A voz é poderosa, é individual e única, conseguimos ouvi-la, saber a quem pertence, usamos a voz para falar ou cantar, mas nunca ninguém lhe toca, ouve-se e sente-se!
Desde cedo a criança chora, ri, fala, chama, canta, sussurra, imita num jogo de comunicar emoções. Cada criança tem este instrumento vocal, que é só seu, que está sempre ao seu alcance, que ajuda a construir a sua imagem e por tudo isto é necessário cuidar, conhecer, ser amigo da sua voz.
Quando pergunto a uma criança "o que é a voz?" a resposta não é imediata... "é o verbo falar", "sai da garganta", "sem voz falava com gestos", "estar rouco é ter a voz escangalhada", "arranhada", "de cana rachada!"
Como é produzida a voz?
O ar é o combustível da nossa "fábrica da voz", sai dos pulmões e ao passar pela laringe faz vibrar as duas pregas vocais de forma harmoniosa produzindo a voz que vai ser modulada e amplificada ao nível da boca e nariz
Uma voz saudável emite um som melódico, com boa qualidade para o ouvinte e sem desconforto e esforço para quem fala.
A anatomia da laringe da criança é mais sensível e delicada que a do adulto além de ter maior propensão para edema e obstrução, juntamente com o facto da criança ser uma verdadeira atleta da voz. Assim agrupam-se uma combinação de factores: abuso vocal (uso incorreto da voz e inclui práticas traumáticas ou inadequadas), problemas nas vias respiratórias, dificuldade na gestão de emoções e o ambiente que rodeia a criança, levam ao aparecimento de disfonia ou rouquidão.
Sinais de alerta de patologia vocal (quando persistem mais de quinze dias):
- A voz é demasiado forte ou fraca;
- Não é adequada ao sexo e à idade;
- Sensação de ficar sem ar no final das frases;
- Os músculos da laringe contraem-se durante a fala;
- Tosse e pigarreio (arranhar a garganta);
- Voz rouca ao acordar;
- Voz rouca ao final do dia;
- Sensação de cansaço a falar;
- A voz parece sair pelo nariz;
- Obstrução nasal constante.
A disfonia limita o desempenho adequado no falar, chamar e geralmente tem grande impacto nas crianças que usam a sua voz para cantar.
Comportamentos de mau uso vocal repetidos podem resultar em patologia vocal, sendo a mais frequente nas crianças os nódulos nas pregas vocais, outros fatores como hipertrofia dos adenoides e amígdalas, obstrução nasal ou falar com os dentes cerrados provocam tensão nos músculos da laringe e ressonância pouco eficaz. A ressonância vai dar "brilho" à voz e depende do espaço e das estruturas por onde o som passa.
Os músculos da voz também precisam de "ginásio", quem é atleta de competição necessita de um bom aquecimento, antes da produção vocal e voltar ao seu registo habitual após o treino, arrefecendo a voz. Pode também existir uma alteração da voz sem existirem ainda lesões.
É importante prevenir os problemas vocais, sensibilizando as crianças e educadores através de ações de sensibilização nas escolas. Os Pais e Professores são modelos a seguir.
A criança deve ter consciência da sua rouquidão para a poder controlar e encontrar as suas causas. Deve fazer repouso vocal para juntamente com todos os outros cuidados tentar melhorar e não deve tentar manter o seu comportamento vocal habitual em cima da voz que está rouca. Assim não vai conseguir melhorar!
O objetivo da terapia não é apenas dar a conhecer e tentar controlar os comportamentos de abuso vocal. É ensinar a criança a conhecer o seu aparelho fonador e de que forma o pode usar corretamente através de uma boa coordenação entre respirar e falar e usar a sua capacidade de projetar a voz de forma adequada.
A terapia vocal deve conter uma prática lúdica mas concreta. A criança deve compreender o que está a ser trabalhado, para que consiga aplicar os exercícios da terapia no seu dia-a-dia.
Para o sucesso da terapia é necessário existir disciplina e consciencialização por parte das crianças e o contributo das famílias nas atividades de rotina diária. Contudo, a criança não se deve sentir reprimida na sua capacidade de expressão.
Hábitos de higiene vocal:
- Hidratar - Beber água!
- Higiene nasal - ensine a criança a limpar o nariz e a colocar soro para uma limpeza posterior.
- Descansar a voz.
- Respirar ambientes limpos, sem fumos nem demasiado secos.
A disfonia pode estar associada a crianças com necessidade de chamar a atenção para si próprio, hiperativas, com espírito de liderança ou crianças tímidas e tensas com alguma dificuldade em gerir emoções. Em determinadas situações a ajuda de um psicólogo pode ser fundamental.
A rouquidão persistente pode anteceder a formação de lesões ou ser indicadora da sua presença. Nestes casos consulte uma equipa de voz (um otorrinolaringologista e um terapeuta da fala) para realização de um diagnóstico, orientações e terapia vocal.
Não te esqueças de passar a mensagem... toma conta da tua voz!
Leonor Fontes
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