Nos dias de hoje, é ponto assente que a leitura e as histórias contribuem de forma bastante profícua para o desenvolvimento das crianças, influenciando diretamente a sua capacidade de expressão e compreensão, assim como, a riqueza do seu vocabulário enquanto estimulam a imaginação e a criatividade. 

Surgem, no entanto, algumas dúvidas em relação à idade ideal para começar a ouvir histórias, assim como ao tipo de história mais adequado.


O contacto com os livros e com as histórias deve ser iniciado o mais precoce possível, muito antes da criança saber ler, para que, desde a mais tenra idade, tome gosto pelo "objeto livro" e por tudo o que lhe poderá proporcionar para além do que as suas páginas contam.

Felizmente, hoje em dia, existe uma grande variedade de histórias e livros infantis, aos quais os pais ou cuidadores podem recorrer, sempre que querem contar histórias às suas crianças.

O que se verifica é que, perante essa mesma variedade, acabam, muitas vezes, por surgir dúvidas no que respeita a:

  • que tipo de história escolher?
  • devemos contar histórias com ou sem livros? 
  • em caso de optarmos pelo livro, que tipo de livro escolher?
  • o livro deverá conter ilustrações?
  • o livro deverá ser cartonado, ou de folhas simples?
A juntar a estas dúvidas, muito mais se poderia acrescentar. No entanto, a conclusão à qual se chegaria seria sempre a mesma: não existe uma resposta que se possa considerar correta! Existem respostas que se adequam a cada situação específica. E existem fatores a considerar, sendo que a criança, ou as crianças, a quem o livro, ou a história, se destina tem inerente características próprias, determinantes para a escolha, tais como a sua idade, os seus interesses, a sua sensibilidade e ainda o seu meio sociocultural e desenvolvimento emocional. Uma vez que todos eles condicionam o nível de compreensão do que lhe é lido, ou contado.


O autor, ao escrever, escreve para todos e para ninguém em especial. Ao contrário deste, o contador de histórias tem um público específico, pelo que tem de selecionar uma história adequada a quem tem, ou vai ter, à sua frente. 

Se o contador optar por contar uma história sem o suporte físico do livro, para conseguir manter a criança interessada, deve utilizar um vasto leque de recursos, entre eles, recorrer a inflexões de voz, mudança de timbre, gesticulação... Ou seja, quase dramatizar a história. Desta forma, certamente, irá conseguir manter a atenção da criança focada no seu enredo, facilitando a sua identificação com as personagens, possibilitando-lhe assim a oportunidade de criar imagens mentais e desenvolver a sua imaginação e criatividade. 

E se contarmos uma história com livro, como devemos proceder?

O contador poderá ler ou contar. 

Mais uma vez, deve ser tida em conta a idade e as características da criança, ou grupo de crianças. A história contada, quase sempre, prende mais a atenção de quem ouve, no entanto, uma boa leitura expressiva e fluente, decerto, também o fará!

Se forem crianças muito pequenas, o livro deverá ser ilustrado de forma a captar ainda mais a sua atenção. Saliente-se que, nesta situação, o interesse das crianças pela história acaba por centrar-se, na grande maioria das vezes, na ilustração, fazendo com que se desliguem do seu enredo, para se centrarem apenas no que viram nas imagens. E muitas vezes, a história passa a ser, apenas, o que foi visto e não o que foi contado. Face a esta situação, é importante referir que a qualidade das imagens é um fator de grande relevância a ter em conta quando se escolhe um livro ilustrado. 

O livro ilustrado permite às crianças demorarem o seu olhar pelos pormenores das imagens e estabelecer correlações com o que ouviram da boca do contador. 


Permite-lhes criar momentos mágicos!

Momentos esses que, em certas ocasiões da sua vida, poderão ser o suporte para conseguirem ultrapassar muitas dificuldades. 

Por tudo isto, escolher um bom livro ilustrado é uma tarefa, por vezes, complicada. Infelizmente, nem todos os livros têm para oferecer uma ilustração adequada ao conteúdo, ou equilibrada. Apesar de ainda se encontrarem nas livrarias e bibliotecas alguns livros desta natureza, nos últimos anos tem havido uma grande preocupação, por parte das editoras, com estes aspetos. Hoje em dia é possível encontrar no mercado livros maravilhosos, com imagens adequadas, estimulantes e sugestivas, que fogem aos estereótipos muito comuns, utilizados há alguns anos e que vão permitir que, a partir dessa imagem, a criança possa construir um vasto leque de imagens mentais. 

Quando se fala de um livro ilustrado, as primeiras imagens que aparecem na nossa mente são as imagens que acompanham o texto. Contudo, autores como Thibault-Laulan defendem que o texto também é imagem. Por conseguinte, consoante o lugar e a forma como este estiver colocado na página, assim irá transmitir uma determinada informação. Como tal, os livros que se "oferecem" às crianças deverão conter não apenas imagens, mas também texto, isto no sentido de lembrar à criança que aquele texto e aquela imagem estão profundamente interligados. Desta forma, quando a criança começar a ler e as ilustrações "desaparecerem" do seu livro, poderá ter mais facilidade em construir imagens mentais acerca do texto, pois não partiu do abstrato, mas sim de algo concreto. 

Saliente-se, no entanto, que neste tipo de livros deve existir um notório equilíbrio entre a imagem e o texto. Se este equilíbrio não existir e a ilustração for demasiado rica em pormenores, pode, segundo Natércia Rocha, levar a criança a dispersar-se na sua apreciação e contemplação, acabando por não se fixar à história em si, podendo ainda ter dificuldades em compreendê-la ou retirar algo dela. 

Ao olharmos uma imagem, a nossa mente capta de imediato o que mais óbvio essa imagem quer transmitir. No entanto, ela quer dizer e encerra em si uma mensagem muito mais profunda do que aquela que foi captada. Se nos demorarmos mais um pouco a olhar para a mesma imagem, vamos começar a entender outros significados e intenções, camuflados ou insinuados pelas cores, formas e pela própria disposição da imagem na página. 

O que acabo de referir pode facilmente verificar-se na seguinte situação: 

no dia-a-dia da escola, é possível constatar que crianças, a quem é apresentada a mesma história duas vezes, a primeira sem recurso a nenhum tipo de ilustração e a segunda com recurso à ilustração, quando lhe é pedido que façam a reprodução da mesma, a primeira vez centram a sua atenção nas personagens e no enredo principal. No entanto, depois de terem ouvido a história uma segunda vez, com recurso à ilustração, ao fazerem a sua reprodução, já centram a sua atenção em pormenores diferentes que estavam presentes na ilustração e que em nada se relacionavam com o enredo da história. 


A ilustração é importante?
Sem dúvida que sim!
Estimula a imaginação?
Sem dúvida que sim!
Pode condicionar o entendimento do enredo da história?
Sem dúvida que sim, pois consegue desviar completa, ou parcialmente, a atenção das crianças de importantes pormenores das histórias!



Teresa Moreno