Quando comecei este meu caminho com o pai, a mãe e eu, tentei perceber as necessidades dos pais que vivenciaram a prematuridade, principalmente no pós-alta. A minha experiência estava completamente focada para a fase do internamento e durante estas conversas houve uma crítica que me marcou profundamente. Sempre acreditei que, de uma forma geral, tínhamos uma prestação de cuidados virada para as necessidades do bebé e da família, mas a crítica fez-me refletir e rever vários momentos dos meus 15 anos de Neonatologia. 

Realmente tentamos sempre prestar os melhores cuidados, tendo em atenção o bem-estar e o adequado desenvolvimento do bebé, mas AINDA falha um aspeto muito importante. A AMAMENTAÇÃO.

Para quem não vivenciou a prematuridade, é importante referir que principalmente as mães se culpabilizam pelo nascimento prematuro. Consideram que não foram boas mães, que algo falhou neste seu percurso da gravidez, que fez com que o seu bebé tivesse como destino a incubadora e não o seu colo. Se somarmos a esta questão a impossibilidade em amamentar (quando esse era o maior desejo da mãe), então estamos perante uma mãe/ mulher devastada. 

É do conhecimento geral que o leite materno desce imediatamente determinadas condições e para isso não basta apenas o bebé ter nascido. É necessário o contacto físico, o cheirinho do bebé, situações que não existem na prematuridade, na maior parte das vezes. 


Então as mães de bebés prematuros estão "condenadas" a não amamentar? 

Nada disso. Mas aqui surge a crítica. É IMPORTANTE QUE HAJA O APOIO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE. E é aqui que por vezes falhamos. 

Se em situações de um parto normal, após gestação de termo, é importante o apoio à mulher e o reforço positivo que servem de alavanca ao sucesso, no caso de uma mãe de prematuro, esta situação reveste-se de maior importância. 

Portanto, se é mãe de um bebé prematuro, que neste momento está internado numa unidade de neonatologia, acredite! É possível sair da unidade a amamentar. 

Quando o bebé nasce, provavelmente não irá comer nas primeiras horas, talvez dias. Mas, a mãe poderá começar imediatamente a estimular a mama. Será muito importante que o primeiro leite que o seu bebé ingira seja o seu. 

É importante: 

  • assim que possível começar a estimular a mama, como se fosse o seu bebé. De 3/ 3h e no início e fim da noite, já que é neste período que a hormona que produz o leite está em circulação em maior concentração;
  • que quando puder ter o seu bebé ao colo, consiga ter contacto pele-com-pele (método canguru), já que um dos benefícios para a mãe é a produção de leite; 

  • mesmo que ainda demore a conseguir pegar no seu bebé, tente fazer a estimulação da mama quando está sentada ao lado da incubadora. O contacto visual e o toque são dois dos aspetos que também ajudam na produção de leite. 

Neste momento, decerto está a questionar sobre quando poderá o bebé pegar diretamente na mama. 

Dependendo da idade gestacional com que nasceu, o seu bebé poderá demorar mais ou menos tempo até o conseguir adaptar. No entanto, mesmo que o seu filho esteja a receber o leite por sonda, questione a enfermeira responsável por ele sobre a possibilidade de, ao mesmo tempo, ser adaptado à mama. Por vezes, este é o estímulo que necessitam para começar com alguns movimentos de sucção (mesmo que não sejam eficazes). Poderá também colocar-lhe a chucha, à medida que o leite vai correndo pela sonda, pois esta será uma ajuda preciosa no treino da sucção. 

É por volta das 34 semanas que o bebé começa a conseguir coordenar a sucção com a deglutição e, é nesta altura, que as enfermeiras começam a ficar mais tranquilas quanto ao treino de adaptar à mama. Poderá ainda acontecer que se canse. Que exista ainda uma dificuldade em coordenar a sucção-deglutição-respiração. Então é importante não forçar o bebé, para que não hajam retrocessos. 

Se ele se demonstrar recetivo, então deixe ver até onde consegue chegar, sempre com a ideia que, o que ele fez nesta mamada, pode não ser o desempenho que terá na próxima. As conquistas são pequenas e lentas e o importante é manter-se tranquila. 

Sempre que estiver com o seu bebé e a sua situação o permite, adapte à mama. Insista! Peça ajuda às enfermeiras. Quanto mais segura se sentir durante o internamento, menos dificuldades terá quando chegar a casa. 


E se já não estiver a conseguir produzir leite? Não será possível contornar esta situação? 

Sim, é possível, com muita paciência e com um pensamento positivo. Lembre-se que é possível uma mãe adotiva amamentar um bebé. É moroso, mas conseguimos fazer com que aconteça. Para isso, é importante continuar a estimular a mama e, na altura em que o bebé for mamar, colocar uma sonda colada à mama. Adaptar o bebé à mama para que também a sonda seja introduzida na boca deste. O leite mesmo que artificial, correrá pela seringa-sonda e será sugado pelo bebé à medida que este for mamando na mama (para esta situação é importante procurar ajuda de um profissional/ CAM que a ajude no procedimento). 

Desta forma, o seu cérebro perceberá que há um bebé a sugar na sua mama e que necessita haver produção de leite. E todo o processo começará a desenrolar-se. 

Tudo na vida requer perseverança, consistência e positividade. Se realmente quer amamentar de verdade, então acredite em si e no seu filho. O trabalho em equipa será bem-sucedido. 

Quando estiver em casa e o pesadelo do internamento tiver terminado, não duvide de si. É natural que o peso oscile um bocadinho. Que o bebé passe a aumentar menos do que no internamento, mas é tudo uma situação transitória. Garanta que quando ele mama, mama sem pausas prolongadas e que as fraldas têm sempre urina. Vá falando com a enfermeira e/ ou médico assistente em caso de dúvida. Eles são as melhores pessoas para a ajudar neste percurso. 


o pai, a mãe e eu