O nascimento de um bebé prematuro afeta não só os pais, mas também os outros membros da família. Tudo muda. O trabalho, a família os outros filhos e os pais passam a viver consoante as rotinas das UCIN e vários são os ajustamentos que têm que fazer nas suas vidas. A complexidade das emoções e a tensão constante vividas pelos pais durante este período, podem potencialmente afetar a segurança no relacionamento com os outros filhos e a vida familiar. Existe assim um risco aumentado de problemas, incluindo stress familiar e os filhos que estão em casa podem viver igualmente a situação com ansiedade e sentirem-se desapoiados. Por vezes, a ausência de apoio de outros familiares aumenta ainda mais os níveis de stress dos pais e fá-los sentirem-se culpados por não se encontrarem tão disponíveis para os outros filhos. 




O que os irmãos podem sentir?

A idade dos irmãos tem importância na compreensão das razões pelas quais o bebé, que estava na barriga e já nasceu, não pode ir para casa; o que é isso de nascer tão pequenino e porque os pais parecem diferentes (já não sorriem tanto, andam mais tristes, estão com menos paciência, estão mais ausentes, ...). Podem sentir que estão a ser "abandonados", que se calhar os pais já não gostam tanto deles, ou ainda que podem ter feito alguma coisa e por isso os pais se estão a afastar. 

É ainda natural que a criança passe por um período em que surgem algumas mudanças de comportamento. Maior agitação, birras frequentes, raiva, chamadas de atenção, alterações do sono, ciúme, problemas na escola e outras mudanças no comportamento, são reveladoras do sentir da criança face às alterações na sua vida familiar. É ainda natural que possam surgir comportamentos mais regressivos e imaturos, tais como querer outra vez a chucha, biberão, ... devendo os pais, nesta fase, serem mais tolerantes. 

Por vezes os pais dizem: "É pequena, ainda não percebe bem o que está a acontecer", mas é um erro tremendo, dado a criança perceber à sua maneira que o olhar e comportamento dos pais está diferente. A criança fica assustada e pode sentir que a segurança do relacionamento com os pais e das suas rotinas familiares se encontra ameaçada. 

Quando a criança é mais velha, a sua capacidade de compreensão é diferente. No entanto, a vivência emocional e as alterações à sua vida diária obrigam a novos reajustamentos para os quais não estavam preparados e podem ser difíceis de lidar. 




Como é que os pais devem lidar com a situação, de forma a encontrar um equilíbrio?

Para ajudar os irmãos mais velhos a se adaptarem mais facilmente às ausências e preocupações dos pais com o novo bebé prematuro, é necessário fazer com que a criança se sinta envolvida. Nada pior para esta quando os pais, por desconhecimento, a deixam sozinha tentando "protegê-la" das preocupações. Ao fazer isto, imagino que com a melhor das intenções, estão a deixar a criança  entregue aos seus próprios medos e aflições (por mais que se tente esconder, a criança percebe), sem apoio e segurança por parte dos pais. 


Algumas DICAS podem ajudar:
  • os pais devem tentar, sempre, explicar de modo simples e numa linguagem adequada à idade da criança, o que aconteceu;
  • tentar terem tempo para estar com os filhos mais velhos. Embora seja difícil, muitas das vezes, os pais afastarem-se das unidades e irem para casa, é importante conseguirem um equilíbrio com os filhos que estão em casa. Eles também precisam (da mesma forma que os pais), pois sentem-se confusos e assustados com o que se está a passar;
  • os pais não devem ter medo de falar de forma simples, do que sentem e dos seus receios com os filhos mais velhos, bem como devem dar espaço para que eles também se possam expressar;
  • é importante que os pais reforcem o amor para com os filhos mais velhos. É importante que os pais digam e façam sentir que continuam a ser amados, que continuam a ser importantes e que, todos juntos enquanto família, vão conseguir ultrapassar. Aqui o sentimento de unidade familiar transmite coesão e segurança; 
  • importante introduzirem o bebé da realidade aos irmãos mais velhos. Podem levar fotografias ou outros pertences, de modo a que o bebé comece, progressivamente, a tornar-se mais real e menos abstrato para os irmãos. Este aspeto é importante, pois facilita a integração do bebé no seio da família: "Afinal existe!";
  • sempre que possível, de acordo com as regras das unidades de internamento, devem levar os irmãos a visitar (ver) o bebé. A realidade da existência de uma bebé é importante. 
  • com crianças pequenas o brincar e o fazer de conta é uma boa estratégia para os ajudar. Por exemplo:
          - arranjar um boneco para que a criança, em casa, possa cuidar dele como um bebé prematuro e uma caixa para fazer de incubadora, ...;
          - dizer à criança para fazer um desenho ou para escolher um brinquedo para o bebé;
         - gravar (hoje com o telemóvel é fácil) uma mensagem da criança para o bebé;
          - criar uma storyboard acerca do bebé e partilhá-la com a criança mais velha;
          - realizar atividades que não tenham nada a ver com o bebé.
  • é importante, sempre que possível, tentarem ter ajuda em casa. Avós e outros familiares podem ajudar os pais a cuidar da(s) criança(s) que está(estão) em casa, garantindo alguma estabilidade nas rotinas e compensação efetiva;
  • quando o bebé tem alta, continua a ser importante prepará-lo(s) e explicar o que vai acontecer, envolvendo-o(s), carinhosamente, nos cuidados. 
Em conclusão, não é uma tarefa fácil, dado serem várias as exigências e as tarefas psicológicas com que os pais se têm que confrontar, quando do nascimento de um bebé prematuro. A existência de outros filhos aumenta a pressão pelas preocupações acrescidas com o seu bem-estar. 

Para as crianças também não é fácil sentirem que de repente o seu mundo ficou de pernas para o ar. A segurança e a estabilidade familiar sofreram alterações e o sentimento que predomina é a ameaça. Independentemente da idade, que possibilita uma maior ou menor compreensão da situação, torna-se importante que os pais envolvam os outros filhos, num esforço conjunto e que consigam manter um equilíbrio na atenção e disponibilidade afetiva para com todos os seus filhos... em casa e na unidade. 





Lília Brito