Vestindo um colete vermelho com a identificação de "Cão de Terapia", a Sueca viaja no carro, caminho ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA). Entra com confiança no hospital, em direção ao Centro de Neuropediatria e Desenvolvimento onde aguardará a chegada da primeira criança. É sexta-feira, quando o Projeto TAA21 decorre. Ao longo da manhã, quatro crianças com Trissomia 21 farão sessão de neurorreabilitação com apoio na terapia assistida por animais.



Focadas no aumento do bem-estar e da autonomia de pessoas com diversidade funcional e suas famílias, a Associação Kokua desenvolve programas de apoio com cães de ajuda social. O cão de ajuda social, enquanto complemento educativo-terapêutico ou apoio na realização de tarefas quotidianas, é um elemento multifuncional, multissensorial e com um forte aporte socioafetivo. A sua ajuda é variada e está organizada nos programas de Intervenção Assistida por Animais (IAA), de Cães de Assistência e o Programa de Irmãos. 

A Associação Kokua orienta, principalmente, os seus programas à população com Multideficiência, Deficiência e Perturbação do Espetro do Autismo (PEA). O Programa de IAA está focado na planificação e desenvolvimento de projetos onde o principal objetivo é a introdução do Cão de Ajuda Social (ou Cão de Terapia) em processos educativo-terapêuticos. Comummente, estes programas nascem para complementar processos de reabilitação por forma a melhorar o interesse, motivação, desempenho e desenvolvimento dos utentes/ alunos que neles se encontram inseridos.


Em base à nossa experiência, a introdução de um Cão de Terapia nos processos de reabilitação em populações com Trissomia 21, PEA ou outras Perturbações do Desenvolvimento tem um impacto positivo no envolvimento e motivação de todos os intervenientes (utente/ aluno, família e profissionais). A chegada do animal potencia a participação do utente/ aluno através do aumento da motivação e envolvimento na tarefa, nas quais melhoram os tempos de atenção/ concentração, a organização espacial, a aceitação dos tempos de espera, interesse, respeito e partilha com o outro. A intenção comunicativa aumenta e, por vezes, verifica-se uma maior facilidade no jogo simbólico.

Também observamos um aumento na aceitação da tarefa proposta, assim como uma melhoria na finalização da atividade para dar início a um novo jogo. Os profissionais com os quais trabalhamos usualmente referem que a participação do Cão de Terapia melhora a sua própria motivação, bem como a criatividade no desenho de sessão e reduz a ansiedade, uma vez que aumenta a probabilidade de sucesso no desenvolvimento das atividades planeadas. Por outro lado, os pais também comunicam a redução da ansiedade devido ao maior nível de participação e produtividade nas sessões, havendo geralmente uma antecipação positiva da sessão de trabalho (por exemplo, muitas crianças comunicam vontade de voltar a ver ou brincar com o cão).


O Programa de Cães de Assistência visa a seleção, treino, entrega e seguimento dos mesmos. Estes animais têm como principal função potenciar a autonomia e independência dos seus usuários, introduzidos maioritariamente em fases compensatórias, onde o cão atua nas atividades onde se apresenta maior nível de dificuldade, no decorrer da rotina diária. Pode verificar-se, por exemplo, nos cães-guia ao contornar um obstáculo, nos cães de serviço ao abrir uma porta ou no cão-sinal ao alertar que alguém tocou à campainha.

O Cão de Serviço para Crianças com Autismo (CSCA) distingue-se pois este é incluído na família em fase reabilitadora, isto é, o animal atua como um potenciador do processo reabilitador, trabalhando, fora de casa, como um apoio no aumento da segurança viária e proporcionando padrões de caminhada mais adequados na criança (ritmo, direção e extinção dos comportamentos de fuga) e, dentro de casa ou em contextos terapêuticos, atuando de forma mais semelhante a um Cão de Terapia.

São inúmeras as formas como os Cães de Ajuda Social podem ser um benefício nos processos educativo-terapêuticos de crianças, adolescentes ou adultos com deficiência, multideficiência ou PEA. Devido à variabilidade individual de cada patologia e indivíduo com os quais trabalhamos, é importante compreender que tipo e de que forma os Cães de Ajuda Social poderão ser introduzidos na rotina semanal das famílias e melhorar a qualidade de vida de todos os elementos.


Já é meio dia e a Sueca despede-se da última criança do Projeto TAA21. Sai pela porta da sala, ainda com o seu colete vermelho de Cão de Terapia vestido e, em direção à porta de saída da Unidade, recebe os últimos mimos do dia por parte da equipa e utentes do CHUA.



Daiana Ferreira

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