Os desejos podem realmente surgir na gravidez, principalmente no primeiro e segundo trimestres. Mas será algo mais psicológico, hormonal ou poderá estar relacionado com a falta de alguns nutrientes? Na realidade, parece dever-se a um conjunto de fatores. Todos nós temos, ocasionalmente, desejos por determinado alimento ou bebida, não se tratando, por isso, de algo exclusivo desta fase. Contudo, as grávidas estão mais propensas devido a todas as alterações que o seu organismo sofre, sejam elas hormonais, nutricionais ou mesmo psicológicas.


Não parece ainda haver consenso relativamente à origem destes desejos, podendo os fatores hormonais estar envolvidos, uma vez que há a probabilidade de alterarem o paladar e o olfato da grávida nesta fase. Por outro lado, sabe-se que, de acordo com os hábitos culturais, os desejos podem variar também. Por exemplo, em países africanos, o desejo por carne e frutas é bastante comum nas grávidas, enquanto que, nos EUA, estes episódios surgem com mais frequência em relação a alimentos mais doces e calóricos, como é o caso do chocolate e dos gelados. Assim, parece que os aspetos culturais e o tipo de alimentos disponível possam ter mais impacto nos desejos das grávidas do que eventuais necessidades nutricionais. Também a ansiedade típica desta fase pode levar a um aumento do apetite e preferência por certos alimentos, sendo essencial que a grávida procure técnicas que a ajudem a acalmar e não compensar essa ansiedade com um aumento do consumo alimentar.

Mas o bebé pode ser afetado se os desejos não forem satisfeitos? Não, o facto de a mãe não satisfazer os seus desejos não vai comprometer a saúde e desenvolvimento do bebé.

Pelo contrário, ceder aos desejos é que poderá ser prejudicial, dependendo do tipo de alimentos e frequência com que são ingeridos. Por exemplo, se a grávida comer doces em demasia (os desejos mais relatados na gravidez), descurando a ingestão de frutas e hortícolas, vai haver um comprometimento da qualidade nutricional da sua alimentação, o que poderá afetar a saúde da mãe e bebé, a curto e longo prazo. Deve haver um particular cuidado com snacks ricos em açúcar ou gordura, como os gelados, chocolate e bolos, uma vez que podem contribuir para um ganho de peso excessivo, surgimento/ agravamento da diabetes gestacional e/ ou da pré-eclâmpsia.


Por isso, perante um desejo por algo mais desequilibrado nutricionalmente, como um gelado ou batatas fritas, tente fazer substituições saudáveis, optando por consumir fruta, um gelado caseiro ou chips de batata doce caseira se lhe apetecer algo crocante, por exemplo. Contudo, se se tratarem de desejos pontuais, também não vai haver problema em ceder uma vez por outra. Nesse caso, não se culpe e disfrute, afinal o seu bem-estar psicológico também conta!

Resumindo, não existe qualquer prejuízo para a saúde do bebé, nem irá nascer com uma mancha ou sinal no corpo, como é comum ouvir-se. É sim essencial existir um equilíbrio e uma alimentação consciente, devendo desfrutar desta fase o mais tranquilamente possível.

Concluindo, trata-se de um MITO!



Maria Inês Cardoso