Um dos grandes desafios que a gravidez e, mais ainda, a chegada de um bebé traz ao casal é conciliar a conjugalidade com a parentalidade.

É frequente que o casal fique com pouco tempo para se dedicar à relação a dois, pois as tarefas, as preocupações, os pensamentos e mesmo as novas emoções associadas à existência de um bebé retiram tempo e até disponibilidade interna para o casal se dedicar um ao outro. Aliás, há até alguns mitos que levam a que, principalmente a mulher, se sinta algo culpada e com menor qualidade materna quando sente desejo/ vontade de desfrutar de momentos gratificantes com o seu companheiro ou de tirar alguns momentos do seu tempo para prazeres mais individuais. Como se ser Mãe devesse ser a única fonte de prazer e ao gratificar-se com outras coisas estivesse a "abandonar" o seu bebé, logo a ser "má Mãe".



Este tipo de pensamentos e sentimentos atualmente não fazem qualquer sentido a não ser reportarem a outros momentos culturais e sociais em que as mulheres davam sentido à sua vida unicamente pelo materno.

Na atualidade, a mulher gratifica-se em várias áreas podendo o materno ser uma delas. Sabemos, pela literatura científica e pela nossa experiência clínica, que a parentalidade será tanto melhor vivida quanto mais o casal se sentir gratificado na sua relação "conjugal" e, cada um dos seus elementos (mulher e homem) se sinta melhor consigo próprio enquanto indivíduo.

Estudos recentes apontam para uma relação direta entre a qualidade da relação do casal antes da gravidez e após o parto e a capacidade da mulher em superar o cansaço e a perturbação ligeira do humor (conhecida por blues pós-parto).

A chegada de um bebé não deve, não pode, conduzir a uma desvalorização do prazer individual e conjugal... antes pelo contrário!


O grande desafio da parentalidade é precisamente conseguir conciliá-la de uma forma harmoniosa com a conjugalidade e com a individualidade num dia-a-dia que continua a ter 24 horas.

É natural que nos primeiros dias após a chegada do bebé, este seja a prioridade até porque se está a iniciar um novo processo de aprendizagem com um novo ser que não se conhece, que é exigente e que apela ao cuidado. É natural que cada um dos elementos do casal queira (e tenha que) dedicar-se mais a estas novas tarefas e às emoções e afetos associados, mas tal não deverá nunca retirar algum tempo para o casal se olhar, se mimar, se valorizar mutuamente. Pode ser num jantar romântico à meia-noite se só for possível assim, mas que seja! Será, com certeza, uma descoberta de outra forma de estar juntos, mas que pode e deve ser também gratificante e prazenteira.


Não devemos esquecer que o bem-estar emocional dos Pais é a SAÚDE MENTAL dos filhos.



Maria de Jesus Correia