Falar da minha gravidez é falar de um tempo não tão "cor-de-rosa", bem diferente das expetativas que tinha como mãe de "primeira viagem". É falar de uma fase "assombrada" desde cedo pela possibilidade de um parto pré-termo. Para poupar angústias a esta leitura, adianto já: connosco correu tudo bem. 


Mentiria se dissesse que a gravidez foi "pêra doce". Foi uma aventura repleta de desafios e muitas limitações, sem direito a uma vivência em pleno desta fase e a provar que cada gravidez é única e imprevisível. Da gravidez, não tenho registos - não houve margem para sessões fotográficas bonitas, dessas que enchem as redes sociais, porque imperou a "ditadura" do repouso absoluto desde cedo. 

Desde cedo também que a barriga de "lua cheia", demasiado grande, levantava suspeitas para um quadro clínico que nunca tinha ouvido falar: hidrâmnios - excesso de líquido amniótico. Na minha ingenuidade, sempre achei que ter muito líquido fosse positivo, mas certo é que a barriga pesava muito (muito mesmo) e logo a médica mandou abrandar. Seguiram-se largas dezenas de consultas e (tantos!) exames - a mim e ao bebé, para averiguar a razão de tanto líquido. Somaram-se sustos e os inevitáveis nervos associados aos diferentes riscos - que se foram riscando pouco a pouco: a diabetes gestacional, os problemas da tiróide, malformação fetal (incluindo malformação cardíaca), infeções maternas... Quando o excesso de líquido foi finalmente considerado idiopático - sem causa aparente, nem por isso respirei de alívio. Continuava a ter uma gravidez de risco e um bebé inquieto, cheio de vontade de vir conhecer o mundo cá fora, cedo demais. 

Durante esta gestação "horizontal", procurei informar-me o melhor que pude sobre a prematuridade. Porque o "Dr. Google" consegue ser cruel, tive o cuidado de procurar as melhores fontes de informação sobre o tema. Tive a sorte de meses antes (mesmo antes de engravidar), me ter cruzado profissionalmente com "o pai, a mãe e eu" (o Universo lá tem a sua maneira de funcionar, certo?), um projeto que muito admiro, para o qual tive oportunidade de trabalhar e que me havia alertado para esta temática e para as causas de bebés pré-termo, nomeadamente a idade gestacional (fui mãe aos 35) e o factor "stress" - para mim, um dos maiores inimigos de uma gravidez saudável. 

Só voltei a respirar de alívio às 35 semanas (ainda assim seria considerado prematuro, mas à partida já não seria necessário fazer a maturação pulmonar para a qual nos fomos preparando mentalmente). Até lá, com uma ameaça de parto às 25 e um colo do útero bem curtinho, fiz do repouso regra e procurei "mergulhar" num mar de calma e pensamento positivo. Agarrei-me à ideia de que haveriam certamente mulheres na mesma situação para quem abrandar seria complicado ou impossível, e foi nisso que ganhei garra para fintar a solidão e a certa impaciência de passar dias e dias deitada (e dormente). Com um negócio próprio e com um estilo de vida pautado pelo stress, este "bicho-carpinteiro" que sou teve de aprender a sossegar - corpo e espírito - e acabei por decidir parar muito antes do que havia previsto, por mais difícil que isso fosse a vários níveis, incluindo monetários. Eu, que sempre me imaginei a trabalhar até à data do parto, não duvido um segundo de que abrandar terá feito toda a diferença nesta nossa vitória.


O Vicente nasceu às 38 semanas e, embora pequenino, nasceu livre de complicações. Hoje, com três mesinhos, é um bebé forte e de sorriso rasgado e continua a ensinar-me que às vezes só precisamos mesmo de tirar o pé do acelerador e rever as nossas prioridades. Serenar, cuidar e nutrir-nos enquanto fuuras mamãs é difícil numa sociedade que exige pressa e nos rouba tanto tempo, mas é, de facto, fundamental para darmos luz à vida. Espero que a sociedade esteja cada vez mais alerta e consciente disso - e do tanto que há ainda para fazer no nosso país em relação à prevenção da prematuridade. 

A todas as futuras mamãs que me estão a ler agora, com ou sem gravidez de risco, um enorme e caloroso abraço e toda a energia positiva. 



Rita Peres, mamã orgulhosa do Vicente
Fundadora do Taini Creative Studio