Numa altura em que as nossas crianças retomaram o caminho da escola, muitos de nós refletimos sobre a escola onde os nossos filhos estão a aprender, sobre a pedagogia que ali é posta em prática, conscientes de que o estilo pedagógico do professor dos nossos filhos vai determinar, e muito, não só as suas aprendizagens académicas, mas essencialmente a sua felicidade e o seu gosto por aprender. 

Portugal tem vindo a abrir-se, ao longo dos últimos anos, às pedagogias alternativas, que são, antes de mais, outras formas de olhar a criança e de encarar o processo de aprendizagem. 

Uma dessas pedagogias é o método Montessori. Descobri Montessori em França, há cerca de 3 anos quando procurava uma escola para o meu filho do meio, na altura com 6 anos. Procurava uma escola diferente: uma escola que respeitasse a sua necessidade de se mexer enquanto trabalha, uma escola que respeitasse a sua mente sonhadora e o seu corpo irrequieto. A dois passos da nossa casa abriu uma escola Montessori, que nos cativou pelo espaço interior, por privilegiar o contacto da criança com a natureza, pelos materiais pedagógicos e toda a possibilidade de aprender manipulando-os, mas acima de tudo, o que nos apaixonou foram os seus princípios pedagógicos.






A pedagogia Montessori é muito mais do que um simples método de educação: é uma verdadeira filosofia de vida que nos permite acompanhar a criança no seu desenvolvimento e contribuir para que se torne feliz e harmonioso. É, antes de mais, um método que potencia na criança a aquisição de competências essenciais para que cresça feliz: a autonomia, a autorregulação, a liberdade de escolha, a possibilidade de se movimentar livremente dentro do ambiente de aprendizagem, de descobrir a natureza sempre que sente essa necessidade, de aprender essencialmente com as outras crianças, de respeitar e ser respeitada na sua individualidade. 

Observando o que acontece no mundo em que vivemos, é inevitável sentir que é extremamente urgente introduzirmos mudanças na pedagogia. Maria Montessori nutria um amor incondicional pelas crianças e acreditava genuinamente que são as crianças que, um dia, poderão mudar o mundo. Defendia a paz e criou uma pedagogia dirigida para o amor, o respeito e a paz. Desenvolveu o conceito de Educação Cósmica, que privilegia o desenvolvimento do respeito pela natureza. Hoje em dia, um pouco por todo o mundo, os pais escolhem a pedagogia Montessori para as suas crianças, no intuito de lhes proporcionar bem-estar e felicidade, mais do que sucesso académico. As crianças educadas de acordo com Montessori tornam-se crianças empáticas, confiantes, autónomas, focadas e felizes nas suas aprendizagens.






A Pedagogia Montessori é acima de tudo um novo olhar sobre as crianças. Um olhar focalizado sobre o portencial único e irrepetível de cada uma delas, um respeito pelo seu ritmo de aprendizagem, uma tomada de consciência da importância de lhes dar tempo para que possam absorver tudo à sua volta, respondendo assim às necessidades de uma forma excecional de inteligência que Maria Montessori denominou de Mente Absorvente.

As crianças ganham tempo para aprender ao seu ritmo. Por exemplo, ganham tempo para observar as formigas, as joaninhas e todos os pequenos objetos que se cruzam no seu caminho. Esse tempo ganha-se quando nos conseguimos desprender das metas curriculares e passamos a seguir as necessidades da criança. Isso resulta não apenas para as crianças pequenas, mas também para as mais crescidas, também para os adolescentes.






Montessori cria também uma transformação interior nos adultos. É muitas vezes uma conquista sobre o medo de deixar as crianças fazerem por si mesmas, um enxotar de ideias pré-concebidas sobre aquilo que elas são e não são capazes de fazer. É a adopção de um olhar diferente sobre cada uma delas individualmente, sem comparações, sem expetativas. E é também uma reorganização do ambiente onde a criança experimenta e explora. O ambiente é um dos pilares da pedagogia Montessori, seja em casa ou na escola. Colocar ao seu alcance tudo aquilo que necessitam para desenvolver a tão preciosa autonomia: os materiais pedagógicos com os quais elas vão fazer novas aprendizagens, os utensílios de cozinha para ajudar na preparação das refeições; os objetos de higiene para lavra as mãos, a cara os dentes, ... em perfeita autonomia; as suas roupas e os seus sapatos colocados à sua altura para poderem vestir-se e calçar-se sozinhos; a cama ao nível do chão para criar autonomia e serenidade também no sono e a aquisição ou até mesmo construção de todo um universo de materiais pedagógicos Montessori que permitem adquirir conhecimento e que vá ao encontro das necessidades de aprendizagem da criança, da sua curiosidade, da sua capacidade de observação, de concentração, ...

Montessori é um universo maravilhoso que se traduz na felicidade das crianças que, afinal de contas, é o que mais importa! Maria Montessori resumiu numa frase e de um modo genial aquilo que realmente importa em educação: 

"Uma forma de medir a pertinência de um modelo educativo é o nível de felicidade da criança."



Sylvia de Sousa Guarda














Nota: Imagens gentilmente cedidas pela Mindful Montessori Portugal