A diversificação alimentar de um bebé, seja prematuro ou de termo, é sempre uma fase nova e cheia de ansiedade para qualquer Mãe/ Pai. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) ela deve ocorrer a partir dos 6 meses de idade, sendo a "janela de oportunidade" para a mastigação entre os 7 e os 10 meses de idade. Contudo, existem ainda Pediatras e Médicos Assistentes que antecipam para os 4 meses essa mesma introdução alimentar por diversas ideologias ou por questões clínicas do bebé em questão. Independentemente destas orientações, neste artigo quando falo em iniciação à diversificação alimentar tenho como base as orientações da OMS e SPP.

Falemos então da diversificação alimentar: Como começar? Dar o quê? Inteiro ou passado? Com que método introduzir os sólidos e/ ou pastosos? Estas são algumas das questões com que os Pais se deparam quando se inicia esta fase no desenvolvimento do seu filho e numa família de prematuro ainda surge a dúvida "6 meses?! Mas de idade cronológica (idade real do bebé, o tempo de vida após o nascimento) ou de idade corrigida (idade que o bebé teria se tivesse nascido de 40 semanas)."

Antes de mais é ao seu Pediatra ou Médico Assistente que deve fazer essa mesma questão. É, em conjunto com ele, que decidirão qual o melhor momento.

Mais do que a decisão em redor da idade (seja cronológica ou corrigida) que a criança terá na altura, o mais importante é verificarmos três aspetos: postura, competência oral e comportamento alimentar. Começo já por salientar, reforçar, realçar que não é obrigatória a existência de dentição para que uma criança inicie a diversificação alimentar! A inexistência de dentição pode até ajudar na progressão segura e harmoniosa de uma diversificação alimentar, sem o perigo de engasgamento, devido a uma mordida imatura e consequentemente uma deglutição precipitada sem a elaboração do bolo alimentar, por meio de mastigação. A criança deve primeiro passar por um progressivo jogo de manipulações orais dos seus próprios membros, brinquedos e outros objetos, estimulando de forma positiva toda a zona oral, desde a face às gengivas e língua. 

Assim, e de forma muito sucinta, para verificar a disponibilidade da criança para iniciar a diversificação alimentar, veja-se a existência das seguintes competências: 


Se a maioria destas capacidades estão presentes, então a sua criança está pronta para iniciar a diversificação alimentar. Todavia, a existência de competências não desenvolvidas (prinicipalmente as de nível motor e/ ou oral) não significa necessariamente o adiamento da diversificação alimentar, mas apenas que a criança precisa ainda da sua ajuda ou de um estímulo extra para se iniciar neste novo mundo!

É normalmente aqui que o prematuro tende a diferenciar-se do bebé de termo. 

Ainda que possa ocorrer também com um bebé de termo (por diversas razões internas ou externas ao mesmo), grande parte das primeiras experiências orais do prematuro são menos positivas, como por exemplo: 
  • uso prolongado de outra via de alimentação;
  • entubação orotraqueal e aspiração de secreções orais e nasais;
  • conexões sucção-dor, com o uso de sucção não-nutritiva aquando da realização de procedimentos clínicos dolorosos;
  • refluxo gastroesofágico;
  • ...

Todas estas experiências orais, estas sensações, são registadas pelo sistema neuromotor do bebé, aumentando a probabilidade de se desenvolver alterações a nível sensório-motor oral e, consequentemente, comprometer o bom desenvolvimento alimentar. Também as problemáticas associadas à prematuridade, como as patologias cardiorrespiratórias e/ ou gastrointestinais, coma induzido assim como o próprio internamento prolongado conduzem a um atraso no desenvolvimento motor (grosso e fino) e consequentemente numa maior dificuldade no controlo cefálico e cervical, assim como a coordenação olho-mão e polegar-indicador. A boca e as mãos têm o maior número de recetores sensoriais por cm2 do corpo humano e os orais são os primeiros a surgir durante o desenvolvimento fetal. 

Além dos demais profissionais que acompanham o bebé prematuro, são os Pais que devem estar alerta para a existência, ou melhor, para a não existência destes sinais de prontidão do bebé dentro da janela da oportunidade dos 7-10 meses de idade (sejam eles em idade cronológica ou corrigida), conseguindo identificar aquilo que possa estar a impedir ou a dificultar o vosso filho de mostrar interesse nas restantes consistências alimentares. 



No artigo anterior do "Prematuro e a Sucção" finalizei referindo algumas orientações básicas para estimular e criar um mundo de experiências orais positivas ao bebé prematuro. Tais orientações servem também ao bebé de termo como forma de facilitar e adequar a alimentação oral e devem ser adotadas previamente e durante a diversificação alimentar. 

Relembrando e complementando algumas dessas orientações: 


Como já referi anteriormente comemos com todos os sentidos: não se esqueça do visual e do olfativo. Mesmo uma criança, de qualquer idade, merece ver e cheirar aquilo que vai comer. Permita-lhe visualizar o seu prato, cheirar e tocar na sua comida antes que lhe seja oferecida ou que ele próprio a leve à boca. A partir do input visual, olfativo e tátil, o seu cérebro irá antecipar -se e enviar as informações necessárias à boca para que esta aja de acordo com as caraterísticas do alimento que está a ser introduzido. Desta forma é mais fácil à criança melhor manipular oralmente o alimento e minimizar episódios de desconforto ou até engasgamentos. 

Morder e mastigar são movimentos bastante elaborados que carecem de uma coordenação e aceitação sensorial de um nível elevado por todas as partes da boca. Diferentes alimentos exigem diferentes competências orais, são desafios diferentes para a criança. 

Agora que falámos naquilo que podem fazer para ajudar a criança a melhorar as suas competências orais e ganhar um maior interesse nos alimentos, existem também alguns fatores e comportamentos que dificultam a harmonia entre essa tríade. Mais do que dificuldades que possam existir inerentes ao desenvolvimento (motoras/ sensoriais sejam elas orais ou globais), aquilo que retrato agora são os fatores externos à criança, os comportamentos do meio ou daquilo que lhes oferecemos durante a introdução alimentar. Por exemplo: 



Lembre-se que nós somos o que comemos e, como tal, é muito importante que sejamos sempre felizes! 

A normalidade do desenvolvimento global da criança está não apenas na existência ou não de patologias ou sequelas, mas na satisfação com que se atingem patamares, se conquistam competências e se aperfeiçoam capacidades. A alimentação é mais do que uma necessidade nutritiva. Ela é uma satisfação emocional, um momento social e um prazer sensorial e assim deve ser sempre e para todos


Caso verifique a presença de algum destes sinais de alarme, fale com o seu Pediatra ou Médico Assistente e peça uma avaliação por um Terapeuta da Fala e/ ou Terapeuta Ocupacional. 



Joana Caçoeiro