Hoje falaremos sobre uma situação que, apesar de benigna, representa uma causa frequente de ida ao Serviço de Urgência e é causadora de um grande sofrimento e angústia nos pais/ cuidadores: as convulsões febris.
Segundo a Sociedade Portuguesa de Neuropediatria, a Convulsão febril "é uma convulsão que surge numa criança saudável, entre os 6 meses e os 6 anos de idade, no início de uma doença febril." Está associada à subida térmica e, segundo alguns autores, tem o seu pico aos 18 meses. Nalgumas crianças pode surgir com temperaturas corporais inferiores a 38ºC.
Cerca de 5% das crianças (1 em cada 5) têm convulsões febris. Acredita-se que o sistema nervoso central destas é mais vulnerável à subida rápida de temperatura devido à sua imaturidade, o que as torna suscetíveis de desenvolver uma convulsão febril, que consiste numa ativação excessiva dos neurónios. Para além deste fator, a idade mais jovem da criança e a existência de história familiar de convulsões pode aumentar o risco desta situação.
Pelo sofrimento que causa em quem assiste ao episódio, este parece durar uma eternidade. No entanto, na maior parte das vezes são episódios breves e que passam sem necessidade de qualquer intervenção. Este sofrimento é em grande parte causado pelas características inerentes à convulsão febril, que se pode tornar muito assustadora para quem a vivencia pela primeira vez.
Na maioria das situações, as crianças perdem os sentidos, reviram os olhos, ficam com o corpo rígido e apresentam tremores dos membros superiores e inferiores. Podem ainda apresentar salivação excessiva, ficar com os lábios roxos ou urinar. Após alguns segundos/ minutos (ma maior parte das vezes antes dos 5 minutos), os movimentos param e segue-se um período em que a criança fica mole e adormece, acordando bem. Por norma, as convulsões febris são autolimitadas, ou seja, passam sozinhas sem que seja necessário qualquer intervenção.
Numa situação de convulsão febril é muito importante evitar o pânico e manter a calma. Isto é essencial para que os pais consigam observar as características da convulsão e posteriormente descrevê-la ao profissional de saúde.
Como devemos atuar?
- Vigiar os movimentos apresentados pela criança e registar hora de início e de fim;
- Deitar a criança de lado, proteger a cabeça e afastar todos os objetos onde a criança se possa magoar (por exemplo: os óculos);
- Não colocar nada na boca da criança, nomeadamente objetos ou dedos;
- Arrefecer o ambiente;
- Promover o arrefecimento corporal através da aplicação de envolvimentos tépidos e administração de Paracetamol supositório;
- Não tentar que a criança beba ou coma algo, mesmo que seja medicação para baixar a febre;
- Quando não é a primeira convulsão, os pais podem já ter indicação médica para administrar medicação específica para parar a crise. Esta medicação nunca deve ser administrada sem prescrição médica e a dose varia segundo o peso da criança.
As situações em que se deve recorrer ao Hospital são as seguintes:
- Quando é a primeira vez que a criança apresenta uma convulsão febril;
- Se a convulsão durar mais do que 5-10 minutos;
- Se os movimentos apresentados forem só de um lado ou se após a crise a criança só mexer um lado do corpo;
- Se após acordar, a criança se apresentar muito prostrada, com gemido ou sonolência ou com sensação clara de doença;
- Se tiver mais do que uma crise por dia ou se não recuperar após as crises.
O uso de antiepiléticos (medicação de trata as convulsões) não está indicado para prevenir as convulsões febris. Podem ser administrados antipiréticos (medicação para baixar a febre) em situação de febre, mesmo com temperaturas inferiores a 38ºC, como tentativa de evitar a convulsão febril. No entanto, não está provado que esta medida reduza a probabilidade de esta ocorrer.
Cerca de 1/3 das crianças voltam a ter convulsão febril. O risco de ocorrer uma nova crise é maior nos 6 a 12 meses após a primeira crise e se esta tiver ocorrido no primeiro ano de vida, bem como se existir história familiar de convulsões. Por este motivo, é importante que os cuidadores estejam atentos a situações de doença e que vigiem a temperatura corporal.
Apesar de assustadoras, as convulsões febris não causam problemas a longo prazo, nomeadamente lesões cerebrais ou epilepsia. Cerca de 1 a 2% das crianças que apresentam convulsões febris desenvolvem epilepsia, risco que é ligeiramente superior ao risco da população em geral.
o pai, a mãe e eu
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