Nos últimos anos tem-se verificado um aumento da incidência das Doenças Respiratórias Infantis. Este facto prende-se, por um lado, com a evolução dos agentes responsáveis pelas infeções respiratórias e, por outro, com fatores ambientais como o tabaco, o ar condicionado e a poluição. Devido a especificidades estruturais do sistema respiratório e a predisposições genéticas, as crianças são particularmente vulneráveis às infeções respiratórias, sendo a Bronquiolite a doença do trato respiratório mais frequente nos dois primeiros anos de vida, apresentando um pico de incidência por volta dos seis meses de idade. A Fisioterapia Respiratória (FR) pode ter um papel preponderante no alívio dos sintomas, podendo evitar o uso de medicamentos, ou mesmo evitar o internamento hospitalar.


O que é a Fisioterapia Respiratória?

A FR é vulgarmente conhecida como cinesioterapia ou ginástica respiratória. Consiste num conjunto de técnicas cujo objetivo é desobstruir as vias respiratórias através da remoção de secreções, de modo a permitir que as trocas gasosas se façam com o mínimo de esforço possível. Está indicada essencialmente no tratamento de infeções respiratórias que causam hipersecreção brônquica ou seja, produção excessiva de secreções. Esta hipersecreção vai ter como consequência a obstrução das vias aéreas, não permitindo que as trocas gasosas se façam eficazmente, obrigando o bebé a um grande esforço respiratório.

A obstrução das vias aéreas é muito fácil em bebés e crianças até aos 2 anos por duas razões. Por um lado, os bebés têm um maior número de glândulas produtoras de muco do que o adulto produzindo, por isso, maior quantidade de muco (secreções). Como os canais brônquicos da criança têm um calibre muito reduzido, facilmente ficam obstruídos. Por outro lado, como as crianças têm mais dificuldade em expelir as secreções através da tosse, estas acabam por se acumular nos brônquios dificultando ainda mais a respiração.

Assim, os sintomas associados mais frequentes são:

  • a dificuldade respiratória;
  • tosse persistente;
  • obstrução nasal;
  • recusa alimentar; 
  • alteração do sono. 


Em que consiste a Fisioterapia Respiratória?

Consiste na lavagem nasal e em manobras de compressão do tórax e abdómen para fazer descolar as secreções e depois transportá-las para as vias mais superiores a fim de serem removidas através da tosse. Nos bebés é necessário usar uma técnica para provocar a tosse, uma vez que estes não conseguem fazê-lo voluntariamente. As técnicas não causam dor, contudo, por vezes, os bebés choram pelo desconforto de se sentirem apertados. Em algumas situações o choro pode até ser benéfico, pois ajuda a mobilizar as secreções. Em determinadas situações poderá ser necessário recorrer à aspiração nasal e/ ou bucal. 



É fundamental que o Fisioterapeuta seja experiente em FR pediátrica, porque para além da seleção das técnicas depender de uma avaliação criteriosa da situação clínica (tipo de obstrução, localização das secreções, caraterísticas das secreções, tolerância ao esforço, entre outras), as técnicas são diferentes das usadas no adulto ou na criança mais crescida. 

A lavagem nasal é muito importante. Estudos comprovam que a lavagem nasal feita de maneira correta e regular consegue evitar de 30 a 50% os problemas respiratórios. Os bebés têm uma respiração essencialmente nasal e, por isso mesmo, quando há obstrução do nariz sentem muita dificuldade em respirar, que se agrava durante a amamentação ou durante o sono, sobretudo se usam chucha. Por isso, de uma maneira geral, é importante manter limpa e hidratada a mucosa nasal. Quando há infeções e há muito muco é fundamental que se façam lavagens nasais frequentes. 

Quando fazer a lavagem nasal?

Se a criança está com muito muco deve ser feita várias vezes ao dia, sobretudo antes das refeições e antes de dormir. A lavagem pode ser feita com soro fisiológico ou com sprays de água de mar. Se optar pelo soro fisiológico tem de ter alguns cuidados:
  1. se usar frascos maiores (50 ou 100 mL), após a 1ª utilização têm uma duração de 3 dias. Depois deste período o soro começa a ficar contaminado e por isso deve deitar o frasco fora. Para evitar contaminação, é preferível usar frascos monodose;
  2. antes de colocar o soro no nariz do bebé deve aquecê-lo um pouco e para isso basta que mantenha o frasco uns instantes na sua mão fechada;
  3. o frasco de soro que utiliza para a lavagem nasal não deve ser usado para outros fins (limpeza dos olhos, nebulizações ou outras).

A lavagem nasal deve ser feita com a criança sentada, com a cabeça ligeiramente inclinada para a frente e rodada, colocando-se o soro na narina de cima. Deve evitar colocar o soro com o bebé deitado e com a cabeça para trás, porque o bebé poderá engasgar-se com o soro que escorre para a garganta. 

Nebulizações: quando se verifica a presença de secreções muito espessas ou localizadas muito profundamente no pulmão pode recorrer-se às nebulizações com soro, pois ajudam a humedecer as vias respiratórias e tornar as secreções mais fluídas, facilitando a sua mobilização e remoção. Não havendo secreções, não devem ser feitas nebulizações. 

Quando o bebé apresenta a chamada pieira (sons respiratórios), a nebulização só com soro fisiológico pode ser insuficiente e, por indicação médica, pode ser necessário junatr um medicamento. Em qualquer das situações é importante que seja feita com máscara e com o bebé acordado. Logo após a nebulização, as secreções ficam mais fluídas e se o bebé estiver acordado, ativo, vai conseguir tossir com mais força, com mais eficácia, conseguindo assim exeplir ou deglutir as secreções. É muito importante que após o uso se cumpram as regras de limpeza/ desinfeção do aparelho.

Nestas situações há ainda alguns conselhos gerais que podem contribuir para diminuir o desconforto das crianças, nomeadamente:
  • elevar a cabeceira da cama para facilitar a respiração e consequentemente melhorar a qualidade do sono;
  • aumentar o reforço hídrico;
  • fasear as refeições caso a criança demonstre mais dificuldade em alimentar-se (dar menos quantidade, com maior frequência);
  • arejar a casa e vitar a exposição a ambientes poluídos ou ao fumo do tabaco;
  • extremamente importante é também a lavagem das mãos antes de prestar cuidados ao seu bebé. 
Em suma, a FR visa a remoção das secreções a fim de melhorar a ventilação pulmonar, com efeitos quase imediatos no alívio dos sintomas. Se o bebé respira melhor e tem menos tosse, vai comer e descansar melhor. Melhora não só a qualidade de vida do bebé, mas também da Família. 



Sandra Crespo