A gravidez é um período onde o organismo da mulher está sujeito a inúmeras alterações fisiológicas. Como consequência, grande parte das grávidas apresenta sintomas gastrointestinais indesejáveis como as náuseas, vómitos, refluxo gastroedofágico, azia e obstipação. Apesar de, por norma, estes não apresentarem riscos para a saúde da mãe e do feto, podem causar grande desconforto e impedir a grávida de desfrutar em pleno desta fase tão especial.



          - Náuseas e vómitos

São as complicações mais frequentes na gravidez, afetando cerca de 50 a 80% das mulheres. O início da sintomatologia ocorre, normalmente, por volta da 4ª a 6ª semana de gestação, abrandando ou cessando, na maioria dos casos, até à 20ª semana. 

O aparecimento destes sintomas parece estar associado à elevação dos níveis de progesterona na gravidez, uma vez que esta hormona diminui o esvaziamento gástrico, promovendo uma digestão mais lenta. Para além disto, níveis elevados de estrogénios e da hormona gonadotrofina coriónica humana (hCG), o stress e ansiedade e uma maior predisposição genética também têm sido apontadas como possíveis causas. 

Em situações mais graves, embora ocorra apenas em 0,3% a 3% das mulheres, pode surgir hiperemese gravídica, uma complicação caracterizada pela presença de náuseas e vómitos severos e persistentes. Como consequência, a grávida pode apresentar desidratação severa, distúrbios eletrolíticos (pela perda de sais minerais) e perda de peso, existindo também um maior risco de parto prematuro e de o bebé nascer pequeno para a idade gestacional e/ ou baixo peso. 


De forma a controlar os sintomas e evitar o surgimento de complicações é importante:
  • Evitar longos períodos de jejum. Estar de estômago vazio piora os sintomas;
  • Fazer refeições leves e frequentes;
  • Evitar comer 2-3h antes de ir dormir;
  • Evitar alimentos e refeições com muita gordura e reforçar o consumo de alimentos ricos em proteína como carne, pescado e ovo; 
  • Evitar alimentos muito condimentados e com odores fortes;
  • Preferir alimentos e bebidas frescas;
  • Reforçar a ingestão de água de forma a prevenir a desidratação, particularmente entre refeições; 
  • Incluir o gengibre na sua alimentação. Vários estudos têm demonstrado uma associação entre o seu consumo e a diminuição dos episódios de náuseas;
  • Ponderar, juntamente com o seu médico, a suplementação (ou reforço da mesma) de vitamina B6 (piridoxina) dado que esta tem vindo a ser associada a uma melhoria dos sintomas. 


          - Refluxo gastroesofágico e azia

O refluxo gastroesofágico é também comum, particularmente na fase final da gravidez, afetando cerca de 40 a 85% das grávidas. 

Devido à ação da progesterona, verifica-se uma diminuição da pressão do esfíncter esofágico inferior, o que favorece a subida do conteúdo gástrico para o esófago. Para além disto, tal como já referido, níveis elevados desta hormona retardam o processo da digestão, sendo natural que, estando o conteúdo gástrico mais tempo no estômago, existirá uma maior predisposição para o surgimento de refluxo. Por outro lado, devido a uma maior produção de gastrina pela placenta, ocorre uma maior acidificação do estômago, culminando numa maior sensação de azia aquando do refluxo.


Nestes casos deve:
  • Fazer refeições leves e frequentes;
  • Evitar comer 2 a 3h antes de ir dormir;
  • Elevar a cabeceira da cama e deitar-se para o lado esquerdo;
  • Evitar roupa apertada;
  • Evitar alimentos/ refeições com muita gordura, uma vez que esta promove um atraso no esvaziamento gástrico;
  • Evitar alimentos e especiarias picantes;
  • Evitar café e bebidas com cafeína (como chá verde e preto), bem como chocolate e alimentos com mentol, dado promoverem o relaxamento do esfíncter esofágico inferior;
  • Limitar a ingestão de líquidos às refeições. Deve beber bastante água, mas deve fazê-lo maioritariamente no intervalo das refeições para facilitar a digestão e não agravar a sintomatologia;
  • Evitar alimentos ácidos como os citrinos e o tomate por aumentarem a sensação de ardor.



          - Obstipação

A obstipação, vulgarmente designada como prisão de ventre, é também comum e normal na gravidez, apresentando uma prevalência de cerca de 40%. 

A diminuição do nível de atividade física nesta fase, uma ingestão hídrica abaixo das necessidades e um baixo consumo de fibra contribuem para esta situação. Por outro lado, a progesterona está, mais uma vez, implicada neste processo, ao provocar uma diminuição da motilidade intestinal. Também devido a fatores hormonais, parece haver uma maior reabsorção intestinal de água na grávida, tornando as fezes mais duras. 


Para promover uma melhoria do seu trânsito intestinal deve:
  • Aumentar a ingestão de alimentos ricos em fibra (pão integral ou de mistura, arroz e massa integral, aveia, leguminosas, hortículas, particularmente ameixas, kiwis e figos);
  • Reforçar o consumo de água (2L/ dia). De nada adianta aumentar o consumo de fibra sem aumentar a ingestão hídrica, antes pelo contrário, pode até piorar a situação uma vez que a fibra necessita da água para exercer a sua função;
  • Praticar atividade física moderada de forma regular. Para além de apresentar muitos outros benefícios na gravidez, é importante para aumentar a motilidade intestinal. 


Nota: A suplementação de ferro pode provocar ou piorar o quadro de obstipação. Se estiver a tomar estes suplementos e sentir um agravamento dos sintomas, consulte o seu médico. 




Maria Inês Cardoso