Na amamentação, devo evitar certos alimentos por serem alergénios, terem sabor forte ou provocarem cólicas no bebé - MITO


Mesmo antes de iniciar a diversificação alimentar, a mãe é a responsável por aquilo que o bebé consome, quer in utero, através do líquido amniótico, quer através do leite materno. Desta forma, é fácil de compreender a preocupação das mães com os alimentos que podem/ devem ou não consumir durante esta fase. 

Surgem inúmeras questões, particularmente devido a mitos que se foram propagando de geração em geração, quer seja pela possibilidade de determinado alimento provocar cólicas no bebé, por ser potencialmente alergénio ou por alterar o sabor do leite materno. 

Enfim, as dúvidas são muitas e importa clarificar estas questões, mito a mito.


1- Haverá necessidade de restringir determinados alimentos pelo seu potencial de provocar cólicas no bebé?

Por norma, as cólicas do bebé surgem pela imaturidade do sistema digestivo e da sua microbiota, isto é, o conjunto de bactérias que habitam no nosso intestino. Com o tempo, existirá uma adaptação fisiológica que fará com que os sintomas atenuem ou até desapareçam. 

Uma prova de que este é um mito infundado é o facto de que as fibras, componentes dos alimentos que fermentam no intestino e provocam cólicas, não são digeridas pelo intestino. Dessa forma, não sendo absorvidas, não passam para o leite materno, sendo impossível que afetem o bebé. 


2- Deverá a lactante evitar alimentos que confiram um sabor intenso ao leite?

Não, muito pelo contrário. Já durante a gravidez, particularmente no 3º trimestre, o bebé deteta sabores, como o do alho, provenientes da alimentação materna, uma vez que estes atravessam o líquido amniótico. Tal facto é benéfico, promovendo uma maior familiarização do bebé com novos sabores e facilitando a diversificação alimentar, uma vez que a aceitação de novos alimentos tenderá a ser melhor. 

Constitui, por isso, uma ótima forma de educação alimentar, desde os primeiros meses de vida. 


3- Existem alimentos potencialmente alergénios que devem ser evitados no período da lactação?

Apesar de existirem alimentos com maior potencial alergogénico, não existe evidência que o facto de não serem consumidos na gravidez e amamentação confira algum tipo de proteção ao bebé. Poderá, sim, ser um risco eliminar certos alimentos da alimentação materna sem fundamento, uma vez que a variedade alimentar é comprometida e o risco de carências nutricionais fica aumentado. 

Apesar disto, existem alguns alimentos e bebidas a evitar na gravidez e amamentação. 

É o caso do álcool, cuja dose mínima segura não está estabelecida para as fases e, portanto, o mais prudente é mesmo a ausência de ingestão. Caso a mulher não queira abdicar do seu consumo, o mesmo deve ser feito no final de uma mamada, para que ocorra um intervalo mínimo de duas a três horas, até à próxima vez que irá amamentar. Desta forma, diminui o risco do álcool ainda se encontrar em circulação. 

Também a cafeína, por atravessar a placenta e ser libertada no leite materno, deve ser consumida numa quantidade inferior a 200mg por grávidas ou mulheres que estejam a amamentar, não devendo esta exceder, por isso, um consumo máximo de 2 cafés expresso por dia (média de 75mg por café expresso, em Portugal). Além disso, existem alimentos e bebidas como o chocolate, alguns refrigerantes e chás, como o preto e verde, que também contêm cafeína e que, por isso, devem ser ingeridos em quantidades moderadas. 


Para concluir...

Aquilo que a mãe ingere irá refletir-se não só na sua saúde e bem-estar, como também no bebé. Contudo, evitar determinados alimentos pelo seu potencial alergénio, pelo sabor ou pelo seu possível impacto nas cólicas do bebé, é infundado.

Ainda assim, apesar das ideias acima mencionadas carecerem de fundamento científico e se tratarem de mitos, deverá haver o cuidado, por parte dos pais, de detetar eventuais sintomas ou desconforto no bebé e, se assim for, a mãe deve suspender a ingestão do alimento em causa, durante uns dias. Depois, verificar se houve ou não melhoria dos sintomas. Caso contrário, o melhor é procurar um acompanhamento especializado. 

Em suma, a preocupação com a alimentação materna na fase da amamentação deve centrar-se na ingestão de alimentos nutricionalmente ricos, que forneçam nutrientes necessários a um crescimento e desenvolvimento saudáveis do bebé, bem como a manutenção da saúde da mãe. 



Maria Inês Cardoso