Existe curiosidade em saber quem são os dadores?

Apesar de existir uma certa curiosidade que reflete alguma fantasia ou receio por parte da recetora na sua dificuldade em se identificar com o embrião que irá gerar no seu útero, regra geral as crianças que nascem através desta dádiva desconhecem a sua proveniência efetiva, pois para elas o mais importante é a identificação que estabelece e o reconhecimento que sentem com a Mãe e o Pai no seu vínculo parental. 

Se por um lado o sigilo é importante na proteção da identidade para quem doa, até porque ajuda a sensibilizar e a atrair novas dadoras, por outro, para quem recebe é de igual modo importante porque ajuda a recetora a focar-se na sua gravidez, no desenvolvimento fetal ao longo da sua gestação e qualidade implicada e não tanto na proveniência do gâmeta doado. 

Muito raramente são doados embriões criopreservados. Com maior facilidade são aceites gâmetas doados, mas não tanto embriões, talvez por isso mesmo optem por doar os embriões excedentários à ciência ou para sua destruição. 


Em caso de embriões excedentários aceitam doar a outros casais?

No início de qualquer tratamento em reprodução assistida existe um protocolo a seguir que obedece a determinados requisitos a ter em conta. Um deles é o consentimento informado, que já foi aqui mencionado, que os casais preenchem e que tem o intuito de os ajudar a entender que é uma decisão que terão de tomar, no qual lhes é questionado qual o destino que pretendem dar aos embriões excedentários resultantes de duas técnicas (FIV/ ICSI) que são usadas para ajudar os casais a conceber.

Na maioria dos casos existe espelhada uma intenção livre de solidariedade, em que manifestamente os casais preferem doar os seus embriões para a ciência (47%) favorecendo o avanço científico, contribuindo assim para o estudo em saúde reprodutiva, sendo que seguidamente optem por destruí-los e por último doar a outros casais. 

Neste sentido, a intenção da investigação através de embriões excedentários transmite que a vontade e as decisões dos casais portugueses são concordantes com estudos intencionais, revelando assim uma atitude de abertura e evolução da ciência. 

A lei portuguesa prevê que os casais possam manter os seus embriões criopreservados durante 3 anos. Após esse período é uma obrigação legal e não uma mera escolha do casal, ainda que seja difícil de a tomar, os casais que não pretendem transferir esses embriões terão de lhes dar um destino. 

Porém uma coisa são as decisões do casal, outra é o seu destino efetivo. 

O que muitas vezes acontece, na questão da criopreservação embrionária é que cerca de 1/3 dos casais com problemas de fertilidade mantêm os seus embriões criopreservados em centros autorizados (P.M.A.), umas vezes por já terem conseguido ter filhos, outras por já não possuírem nenhum projeto parental para eles ou ainda por terem mudado de parceiro, acabando por "abandonar" esses embriões, muitas vezes esquecidos, sendo que já não os desejam utilizar. 

Neste sentido é necessário que os centros solicitem ao casal, no início do processo de tratamento, o preenchimento atempado de uma declaração que lhes permita dar seguimento aos embriões excedentários que por ali se mantêm durante anos. 




Como ultrapassar estas questões?

De facto é do nosso conhecimento que existe ainda um longo caminho a percorrer, fundamentalmente no apoio a campanhas de sensibilização na prevenção da fertilidade e incentivo à doação de gâmetas sexuais.

É crescente e preocupante o número de casos de infertilidade que se fazem notar na nossa sociedade e perante este acontecimento que constitui um momento de crise no projeto de vida de qualquer casal, existe uma necessidade premente ao nível da prevenção, com particular enfoque na consciencialização da preservação da fertilidade, não só em relação à reserva ovárica que é finita e que está intimamente correlacionada com a idade da mulher, como a todos os outros fatores transversais que incidem e aceleram esse decréscimo (tabaco, quimioterapia, radioterapia, cirurgias, hábitos alimentares, sedentarismo e o consumo excessivo de álcool), dando a conhecer a todos os casais que pretendam adiar a maternidade, não só a importância como as implicações que estes mesmos fatores adversos possuem na fertilidade do casal, dando-lhes a possibilidade de poderem vitrificar os seus embriões e células reprodutivas, permitindo "parar" o relógio biológico em tempo reprodutivo. 

Deste modo, acreditamos que a citrificação é uma possibilidade que embora ainda não seja bem esclarecida junto de alguns casais é uma técnica inovadora a considerar, na congelação ultra-rápida baseada na elevada concentração de crioprotetores, evitando a formação de cristais de gelo, através da sua velocidade de arrefecimento que é extremamente rápida. 


Ana Magina Silva