O número de casos de violência no namoro e no ex-namoro têm vindo a aumentar ao longo dos anos. Apesar dos números crescentes e das várias campanhas que frequentemente existem, parece existir ainda alguma dificuldade em identificar determinados sinais menos óbvios no chamado namoro violento. 

Para começar, é importante saber que existem cinco tipos de violência no namoro: a violência verbal (insultar, difamar, humilhar, gritar, etc.), a violência psicológica (partir ou danificar objetos com intenção de causar medo, controlar o que veste, etc.), a violência relacional (controlar o que o outro faz nos tempos livres e ao longo do dia, proibir o contacto com familiares e amigos, etc.), a violência física (empurrões, pontapés, bofetadas, etc.) e a violência sexual (forçar à prática de relações sexuais, entre outros, ...).


Que alternativas existem para enfrentar um namoro violento?

Em primeiro lugar, distinguir o que não é de todo saudável numa relação será a base da compreensão para poder definir os limites que devem existir num namoro e em qualquer relacionamento amoroso. Depois de corretamente identificados aqueles que podem ser comportamentos violentos, torna-se essencial saber dizer NÃO. Uma vez que a outra pessoa não aceita esses mesmos limites, há que refletir sobre a viabilidade desta relação e, se esta se tornar inviável, será também imperativo terminar a relação e da forma mais adequada, como poderá ler mais à frente. 



Distinguir relações saudáveis de relações tóxicas

Muitas pessoas consideram que determinados comportamentos ou atitudes não são necessariamente sinónimo de violência e acabam por desvalorizar certos sinais que, quando detetados a tempo, podem realmente evitar certos dissabores ou até situações graves de risco.

É consensual que as relações saudáveis são repletas de risos, alegria, apoio mútuo e demonstrações de afeto e carinho. O que pode ser menos óbvio para muitas pessoas é que também nas relações saudáveis é suposto existir confiança no outro, respeito pelas opiniões diferentes, elogios e encorajamentos, sentimento de segurança, convivência com amigos, comuns ou não, planos em conjunto e em separado e liberdade sem invasões ao espaço do outro. Os conflitos também existem ocasionalmente em relações saudáveis, contudo, ao contrário das relações violentas, são conflitos que se resolvem através da negociação e sem violência.

Nas relações não-saudáveis ou tóxicas, o que se observa quase sempre são reações ciumentas e despropositadas, ameaças e pressões, controlo do telemóvel e das redes sociais, ofensas verbais, choro, tristeza, mágoa, raiva, poder, intimidação e humilhação, um ou os dois elementos do casal afastados dos amigos, demasiada dependência do outro, controlo sobre o que outro faz, onde vai e com quem vai e/ ou forçar o outro a ter relações sexuais. 



Como aprender a dizer NÃO?

É fundamental não ceder às pressões do(a) namorado(a). Deve perguntar-se "já tinha vontade de fazer isto antes de me terem sugerido?" e refletir sobre quais serão as consequências de dizer "sim" ou "não". Se as consequências de dizer sim são mais negativas que positivas, então pode ser sinal de que a melhor resposta seja NÃO. Deverá sugerir outras alternativas ou explicar simplesmente que não se identifica com determinado comportamento ou que não está preparado(a).



Saber terminar a relação de forma adequada

Desde que reunidas as condições de segurança (num local público e informando previamente um adulto ou amigo de confiança sobre o que vai acontecer), deverá fazê-lo pessoalmente ao invés de terminar a relação por telefone, e-mail, SMS ou carta. É importante procurar ser discreto(a) sem humilhar a pessoa em questão, escolhendo um local sossegado, sem deixar de ser um local público. Deverá conversar com honestidade e firmeza, sem ser insensível. Não deve voltar atrás nem mostrar insegurança que se pode confundir com falsas esperanças em relação a uma possível reconciliação. Por fim, manter a calma e não culpar a outra pessoa pela decisão e respeitar e compreender o descontentamento ou outra reação negativa da outra pessoa. Se não for possível continuar a amizade é fundamental não antecipar essa possibilidade. 




Porque a violência no namoro tem três lados, resolvi escrever uma espécie de carta aberta para cada um dos três intervenientes: a vítima, o agressor e o espetador. 

A ti, potencial vítima... se TERMINASTE UMA RELAÇÃO e o(a) teu(tua) ex-namorado(a) não aceitou o fim do namoro e não para de te incomodar ou segue-te:
  • Não te sintas culpada(o) pelo que está a acontecer. Ele(a) é o(a) único(a) responsável;
  • Para te protegeres de eventuais reações agressivas, não fales com ele(a) pessoalmente sozinho;
  • Diz-lhe de forma clara e assertiva que o que está a fazer não te agrada e que queres que deixe de te contactar. Fá-lo por telefone ou na presença de uma pessoa em quem confies;
  • Anota todos os episódios que forem acontecendo e guarda as provas;
  • Fala com alguém em quem confies e com os teus pais e pessoas mais próximas, pedindo-lhes para não darem informações tuas caso recebam contactos dele(a);
  • Procura a ajuda de um psicólogo se sentires que não estás a conseguir lidar com o que está a acontecer;
  • Podes ligar também para a APAV e 112 em perigo iminente. 

A ti, potencial AGRESSOR... A(O) TUA(TEU) NAMORADA(O) TERMINOU CONTIGO e sentes-te perdido(a) e não sabes o que fazer:
  • Tens todo o direito de te sentir triste, desiludido(a), com vontade de chorar e com raiva, mas não te esqueças que isso não te dá o direito de insultares, magoares ou ferires a pessoa que terminou a relação contigo;
  • Apesar de neste momento te sentires mal, podes acreditar que com o tempo vais sentir-te melhor;
  • Desabafa com os teus amigos, com os teus Pais ou com quem confies. Falar sobre o que pensas e sentes pode ajudar;
  • Passa mais tempo com os teus amigos e a fazer alguma coisa que gostes, obrigando-te a pensar em outras coisas, para além do que aconteceu;
  • Experimenta algo diferente que já tinhas vontade de fazer;
  • Oferece a ti mesmo momentos para relaxares ou tratares de ti;
  • Lembra-te que o fim da relação não é o fim da tua vida: aproveita para te dedicares a outras áreas que estavam mais esquecidas. 

A ti, espetador/ cúmplice... CONHECES ALGUÉM vítima de violência no namoro:
  • Ajuda a pessoa a procurar apoio especializado junto da APAV ou de um psicólogo e a conversar com os seus Pais;
  • Diz-lhe que ele(a) não tem culpa pelo que está a acontecer;
  • Disponibiliza-te para ajudares no que for necessário e estiver ao teu alcance;
  • Respeita a sua decisão, sem criticar ou culpabilizar a pessoa por ser vítima;
  • Não faças a "mediação" entre a vítima e o(a) agressor(a), porque pode ser perigoso para ti ou para a vítima;
  • Valoriza as capacidades da pessoa e incentiva-a dizendo que será capaz de ultrapassar esta situação.

"Não é o amor que sustenta o relacionamento, mas sim o modo de se relacionar que sustenta o amor" (Autor desconhecido)



Cristina Reis