O início da alimentação diversificada é sempre um marco importante na vida da família e pode envolver alguma insegurança, quando se trata de uma criança prematura. 

A primeira dúvida costuma surgir em relação ao tempo certo. 


Numa só frase, poderia dizer-se que não há uma data mágica para o início da alimentação com a colher. Faz sentido começar quando em simultâneo for necessário, for possível e for seguro. 


É necessário quando...

... o leite materno ou fórmula láctea deixam de suprir todas as necessidades nutricionais da criança. Para a maioria, sabe-se, esta insuficiência faz-se sentir por volta dos 6 meses de idade cronológica. 

Recomendações nutricionais para crianças nascidas pré-termo são diferentes das crianças de termo, porque aquelas têm necessidades aumentadas. Acresce ainda o facto de terem reservas limitadas, porque perderam o 3º trimestre da gravidez, altura em que é feita a acumulação de nutrientes. 


É possível quando...

... existe a capacidade para retirar alimento da colher, já que o biberão deve ser utilizado apenas para oferecer leite, fórmula láctea e água. 

Se bem que alguns autores refiram que o internamento prolongado, entubação e aspiração atrasam a aquisição de competências para a alimentação, outros têm vindo a demonstrar que a maioria das crianças nascidas pré-termo têm desenvolvimento motor suficiente para iniciar a diversificação alimentar entre os 5 e os 8 meses de idade cronológica - mesmo nos casos de prematuridade extrema. 

Esta capacidade pode testar-se facilmente, utilizando uma pequena colher para oferecer as vitaminas habituais.


Desconhece-se ainda se as competências para comer estão programadas e aparecem, aconteça o que acontecer, ou se são influenciadas pelos estímulos orais. Tem vindo a constatar-se, contudo, que a falta desses estímulos se associa a dificuldades alimentares, mais tarde. Mesmo tratando-se de crianças nascidas prematuras, o atraso no início da alimentação diversificada pode condicionar resistência a ingerir qualquer coisa que não seja leite, além de recusa persistente em comer com colher, levando a que o cansaço da família fale mais alto e acabe, a "comer" sopa e tudo o que for possível, pelo biberão!


É seguro quando...

... os novos alimentos não constituem fator de agressão. 

Em termos de segurança nomeadamente em relação a eventuais episódios de alergia alimentar ou sobrecarga renal, as notícias têm sido animadoras. 

Segundo alguns estudos recentes, apesar da imaturidade das crianças pré-termo, não há evidência de que o início precoce de novos alimentos aumente a incidência de doenças atópicas. O risco de alergia alimentar parece não se colocar especialmente nas crianças prematuras, porque a permeabilidade do intestino diminuiu nos primeiros dias de vida, independentemente da idade gestacional e do peso ao nascer. 

Também a maturação da função renal ocorre em função da idade cronológica, independentemente da idade gestacional ao nascer. Este aspeto é tranquilizador quando precisamos de aumentar a densidade nutricional dos alimentos, uma vez que as necessidades nutricionais das crianças nascidas pré-termo são elevadas e a sua capacidade gástrica é limitada. 


Com que alimentos, então?

No momento de escolher os alimentos para a criança prematura, devemos ter consciência do seu percurso no início da vida. Se por algum motivo existiu um período de restrição nutricional, que induziu restrição de crescimento pré-natal ou imediatamente após o crescimento, é sensato refrearmos um pouco a nossa tentação de ir em busca das calorias perdidas! O organismo adapta-se sempre ao meio, numa tentativa de sobrevivência. Assim, uma oferta calórica exagerada imediatamente a seguir a um período de "carência", tende a predispor as crianças para a obesidade e toda a panóplia de situações que lhe estão associadas.


O aporte calórico deve ser o necessário para lhe proporcionar um padrão de crescimento saudável, sendo que um bebé, prematuro ou não, nem sempre precisa de comer papas. 

Muito para lá das calorias e das proteínas, é necessário ter em conta outros nutrientes (ferro, zinco, iodo, vitaminas, ...) que embora em quantidades menores, são indispensáveis ao crescimento - o cérebro é particularmente sensível à carência destes micronutrientes!

Por outro lado, na escolha dos alimentos para qualquer criança (prematuras incluídas), devemos ter sempre presente que não só estamos a nutri-las, mas também a educá-las do ponto de vista alimentar. É fundamental insistir no treino de outros paladares que não o doce. Iniciar a alimentação diversificada com creme de legumes é uma opção saudável, não só pela sua riqueza nutricional, mas também porque é aqui que começa a educação alimentar das crianças. 

E é simples assim! Respondendo a necessidades nutricionais, respeitando capacidades motoras, acautelando fragilidades individuais e colocando o foco na educação do paladar desde o início, temos uma receita de sucesso! 



Manuela Cardoso