Há 12 anos... 

... eu tinha 28 anos, já era enfermeira e trabalhava na área que sempre tinha idealizado no decurso do curso de enfermagem - a Neonatologia!!

Sentia (e sinto) um orgulho enorme por trabalhar com os maiores guerreiros, os bebés que nascem antes do tempo! Sem peso, sem maturidade, tão frágeis, mas com tanta coragem e força!!

A par disto, o meu desejo de ser Mãe era muito grande e em junho desse ano tivemos a boa nova!!! Estávamos grávidos! 

A gravidez correu sem qualquer risco até às 22 semanas de gestação, altura em que, após a ecografia morfológica, foi detetado encurtamento do colo do útero e a partir daí passou de uma gravidez normal, para uma de alto risco. Deixei de trabalhar de imediato e fui para casa com indicação para repouso absoluto. Mas mesmo assim não o colo não estabilizou. As contrações e as hemorragias começaram... houve internamentos... repouso... medicação... mas com 27 semanas já não se conseguiu parar o trabalho de parto e o Francisco nasceu!


Nasceu com 849g e 32cm. Eu sabia tudo o que ele iria passar nascendo tão pequenino, o que fazia com que a minha tristeza, ansiedade e angústia fossem ainda maiores. Não queria que o meu filho passasse por esse sofrimento, por técnicas dolorosas, por manipulações excessivas... Sabia que ele não iria poder ter o colo dos Pais e nós iríamos passar por dias de internamento difíceis e que iriam parecer infinitos. Alguns dias de sucessos e muitos de retrocessos. 

E assim foi!!! Dois meses e meio de internamento. O Francisco esteve ventilado, fez várias infeções, o oxigénio era a sua grande dependência e, mesmo com ele, pregava grandes sustos ao deixar de respirar. Mas devagarinho foi crescendo, ganhando peso e maturidade para sair da incubadora, que o protegia e aquecia. 

Um dos dias mais difíceis e que nunca irei conseguir esquecer foi quando tive alta da Maternidade, dois dias depois do Francisco nascer. Saí da Maternidade e cheguei a casa sem o meu filho. Uma sensação de vazio que ainda hoje dói. 

O Francisco teve anta uma semana antes da data prevista, caso tivesse sido uma gravidez de 40 semanas. Tinha quase 2kg e tinha conseguido ultrapassar todas as adversidades da prematuridade. Hoje tem 12 anos e é um miúdo saudável e feliz! 

A neonatologia passou a fazer parte da minha vida pessoal e da profissional. Compreendia, agora, o outro lado. E, apesar de ter doído muito, valeu a pena! 

Por isso abracei este projeto de coração cheio. 

"o pai, a mãe e eu" tem proporcionado sensibilizar a população para a problemática da prematuridade, capacitando as Famílias para uma situação que qualquer uma pode ter de enfrentar, quando menos esperar.



Filipa Soveral 
(o pai, a mãe e eu)