As novas tecnologias são muito importantes para a nossa evolução e desenvolvimento de novas habilidades. Mas, como tudo, tem também os seus contras. 

Há uns anos (muitos), os computadores eram usados apenas por alguns e quando mesmo necessário. Aprender a mexer neles não foi a mais difícil das tarefas, mas a caneta e o lápis foram os preferidos durante muito tempo. 

No entanto, as crianças parecem nascer já com conhecimentos informáticos e, em tenra idade, manuseiam um telemóvel como ninguém. Ficam completamente vidrados no ecrã e o estado de hipnose é tal, que não existem birras e o mundo parece parar. Surgiram assim as novas babysitters, as babysitters digitais. São baratas, disponíveis a qualquer hora do dia e pelo tempo que considerarmos necessário. Ideais para reuniões de família ou amigos ou até, quem sabe, durante as compras no supermercado. 


Mas será o mais adequado? 

Uma das maiores preocupações dos pais é poder haver problemas de visão, motivadas pelo uso excessivo dos ecrãs e, sobre isso, temos já um artigo redigido pela Dra. Lígia Figueiredo e que pode consultar aqui. Mas, os problemas não se resumem apenas a este aspeto. Senão vejamos. Porque razão as crianças pequenas utilizam os dispositivos? 

  1. Porque os pais, irmãos e todos os que as rodeiam utilizam algum ecrã;
  2. os sons e as cores atraem a atenção;
  3. quando são removidos da sua posse, fazem uma birra;
  4. ficam calmos. 

E a partir de que idade as crianças podem usar os telemóveis ou computadores? Será benéfica a sua utilização?

De acordo com as indicações de 2013, da Academia Americana de Pediatria, os ecrãs (tablet, TV, telemóvel ou computador) não estão recomendados em crianças com menos de 18 meses e, entre os 18 meses e os 2 anos, não deverão passar mais do que 1h em frente a um dispositivo. Tendo sempre em atenção que as crianças não devem utilizá-los sozinhas e que apenas devem servir como complemento a uma atividade lúdica com os pais/ cuidadores. 

Se, por um lado, a utilização dos dispositivos possa ajudar na aprendizagem (as cores, números,...), por outro poderão levar a: 

  • atraso cognitivo, da linguagem e da motricidade;
  • diminuição do tempo total do sono (em qualquer idade), com dificuldade em adormecer e despertares frequentes. Isto porque a luz do dispositivo diminui a quantidade de hormona que induz o sono (melatonina) e leva a que a criança tenha dificuldade em adormecer. 

Para além destes aspetos, é importante ainda referir outro bastante importante. É normal (levante o dedo quem ainda não o fez) oferecerem-se os telemóveis e escolher a espetacular aplicação do YouTube durante as refeições. Mas, o que acontece quando as crianças estão entretidas com o telemóvel? 

Não aprendem que as refeições são para ser realizadas em família; não estão atentas aos sabores, cores e texturas dos alimentos e este momento pode tornar-se stressante caso um dia não seja possível oferecer o telemóvel. O ideal e o que recomendamos é que as refeições sejam realizadas em família e sem qualquer tipo de distração. 

Quando a nossa idade-chave passa a ser a idade escolar e a adolescência, precisamos ter em mente que as novas tecnologias passam a ser uma constante no seu dia-a-dia. Atualmente a escola integra as novas tecnologias como ferramenta para complementar a aprendizagem e a utilização torna-se frequente. Para além disso, os jogos de computador passam a ser uma constante e uma forma de se integrarem num grupo, já que todas as crianças/ adolescentes acabam por ter as mesmas preferências. 

Por outro lado, os pais oferecem telemóveis cada vez mais cedo e o Whatsapp, Facebook e Tik Tok passam a fazer parte do quotidiano e conseguir interagir nas redes sociais fá-los entrar num mundo cool

A verdade é que a socialização virtual é atualmente uma realidade que pesa bastante, muito em parte pelos jogos online que os leva a conhecer pessoas nos 4 cantos do mundo. Conseguem adquirir algumas estratégias de defesa com os jogos, assim como a rapidez de reação. Acresce o facto de os fazer sentir integrados no seu grupo (como referi anteriormente), situação tão importante na adolescência. Por outro lado, fomenta a criatividade e a capacidade de escrita. 

Mas, como "não há bela sem senão", mesmo com os aspetos positivos, há aspetos mais desafiantes que devem ser ponderados e tidos em conta para estabelecer limites. 

Com a existência de televisão na cozinha e de telemóveis, as refeições em família perderam a sua essência de momento familiar privilegiado para a comunicação. E que tal decidirem, todos os elementos da família, colocar os telemóveis na sala, durante as refeições?

Aproveitem para conversar, partilhar o vosso dia, as vossas preocupações, ... É importante voltarmos a conseguir conversar, sem pressas e envolver todos os elementos da família nos problemas/ preocupações/ dúvidas que possam existir. Verão como isso vos aproximará mais. 

Por outro lado, os telemóveis nos recreios e os videojogos em casa diminuem a competência para "socializar olhos-nos-olhos". 

Para além disto, a exposição social pode ser um risco, dado que as crianças/ adolescentes publicam todos os seus problemas nas redes sociais e, muitas vezes, os pais só se apercebem ao fim de uns dias. Aumenta desta forma o risco de cyberbullying, extorsão e coação sexual levando a que haja uma necessidade de fomentar a literacia digital tanto das crianças, como dos pais, de forma a poderem evitar ou diminuir o perigo e ajudar os filhos a fazê-lo.

Tendo em conta tudo o que já foi descrito, deixo algumas dicas que poderão ser colocadas em prática com os seus filhos. 

  1. Oferecer ecrãs o mais tarde que conseguirem e limitar o uso de acordo com a idade;
  2. Utilizem as novas tecnologias como complemento à aprendizagem, mas não para utilização sem vigilância;
  3. Caso os seus filhos estejam em idade escolar e adolescência, tentem um acordo com eles e estabeleçam um limite de utilização lúdica das novas tecnologias;
  4. Se não for mesmo necessário os seus filhos levarem telemóvel para a escola, deixem-no em casa e estabeleçam um limite de tempo, por dia, para a sua utilização;
  5. Evitem ecrãs, pelo menos, 2h antes dos vossos filhos irem para a cama;
  6. Vigiem as suas redes sociais e ativem as definições de segurança, de forma a diminuir o risco de desconhecidos entrarem em contacto com os vossos filhos. No caso de serem adolescentes, tentem conversar com eles e tentem perceber se há algum problema ou preocupação. Conversem tranquilamente, sem pressões, para que possa haver uma partilha e não uma discussão. Mostrem-se disponíveis para escutar;
  7. Organizem atividades em família, jogos de tabuleiro, jogos tradicionais, momentos de leitura que fomentem a relação e comunicação familiar. 
Recordem-se que a família e as tecnologias devem ser dois elementos completamente interligados, mas nada deve substituir o tempo de qualidade entre pais e filhos. 




o pai, a mãe e eu