Não é linear falar de prematuridade e não podemos dizer que um nascimento prematuro se transforme necessariamente numa vulnerabilidade do desenvolvimento. É certo que a prematuridade representa um risco, na medida em que quanto mais imaturo e menor peso o bebé apresentar ao nascer, maior risco de comprometimento no desenvolvimento das suas competências. Este risco é igualmente extensível para os pais/ família, pois nunca ninguém está preparado para os constantes desafios e exigências de um bebé que nasce prematuro.




Hoje em dia existe uma multiplicidade de estudos e informações sobre as possíveis consequências da prematuridade, nomeadamente sobre o risco de alterações do neurodesenvolvimento. Alguns estudos focam-se nos aspetos motores e cognitivos, outros no comportamento e desenvolvimento emocional da criança e ainda outros na família do bebé prematuro e o contexto relacional (interação, ansiedade/ depressão parental, etc.).

Mas, será que existe um desenvolvimento ideal para uma criança prematura/ família? Difícil de responder, na medida em que o desenvolvimento é um processo contínuo que é determinado por vários fatores que vão desde o biológico ao social. Assim sendo, quando falamos do desenvolvimento de um bebé prematuro, devemos considerá-lo de uma forma abrangente tendo sempre em atenção: o impacto biológico da prematuridade, o comportamento/ emoções e temperamento da criança e, não menos importantes, a dinâmica relacional e o impacto ambiental.

Neste sentido, dada a multiplicidade dos aspetos que precisam ser olhados e que obrigam a intervenções específicas, existe a necessidade de acompanhamento destes bebés e famílias em programas de follow-up multiprofissionais. São fundamentais porque permitem atuar de uma forma preventiva no apoio ao crescimento e desenvolvimento da criança e na capacitação parental. 


O seguimento psicológico dos bebés prematuros e suas famílias

O seguimento psicológico dos bebés prematuros e suas famílias deve fazer parte da responsabilidade dos profissionais que trabalham nesta área e organiza-se em estreita colaboração com a equipa pediátrica que acompanha o bebé. Uma avaliação mais específica e um diagnóstico do desenvolvimento por meio de testes específicos permite, em conjunção com a equipa pediátrica, uma orientação para as várias especialidades e consequente intervenção.




Como avaliar?

Um aspeto importante no acompanhamento das crianças prematuras é o uso da idade corrigida. Esta traduz a necessidade de ajustar a idade cronológica em função do tempo de prematuridade e é utilizada até aos 2/ 3 anos. A idade corrigida permite-nos situar a criança no seu tempo real de desenvolvimento, tendo em conta o seu ritmo de maturação. 

A avaliação psicológica no apoio ao desenvolvimento inicia-se pela recolha da história clínica, a observação da criança/ família e uma avaliação formal do desenvolvimento com testes específicos, da exclusividade do psicólogo. Estes testes específicos permitem aceder a um diagnóstico do desenvolvimento, proporcionando informação normativa sobre as várias habilidades, a aquisição de marcos do desenvolvimento e a identificação de áreas com maiores dificuldades. De um modo geral, este seguimento organiza-se em períodos definidos de acordo com o protocolo nacional de observação/ avaliação de todas as crianças que nasceram com peso inferior a 1500g. É realizada em períodos específicos (18 meses, 24 meses, 30 meses e 4/ 6 anos), embora sempre que haja alguma preocupação por parte da equipa médica, a intervenção é antecipada. 

Este acompanhamento ao desenvolvimento deverá sempre incluir as necessidades, preocupações e expetativas dos pais face ao bebé/ criança e ao próprio processo de avaliação. A prematuridade é um desafio para os pais, que teve início logo após o bebé nascer. A ansiedade e preocupação sentida ao longo do internamento mantém-se, na maior parte das vezes, após a alta da criança, por vezes durante bastante tempo. A percepção de vulnerabilidade que têm da criança é uma constante e a necessidade de vigilância multidisciplinar por parte das várias especialidade sustém essa mesma perceção.

Por outro lado, se os bebés são todos diferentes, os bebés prematuros sobretudo nos primeiros tempos, ainda o são mais. São diferentes no crescimento, mas também o são na clareza dos sinais com os quais manifestam o seu estado, na reatividade aos estímulos, na capacidade de se apaziguarem a si próprios e nas suas capacidades sensoriais. Para além das diferenças individuais inerentes ao "ser bebé", estas características comportamentais desempenham um papel importante na forma como os pais irão lidar e interagir com o seu bebé.




O próprio desenvolvimento com um ritmo mais lento nos primeiros anos, deixa por vezes os pais mais ansiosos, numa preocupação constante, sentindo muitas vezes a necessidade de os comparar com crianças de termo.

Quero com is dizer que os pais têm que ser apoiados, sem fórmulas ou estereótipos, a conhecerem as características do seu bebé/ criança, que é único e individual. O seguimento em consulta de psicologia deverá sempre integrar, não só a avaliação do desenvolvimento, mas igualmente o contexto relacional (preocupações, expetativas, perceções e comportamentos dos pais).

Um olhar especial deve ser dado aos 3 primeiros anos, dado ser um período de uma enorme evolução nas mais variadas áreas: motricidade, linguagem, cognitiva e pessoal-social.


Pais e profissionais devem estar atentos a alguns sinais:

  • choro excessivo;
  • agitação/ impulsividade excessiva;
  • apatia e pouco interesse por interagir;
  • dificuldade no consolo;
  • atraso na aquisição da linguagem;
  • dispersão acentuada;
  • problemas de sono;
  • problemas de alimentação;
  • angústia exagerada e persistente perante estranhos;
  • pouco interesse nas aquisições sociais e por participar em brincadeiras;
  • aquisições motoras grossas e finas, coordenação e planeamento motor com dificuldades. 
Em conclusão, o seguimento de uma criança prematura e família engloba um olhar multifacetado, dado vários serem os aspetos que precisam ser avaliados e que exigem uma intervenção específica precoce. Há necessidade de uma equipa multiprofissional que apoie o pediatra, com a participação de várias especialidades. É nesta participação que a psicologia se integra, estabelecendo a ligação entre neurobiológico e o desenvolvimento psicoafetivo e relacional da criança. Cada criança/ família são únicas e a prematuridade, não isenta dos seus riscos, não deve funcionar como uma etiqueta para a individualidade da própria criança e sua família. 





Lília Brito