As lesões de mordedura sem solução de continuidade (sem ferida), não levantam do ponto de vista médico grandes problemas, uma vez que são aplicadas muitas vezes sobre a roupa e deixam apenas pequenos hematomas. 

São particularmente frequentes entre as crianças dos 12 aos 24 meses.


A preocupação surge e de forma justificada, precisamente nas mordeduras em que há aparecimento de ferida mais ou menos profunda. 

Independentemente do tipo de mordedura, é extremamente importante saber do estado vacinal do animal ou da criança que morde, tal como daquela criança que é mordida. Isto é particularmente relevante em relação ao tétano e à raiva, embora em Portugal esta doença esteja extinta. No caso da mordedura humana é importante serem realizadas as serologias para o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) e as Hepatites víricas B e C.

A gravidade da mordedura está dependente da sua localização, extensão e profundidade.


Mordedura humana

Todas as mordeduras devem ser observadas pelo médico se houver solução de continuidade ou perda de tecido.

Dada a frequência da infeção, deve ser realizado um exsudado da lesão sempre possível.

Os agentes microbiológicos mais frequentemente encontrados são os anaeróbios (50%), seguidos da Einekenella corrodens (25%), estafilococos e estreptococos.


  • Terapêutica (numa unidade de saúde - hospital ou centro de saúde - quando se verifica ferida):
  1. Lavar sob pressão, com soro fisiológico ou água corrente.
  2. Retirar corpos estranhos que estejam na lesão.
  3. Proceder à limpeza cirúrgica com desbridamento de tecidos, se se justificar, nas lesões profundas e extensas. 
  4. A lesão não deve ser suturada dado o risco de infeção, excepto se ocorrer na face, por razões estéticas.
  5. Todas as mordeduras da face e extremidades ou articulações e estruturas ósseas devem ser observadas pela cirurgia plástica e ortopedia. 
  6. Antibioterapia oral.
  7. As soluções com antibiótico para limpeza da ferida não têm vantagem acrescida. 


Mordedura de cão

Devem ser sempre observadas pelo médico nas primeiras 8 horas. 


Infetam quase sempre e o risco é máximo nas 24 horas após a mordedura. 

Os agentes mais frequentemente encontrados são os anaeróbios, os estreptococos, a Pasteurella multocida (30%), o Staphilococcus aureus (20%) e o Staphilococcus intermedius (20%). 

O tratamento é semelhante ao descrito antes a propósito da mordedura humana, acrescido da profilaxia da raiva e tétano, se for o caso. 


Mordedura de gato

Este tipo de mordedura infeta mais frequentemente que as de cão. 

O agente mais frequentemente implicado é a Bartonella henselae, embora estas mordeduras sejam frequentemente sobre-infetadas por Pasteurella multocida (50%), Staphilococcus aureus e Streptococcus do Grupo A de Lancefield. 

O tratamento é semelhante ao descrito antes a propósito da mordedura humana, acrescido da profilaxia da raiva e tétano, se for o caso. 

Além da antibioterapia oral, por vezes a gravidade da infeção justifica a administração de antibioterapia endovenosa.  



Alexandra Silva Couto