O vómito consiste num reflexo coordenado em que se verifica uma contração do diafragma (músculo que separa os órgãos que estão no peito, dos órgãos que estão na barriga), que desce, a par da contração do cárdia (orifício que faz comunicar o esófago com o estômago) e consequentemente há a passagem do conteúdo gástrico para o esófago e deste para a boca. Surge habitualmente cerca de 45 minutos a 1 hora após as refeições. 

Embora inúmeras, o quadro 1 enuncia as principais causas. 


Quadro 1 - Principais causas dos vómitos



As causas mais frequentes são sem dúvida as infeciosas, quer entéricas, quer não entéricas. Mais uma vez os vírus têm um papel preponderante, sendo dentro das causas infeciosas os mais frequentes. De entre os vírus mais frequentes destacam-se os enterovírus, rotavírus, adenovírus, astrovirus, calicivirus, entre outros. 

Os vómitos podem ser precedidos por náuseas e aumento da salivação. Por norma fazem-se acompanhar de febre, diarreia e irritabilidade, sobretudo nos quadros infeciosos. 

A clínica é inespecífica e, tal como nas situações de diarreia, deve ser dada uma especial atenção aos sinais e sintomas de desidratação. 

O quadro 2 enuncia alguns dos sinais e sintomas de desidratação.


Quadro 2 - Sinais de desidratação



Terapêutica:
  1. Pausa de 30 minutos após o vómito;
  2. Iniciar re-hidratação oral com líquidos açucarados (se necessário pode recorrer-se a soro de re-hidratação que são preparadas e comercializadas no mercado) de forma lenta e progressiva;
  3. Evitar alimentos sólidos.
A criança deve ser observada pelo médico se:
  1. Vómitos biliosos (amarelos/ esverdeados);
  2. Vómitos recorrentes;
  3. Vómitos incoercíveis persistentes com mais de 2h de evolução e/ ou intermitentes há mais de 24h;
  4. Vómitos com sangue;
  5. Dor abdominal persistente com mais de 2h de evolução;
  6. Distensão abdominal súbita;
  7. Diarreia com muco, sangue e/ ou pús;
  8. Suspeita de intoxicação;
  9. História de traumatismo craniano ou abdominal;
  10. Alterações do comportamento;
  11. Irritabilidade mantida;
  12. Sonolência, prostração marcada;
  13. Disúria (dificuldade/ dor a urinar) ou polaquiúria (necessidade frequente de urinar);
  14. Sangue na urina (ou urina com coloração tipo "coca-cola");
  15. Otalgia (dor no ouvido) ou odinofagia marcada (dor a engolir);
  16. Desidratação (sinais e sintomas referidos antes).



Os vómitos não devem ser confundidos com a regurgitação, situação muito frequente e que se caracteriza pela saída de pequenas quantidades de alimento (mais frequentemente leite) durante ou imediatamente após a refeição, tipicamente sem esforço e acompanhada de eructações (arrotos).

A regurgitação é o resultado do relaxamento exagerado do esfíncter cárdia que permite que os alimentos que estão no estômago passem para o esófago e deste para a boca. Tende a ocorrer cerca de 30 a 45 minutos após as refeições e ocorre sem esforço. 

O diagnóstico de regurgitação faz-se habitualmente antes dos 6 meses de idade, ocasião em que efetivamente tende a desaparecer. 

A regurgitação, dentro de certos limites, pode ser considerada normal, sobretudo nos primeiros meses de vida (sem repercussão no desenvolvimento estato-ponderal da criança). 

Terapêutica:
  1. Excluir excesso de aporte alimentar;
  2. Excluir erros na confeção dos alimentos e preparação do leite;
  3. Administração de leites anti-refluxo ou utilização de espessantes;
  4. Refeições frequentes e em pequenas quantidades;
  5. Elevação da cabeceira entre os 30º a 45º;
  6. Eventualmente usar pró-cinéticos (medicação que faz acelerar os movimentos do aparelho digestivo, favorecendo o esvaziamento do estômago), segundo indicação médica específica.
A criança deve ser observada pelo médico se ocorrer um compromisso do seu desenvolvimento estato-ponderal e/ ou existir uma doença crónica/ recorrente de base.

Algumas crianças desencadeiam o vómito aquando a administração de alguns medicamentos, sendo os mais frequentes os antibióticos.

Por outro lado, o vómito pode ser desencadeado voluntariamente pela criança numa situação de contrariedade quer na escola quer em casa. Embora sejam mais frequentemente relatadas em casa, devem ser rapidamente identificadas, uma vez que a sua persistência e frequência tende a agravar-se. 

Numa fase inicial não há qualquer repercussão no desenvolvimento estato-ponderal da criança, mas a sua persistência pode levar a isso. Quanto mais precocemente houver intervenção no sentido de se instituir estratégias na mudança de comportamentos (como lidar com a birra ou com a frustração da contrariedade), mais rapidamente esta situação tende a reverter sem qualquer tipo de sequela.





Alexandra da Silva Couto