Numa altura em que o vegetarianismo e veganismo estão a ganhar força, quer por motivos ambientais, éticos ou de saúde, se num indivíduo adulto é necessário existir um grande planeamento da alimentação de forma a evitar desequilíbrios nutricionais, na infância este cuidado deve ser redobrado! 

As bebidas vegetais constituem uma alternativa aos laticínios para indivíduos alérgicos à proteína do leite de vaca ou intolerantes à lactose - o açúcar naturalmente presente no leite e derivados - sendo também a escolha de quem opta, apesar de não ter indicação médica, mas alguma motivação pessoal, por não consumir ou reduzir a ingestão de alimentos de origem animal. 

A composição destas bebidas baseia-se sobretudo em água, hidratos de carbono e, sobretudo no caso de bebida de soja, também em proteína. 



Serão, então, as bebidas vegetais interessantes em termos nutricionais e uma boa alternativa aos laticínios? 

Depende!

  1. A composição nutricional poderá ser mais ou menos interessante dependendo do facto da bebida vegetal ter ou não açúcar adicionado, sendo este um dos grandes problemas de grande parte destas bebidas, acabando por, muitas vezes, se assemelharem mais a um refrigerante, cuja composição é maioritariamente água e açúcar, do que leite (designação que apenas deve ser usada relativamente ao produto proveniente de mamíferos, nunca de origem vegetal).
  2. Para além disso, em termos de proteína, à exceção da bebida de soja que tem uma quantidade semelhante (3,7g por 100mL vs 3,4g por 100mL no leite de vaca), nas restantes versões este macronutriente está presente em quantidades bastante reduzidas. Por outro lado, a proteína presente nos laticínios é considerada de alto valor biológico, ou seja, é constituída por todos os aminoáciodos essenciais, ao passo que nas bebidas vegetais não, sendo menos completa e apresentando também uma menor digestibilidade.
  3. Um outro aspeto a ter em conta na escolha de bebidas vegetais é a sua composição em micronutrientes, ou seja, em vitaminas e minerais. Regra geral, estas bebidas são mais pobres em micronutrientes, como cálcio, ferro, B12 e vitamina D, comparativamente aos laticínios. Apesar de muitas das bebidas já serem fortificadas nestes nutrientes, a biodisponibilidade, ou seja, a absorção e assimilação pelo nosso organismo, é bastante menor do que no leite e derivados. 
  4. A bebida de arroz está contraindicada nos lactantes e crianças devido ao seu teor em arsénio inorgânico, considerado carcinogénico. De modo a reduzir a exposição infantil ao arsénio, a ESPGHAN - Sociedade de Gastrenterologia, Hepatologia, Nutrição Pediátrica - recomenda que não sejam oferecidas bebidas de arroz nestas faixas etárias. 
  5. No caso de bebida de soja, o mais prudente parece ser também não incluir nesta fase, pelo menos em crianças pequenas, devido ao seu teor em fitatos e fitoestrogénios, uma vez que os efeitos da exposição precoce a estes compostos a médio e longo prazo são ainda desconhecidos. 
Tendo em conta estes motivos, as bebidas vegetais não devem ser introduzidas antes dos 24 meses (e preferencialmente após os 36 meses) e nunca devem substituir uma fórmula infantil, uma vez que não fornecem quantidades suficientes de energia, proteína, cálcio e vitaminas C, D, E e niacina (B3)

Quando utilizadas, as bebidas vegetais podem ser oferecidas apenas ocasionalmente, nas versões simples, com baixo teor de açúcar (<5g/ 100g de produto) e sem adição de chocolate ou baunilha, de forma a não promover a preferência da criança por bebidas doces. 

O consumo de laticínios está associado a uma redução do risco geral de doenças cardiovasculares e alguns tipos de cancro, como o cancro coloretal, gástrico e da mama, sendo bastante interessantes do ponto de vista nutricional. Com exceção de situações de alergia ou intolerâncias, podem e devem ser incluídos na alimentação de miúdos e graúdos!





Maria Inês Cardoso