O que é a vertigem?
A vertigem é a distorção da sensação do movimento do corpo no espaço, podendo manifestar-se em qualquer idade.
Resulta da anomalia de um dos três principais sistemas sensoriais envolvidos no equilíbrio: a visão, o sistema vestibular ou o sistema propriocetivo.
- Os olhos referenciam o movimento do corpo no meio envolvente.
- Os recetores vestibulares, localizados no ouvido interno, captam informação relacionada com a rotação e a translação, bem como a posição da cabeça.
-Os recetores propriocetivos, localizados nos tendões, articulações e pele, percecionam o movimento e a posição de diferentes partes do corpo, assim como o seu contacto com o chão.
Como se manifesta?
A sensação de vertigem não é fácil de reconhecer em idade pediátrica: o reduzido vocabulário da criança, a dificuldade em expressar o que sente e a falta de atenção por parte dos pais a sinais de alterações do equilíbrio dificultam a realização do diagnóstico. Assim, a criança é, muitas vezes, injustamente catalogada de "desajeitada".
Podemos encontrar, contudo, diversas situações que indiciam uma alteração:
- a criança agarra-se aos pais, recusando ficar de pé;
- a criança interrompe subitamente a brincadeira apresentando um "olhar perplexo" ou assustado, podendo apoiar a cabeça no chão, na parede ou no sofá;
- situação de queda e choro súbito sem causa evidente, com ou sem vómitos;
- torcicolo;
- cefaleias;
- alterações do rendimento escolar.
Uma outra manifestação física que pode estar presente é o nistagmo - oscilação rítmica, repetida e involuntária dos olhos. É o único sinal objetivo de vertigem e nas crianças tende a ter frequências mais baixas, mas com maiores amplitudes.
A vertigem pode, por vezes, aparecer também associada a outros sintomas: náuseas, vómitos, dores de barriga, palidez, aumento do ritmo cardíaco, perda de consciência - o que pode orientar erradamente para um diagnóstico de doenças do sistema digestivo ou neurológico.
Como diagnosticar?
A informação dada pelos pais é importantíssima para uma anamnese exaustiva e para elaboração de um diagnóstico diferencial: quando iniciou o sintoma, outros sintomas associados, duração dos sintomas, fatores desencadeantes, história familiar de enxaqueca ou vertigem são algumas das informações a recolher.
Exame objetivo - realizado pelo ORL e tendo em conta o normal desenvolvimento psicomotor e colaboração variável
- Otoscopia - excluir patologia do ouvido médio;
- Observação dos movimentos oculares e pesquisa de nistagmo ou estrabismos;
- Observação do equilíbrio postural:
- pelo reflexo de Moro, pelo sentar e gatinhar, pela marcha ou corrida - se é apropriada à idade, se existe ataxia, desvio ou incoordenação motora dos membros inferiores;
- observação da forma como apanha brinquedos do chão sem se desequilibrar ou sem necessidade de se sentar ou procurar apoio, por exemplo;
- teste de Romberg com olhos abertos e olhos fechados.
Pode ser necessário também a realização de alguns exames complementares de diagnóstico:
Exames de audiologia: audiograma, impedância e potenciais evocados miogénicos vestibulares ou Videonistagmografia, Video Head Impulse Test ou Posturografia Dinâmica Computorizada (em crianças mais velhas).
Exames neurológicos: para excluir patologia central.
Exames imagiológicos: TC ou RMN
Exames laboratoriais: em caso de suspeita de intoxicação ou alteração metabólica.
Diagnósticos mais frequentes:
- Vertigem Migranosa: diagnóstico mais frequente de vertigem na criança - caracteriza-se por ataques de vertigem acompanhados ou alternados de dores de cabeça (cefaleias). Podem estar associadas também náuseas, vómitos e fotofobia. O cansaço, stress, falta de sono ou alterações oftalmológicas podem agravar os sintomas. Existe uma forte correlação com antecedentes familiares de enxaqueca.
- Vertigem Paroxística Benigna da Infância: segunda causa mais frequente entre os 2 e os 3 anos; caracteriza-se por ataques súbitos e repentinos (segundos de duração) de vertigem, associada a nistagmo. A criança assusta-se, cai ou agarra-se a algo. Pode ser acompanhada de náuseas, vómitos ou palidez.
- Otite média serosa: crianças com otite serosa podem manifestar alterações na aquisição dos movimentos durante o equilíbrio dinâmico. Pode estar relacionada com anomalias na transmissão da pressão do ouvido médio para o ouvido interno.
Nos casos de otite média aguda, a vertigem poderá ser desencadeada por uma inflamação estéril do ouvido interno (labirintite) resultante da exposição a substâncias tóxicas ao nível das membranas que ligam o ouvido médio ao ouvido interno. Esta vertigem desaparece após tratamento.
Outras etiologias:
. Traumatismo cranioencefálico
- Tumores cerebrais ou do ouvido
- Malformações do Ouvido Interno
- Nevrite vestibular
- Doença de Ménière
- Alterações visuais
- Cinetose
- Perturbações psiquiátricas
Evolução clínica
O tempo de duração da cada episódio é variável, tendo em conta a causa da vertigem.
Alguns estudos referem que crianças com hipoacusia apresentam maior risco de ter também patologia vestibular.
Por outro lado, na criança com patologia vestibular, o estudo da condição auditiva é importante para descartar défices que podem comprometer o desenvolvimento cognitivo da mesma.
Terapêutica
A situação causal, sempre que identificada, deve ser resolvida.
O ponto mais importante do tratamento é, no entanto, explicar aos pais o diagnóstico e prognóstico da alteração, até porque a ansiedade dos pais é, muitas vezes, copiada pelas crianças, agravando as manifestações de vertigem.
Sempre que justificável, a criança é medicada. Em certos casos poderá ser benéfico a realização de "reabilitação vestibular" - feita em casa pelos pais, segundo indicações médicas, com reforço de atividades lúdicas que englobem exercícios de treino postural e equilíbrio.
Inês Martins
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