ritmo. Por exemplo, ganham tempo para observar as formigas, as joaninhas e todos os pequenos objetos que se cruzam no seu caminho. Esse tempo ganha-se quando nos conseguimos desprender das metas curriculares e passamos a seguir as necessidades da criança. Isso resulta não apenas para as crianças pequenas, mas também para as mais crescidas, também para os adolescentes.
Montessori cria também uma transformação interior nos adultos. É muitas vezes uma conquista sobre o medo de deixar as crianças fazerem por si mesmas, um enxotar de ideias pré-concebidas sobre aquilo que elas são e não são capazes de fazer. É a adopção de um olhar diferente sobre cada uma delas individualmente, sem comparações, sem expetativas. E é também uma reorganização do ambiente onde a criança experimenta e explora. O ambiente é um dos pilares da pedagogia Montessori, seja em casa ou na escola. Colocar ao seu alcance tudo aquilo que necessitam para desenvolver a tão preciosa autonomia: os materiais pedagógicos com os quais elas vão fazer novas aprendizagens, os utensílios de cozinha para ajudar na preparação das refeições; os objetos de higiene para lavra as mãos, a cara os dentes, ... em perfeita autonomia; as suas roupas e os seus sapatos colocados à sua altura para poderem vestir-se e calçar-se sozinhos; a cama ao nível do chão para criar autonomia e serenidade também no sono e a aquisição ou até mesmo construção de todo um universo de materiais pedagógicos Montessori que permitem adquirir conhecimento e que vá ao encontro das necessidades de aprendizagem da criança, da sua curiosidade, da sua capacidade de observação, de concentração, ...
Montessori é um universo maravilhoso que se traduz na felicidade das crianças que, afinal de contas, é o que mais importa! Maria Montessori resumiu numa frase e de um modo genial aquilo que realmente importa em educação:
"Uma forma de medir a pertinência de um modelo educativo é o nível de felicidade da criança."
Sylvia de Sousa Guarda
Nota: Imagens gentilmente cedidas pela Mindful Montessori Portugal
Sylvia de Sousa Guarda
segunda-feira, 8 de outubro de 2018
Psicóloga infantil há mais de 15 anos, em que, para além da prática clínica, dinamizou diversos ateliers criativos para crianças até aos 6 anos de idade e workshops para pais e educadores em temáticas relacionadas com parentalidade, desenvolvimento e educação das crianças.
Formada em Pedagogia Montessori, dos 0 aos 3 anos e dos 3 aos 6 anos, na Montessori International Bordeaux (MIB), em França, pelo organismo de formação Apprendre Montessori, dirigido pela Educadora Montessori Sylvie D'Esclaibes.
Formadora Montessori em Portugal e França, em parceria com o organismo de formação Apprendre Montessori.
Criadora do site www.mindfulmontessoriportugal.wordpress.com e da página de Facebook associada Mindful Montessori Portugal.
A separação parental e o risco de privação da figura paterna
quarta-feira, 3 de outubro de 2018
As famílias organizam-se em função de aspetos individuais (biológicos e psicológicos) dos seus elementos e das circunstâncias socioeconómicas e culturais da sua época. A criança em processo de desenvolvimento movimenta-se por interações diárias com um meio em permanente mudança. Assim, desvios da norma são realidades dinâmicas, entendidas pela relação bidirecional da criança com o seu meio (também ele dinâmico e mutável) e devem ser contemplados segundo uma perspetiva desenvolvimental. Repare-se na evolução da sociedade que, com as suas diversas contradições e paradoxos, desafia constantemente a estrutura familiar, impondo necessárias readaptações e esquemas alternativos de convivência familiar. Ainda não existem modelos estanques e homogéneos no que respeita ao funcionamento das famílias, é sabido que a criança necessita do par conjugal adulto para construir no seu íntimo uma imagem positiva das relações afetivas e da salutar convivência. John Bowlby sublinha a importância da base segura, disponibilizada pelos pais, a partir da qual a criança explorará o mundo. Esta relação de vinculação, da maior importância para a estruturação psíquica da criança, possibilitar-lhe-á experienciar segurança e confiança em si própria e nos que a rodeiam. Para Serge Lebovici, da ameaça ou falência deste processo, poderão brotar a ansiedade e a raiva, a dor e a depressão.
Em jeito de esclarecimento prévio, não pretende esta minha exposição tomar o partido do pai ou do homem, numa espécie de solidariedade de género. Não nos faltarão exemplos de privações da figura materna, altamente prejudiciais, ainda que comprovadamente menos comuns. Por outro lado, não escasseiam também os exemplos de privações que se tornam necessárias, da figura paterna ou materna, por se terem revelado presenças tóxicas e desaconselhadas.
De facto, não restam dúvidas no que respeita ao papel primordial da mãe, enquanto prestadora de cuidados à criança e elemento fundamental para o seu adequado desenvolvimento físico e emocional. Em estreita comunhão com a sua cuidadora, a criança desenvolve competências de autorregulação, tão mais eficazes quanto mais forte o vínculo com ela estabelecido. Na verdade, a segurança e a qualidade desta vinculação, matriz das relações futuras, transportá-la-ão em segurança e harmonia ao longo dos sucessivos marcos do desenvolvimento psicoafetivo. No entanto, ainda que o contributo do pai não se encontre tão largamente destacado na literatura, o seu papel dinâmico neste processo não deve ser negligenciado. Entre outras funções, oferece um importante suporte à interação mãe-bebé e é um elemento imprescindível para o processo de separação e individuação da criança relativamente à figura da mãe. Sabe-se, inclusivamente, que a sua presença e disponibilidade promovem segurança, autoestima, independência e estabilidade emocional, parecendo potenciar o interesse e o envolvimento posterior com a criança. Segundo Donald Winnicott, as brincadeiras de maior agressividade poderão moldar a personalidade da criança, idealmente espelhada em modelos de conduta adequados oferecidos pela figura paterna. Pelo contrário, o seu distanciamento traduz-se na fragilidade do vínculo pai-filho, sobretudo tratando-se de crianças do sexo masculino, com repercussões indesejáveis no seu processo de desenvolvimento. De facto, a interação entre pai e filho constitui um fator determinante para o desenvolvimento cognitivo e social, facilitando a capacidade de aprendizagem e a integração da criança na comunidade. Crianças privadas da convivência com a figura paterna evidenciam maior probabilidade de problemas de identificação sexual, dificuldades no reconhecimento de limites e na aprendizagem de regras de convivência social, com uma maior propensão para envolvimento em comportamentos delinquentes.
A separação do par conjugal determina alterações nos relacionamentos e dinâmicas familiares. Quando em contexto de conflito, constitui uma adversidade psicossocial muito grave, representando um fator de risco para o desenvolvimento de perturbação emocional e/ ou comportamental nos filhos. Também a separação inesperada e mal compreendida pela criança, dotada de um aparelho psíquico ainda imaturo, poderá derivar em sentimentos de rejeição, de abandono, de culpa pela separação, de autodesvalorização. A própria opinião da criança relativamente ao pai poderá distorcer-se, por vezes por aspetos comunicacionais voluntários ou involuntários da progenitora presente. Alia-se ainda a influência afetiva da mãe (da qual a criança é dependente), por vezes complicada pela fixação da mesma nos seus próprios interesses ou pela preocupação excessiva e patológica com o filho, para excluir a figura paterna. Tal privação poderá ocorrer, pelo corte de relações entre o casal ou pelas contingências geográficas decorrentes da separação, impede a partilha de vivências diárias e a participação do pai no desenvolvimento físico e emocional do filho. Em idades precoces, os prejuízos para os vínculos afetivos são habitualmente definitivos e irreparáveis. Não raras vezes, tal prejuízo poderá estender-se às relações afetivas entre irmãos, sejam filhos de ambos os progenitores ou fruto das reconstituições familiares da díade conjugal separada.
Em suma, a ausência ou perceção de abandono do pai na infância poderão trazer diversas consequências para a criança, refletidas na vida adulta sob a forma de desequilíbrios na estruturação da personalidade.
A gestão adequada da separação pela díade parental permitirá mitigar as consequências da rutura para o processo de desenvolvimento da criança, cabendo aos profissionais de Saúde Mental a difícil tarefa de orientação e consciencialização destas mães e pais doridos pela separação, relativamente ao papel de cada um no psiquismo infantil e no desenvolvimento cognitivo, social e emocional dos seus filhos.
Vítor Ferreira Leite
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