O iodo é um mineral essencial ao longo de todo o ciclo de vida, sendo dos nutrientes com mais impacto ao nível da função cerebral. Pelo seu papel na formação das hormonas tiroideias (conhecidas como triiodotironina e tiroxina ou T3 e T4, respetivamente), é crucial para a função neuronal, sendo que situações de deficiência são compatíveis com alterações da estrutura e função dos neurónios, com consequente prejuízo da função cognitiva.

Durante a gravidez, o feto depende do fornecimento materno de iodo. Se este for insuficiente, a produção de hormonas tiroideias (que se inicia no feto a partir da 20ª semana) vai ser deficitária, podendo comprometer o seu desenvolvimento, nomeadamente o nível da sua capacidade visual e verbal, atenção, memória e desenvolvimento motor. Em situações de défice severo, particularmente no início da gravidez, pode desenvolver-se um quadro de cretinismo, uma patologia que se caracteriza por atraso mental, anormalidades do crescimento e desenvolvimento motor, bem como problemas de fala e audição.

De facto, um estudo realizado em 3631 grávidas revelou que apenas 17% das grávidas estudadas em Portugal Continental tinham valores de iodo urinário (um indicador da ingestão de iodo) adequados, sendo que, nas regiões autónomas da Madeira e Açores, o valor encontrado foi ainda menor, revelando um insuficiente aporte deste mineral.

Pela sua importância, a Direção-Geral da Saúde recomenda a suplementação de iodo, sob a forma de iodeto de potássio (150 a 200 mcg/ dia), a todas as mulheres (salvo contraindicação médica, como em situações de patologia da tiróide), desde o período pré-concecional até ao final da amamentação.

Relativamente à infância, uma vez que o cérebro continua o seu crescimento e desenvolvimento durante esta fase, uma ingestão deficiente deste nutriente, de forma crónica, em idades precoces, pode contribuir para um reduzido Quociente de Inteligência (QI) e dificuldades de aprendizagem.

Figura 1 -  Fontes alimentares de iodo e o seu papel a nível cerebral.
Fonte: Iodine consumption and cognitive performance: Confirmation of adequate consumption. Food Science & Nutrition. 2018

De que forma é então possível obter um aporte adequado deste nutriente?

Uma vez que o nosso organismo não tem capacidade de sintetizar iodo, é necessário obtê-lo a partir da alimentação. As suas principais fontes alimentares são os peixes de água salgada, o marisco e as algas, sendo que os laticínios como o leite e os iogurtes constituem também boas fontes. 

Por outro lado, o consumo de sal iodado surge como uma importante medida para aumentar o aporte deste nutriente, sendo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), bem como pela Direção-Geral de Educação (este último no contexto das cantinas escolares). Contudo, dados do projeto nacional Iogeneration, realizado em escolas do Norte do país (regiões do Tâmega, Grande Porto e Entre Douro e Vouga), revelaram que nenhuma das escolas estudadas tinha adotado esta medida até então e que apenas 2% das famílias utilizava este tipo de sal na confeção das suas refeições. Para além disto, cerca de 59% e 32% das crianças avaliadas, respetivamente, em Lisboa e na região Norte do país, apresentavam concentrações de iodo urinário inferiores às recomendações da OMS, indicando que a sua ingestão fica aquém das necessidades. 


Desta forma, apesar do iodo ser um nutriente relativamente pouco abordado, percebemos que assume um papel crucial no desenvolvimento infantil, com importantes repercussões na cognição e que, medidas simples, como a utilização de sal iodado na confeção das refeições podem ser bastante úteis e efetivas para colmatar a carência deste mineral.



Maria Inês Cardoso