Nos primeiros anos de vida, mais do que em qualquer outra fase, uma alimentação adequada é crucial para assegurar um bom crescimento e desenvolvimento que se refletirá na saúde futura. 

Se por um lado, os défices nutricionais podem resultar num comprometimento do desenvolvimento físico e mesmo cognitivo (como é o caso do iodo), o excesso de determinados nutrientes é igualmente prejudicial.


Sabemos que o açúcar, sal e gordura estão presentes em quantidades excessivas na alimentação das nossas crianças. 17% destas ingere diariamente bebidas açucaradas (particularmente néctares e refrigerantes sem gás), 10% consome diariamente sobremesas doces e 73% come semanalmente (1 a 4 vezes por semana) snacks salgados (pizza, hambúrguer, batatas fritas ou outros snacks de pacote). Estes hábitos aumentam em muito o risco de excesso de peso e de comorbilidades futuras como a diabetes, dislipidémia e doença cardiovascular. 

Para além de ser imperativo limitar estes alimentos e bebidas de forma a melhorar a saúde das gerações mais novas, também o excesso de proteína deve ser tido em atenção nas crianças.

Segundo dados recentes da Direção-Geral da Saúde, apresentados no manual "Alimentação Saudável dos 0 aos 6 anos - Linhas de Orientação para Profissionais e Educadores", as crianças portuguesas consomem 4 vezes mais proteína do que aquilo que são as suas necessidades.

Embora seja um nutriente crucial, envolvido no crescimento, manutenção de tecidos, produção de hormonas e enzimas, o seu excesso contribui para um ganho de peso excessivo.

Os laticínios e a carne, oferecida muitas vezes em quantidades semelhantes às de um adulto, são os que mais contribuem (com 60%) para o aporte excessivo de proteína.


Se pensarmos no caso do ovo, por exemplo, que é um alimento nutricionalmente rico, na grande maioria das vezes não é considerado como um suficiente fornecedor proteico numa refeição principal, sendo frequentemente associado à carne ou peixe.

O ovo apresenta uma proteína de alto valor biológico, isto é, que fornece todos os aminoácidos essenciais (à semelhança da proteína da carne, peixe e produtos lácteos), cuja quantidade é suficiente para incluir de forma isolada (sem carne, nem peixe, mas sempre em associação com os hortícolas, arroz/ massa/ batata ou outro fornecedor de hidratos de carbono e fruta como sobremesa), numa refeição como o almoço e o jantar. Para além disso, o ovo é uma ótima fonte de vitamina B2, B6 e A, assim como de fósforo, ferro e colina, um nutriente essencial ao desenvolvimento cerebral.

Apesar disto, muitas vezes, quando o ovo surge numa ementa escolar sem associação com carne e peixe, é frequente haver a ideia, muitas vezes por parte dos pais, de que a refeição não será suficientemente completa para a criança. Não só o é, como permite uma maior variedade na sua alimentação, bem como uma redução do consumo de carne ou peixe.

Opções como o ovo escalfado, mexido, cozido ou em omelete são excelentes para as refeições de miúdos e graúdos. Um ovo deverá ter cerca de 55g, que corresponde a um tamanho M (≥ 53g e < 63g).

Quanto à carne ou peixe, 2 porções de 25g diárias (já cozinhada(o), sem ossos/ espinhas ou gorduras/ peles) deve ser o máximo ingerido por uma criança até aos 6 anos.


Os laticínios são também importantes alimentos que fornecem proteína de elevada qualidade, bem como minerais, cálcio, fósforo e iodo, embora a sua quantidade deva ser também limitada como qualquer outro alimento ou bebida.

É recomendável o consumo de 3 a 4 porções diárias - 1 porção corresponde a 1/2 chávena almoçadeira de leite (125mL) ou 1 iogurte sólido (125g) ou 1 fatia fina de queijo (20g). Desta forma, o volume diário máximo de laticínios a consumir deve ser de 400 a 500mL.

Como forma de conclusão, é importante ressalvar que o facto de uma criança comer muito bem (em quantidade), não é sinónimo de qualidade. Deve sim ter uma alimentação completa, variada e equilibrada, onde o valor nutricional dos alimentos deve prevalecer.

As boas escolhas alimentares devem começar desde cedo. É na infância que se começam a modular bons hábitos que prevalecerão na vida adulta e crianças com uma alimentação adequada são certamente crianças mais saudáveis e mais felizes!




Maria Inês Cardoso