Afinal, qual é a razão para, no primeiro ano de vida, ser oferecida Vitamina D aos bebés? O leite materno não consegue fornecer a quantidade de vitaminas e minerais necessários ao seu adequado desenvolvimento?

A minha resposta é sim e não. Sim! No caso de bebés que nasçam com o tempo de gestação completo (recém-nascido de termo), o leito materno tem na sua constituição a quantidade suficiente de vitaminas e minerais necessários ao seu desenvolvimento. Não, porque a única vitamina que necessita ser suplementada é a vitamina D, que se encontra em níveis inferiores ao necessário. 

No caso dos bebés prematuros, a situação é diferente. Por norma necessitam de fazer suplementação de vários minerais e vitaminas, uma vez que nascem antes de conseguir fazer reservas destas substâncias e a sua situação de imaturidade e doença levam a que os gastos sejam superiores aos de um bebé de termo. 


No entanto, embora existam diretrizes muito específicas por parte da Direção-Geral da Saúde (DGS) e Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), verifica-se ainda alguma controvérsia relativamente à quantidade desta vitamina no leite artificial e no fortificante de leite materno utilizado muitas vezes no caso dos bebés prematuros, levando à dúvida da necessidade de suplementação desta vitamina. 

A vitamina D pode ser obtida de forma éxogena, através da alimentação, ou da sua síntese endógena à custa do colesterol armazenado no organismo. Ela é uma vitamina lipossolúvel (dissolve-se nas gorduras), cuja principal função é regular o cálcio no organismo e consequentemente a mineralização óssea. Para além disto, é fundamental para a absorção do fosfato e magnésio. O seu percursor é reabsorvido a nível intestinal através dos ácidos biliares conjugados e posteriormente é transformada no fígado e armazenada no tecido adiposo (camada de gordura do corpo). Quando é para ser utilizada, a substância armazenada volta a ser modificada no rim, gerando a substância biologicamente ativa desta vitamina. 

O défice de vitamina D pode dever-se essencialmente a três factores:
  • dieta pobre em vitamina D;
  • doenças em que esteja comprometida a absorção de lípidos (gorduras);
  • deficiente exposição solar.
A consequência mais conhecida resultante da deficiência de vitamina D é o raquitismo nas crianças e osteomalácia nos adultos. No entanto, existem outras consequências mais recentemente conhecidas, imputadas à sua falta, uma vez que ela tem múltiplas funções, nomeadamente:
  • interfere na produção de insulina no pâncreas;
  • tem um papel fundamental como mediador nos processos inflamatórios e auto-imunes e 
  • regulação da pressão arterial. 
É de salientar que embora a maior parte das consequências apenas se manifestem na idade adulta, a disponibilidade de vitamina D nos primeiros meses ou anos de vida irá ser bastante significativa no desenvolvimento da criança. 

De forma a evitar estas situações a DGS e a SPP recomenda a vitamina D desde o nascimento ao primeiro ano de vida, independentemente de ser prematuro ou de termo ou do leite com que é alimentado. 


Tendo em conta os consensos da SPP e as diretrizes da DGS, o bebé que nasce de termo, a partir da primeira semana de vida,


deve fazer um suplemento de 400 UI/ dia (UI=Unidades Internacionais), que corresponde a 1 ou 2 gotas por dia, dependendo da marca da vitamina. No caso do bebé prematuro, após a alta hospitalar, independentemente do leite com que for alimentado, deverá ser suplementado com 800-1000 UI/ dia até completar as 40 semanas de idade pós-menstrual, a partir da qual terá as mesmas necessidades que um bebé de termo. Assim, até às 40 semanas irá necessitar de 1 ou 3 gotas diárias, dependendo da marca da vitamina. Torna-se importante salientar que a administração de qualquer vitamina deve acontecer mediante prescrição do médico assistente (seja pediatra ou médico de família), já que quantidades superiores às necessárias poderão tornar-se tóxicas e, por isso, nefastas para a criança.

Para além disto, reforçar que devem ser promovidos todos os alimentos lácteos, ricos em vitamina D, ao longo da vida e com particular relevo nos períodos de crescimento rápido. 



O Pai, a Mãe e Eu