A febre é a elevação da temperatura do corpo humano, devido à libertação de pirogénicos endógenos (substância produzida pelo corpo), desencadeada por uma resposta inflamatória. 

É considerada febre uma temperatura rectal (no rabinho) igual ou superior a 38ºC ou oral (boca)/ axilar (debaixo do braço) superior a 37,5ºC ou timpânica (no ouvido) superior a 37,6ºC.

Considerando a temperatura rectal como padrão, dado que até aos 12 a 15 meses é a mais fidedigna, a temperatura oral é, em média, menos 0,5 a 0,6ºC, enquanto que a axilar é menos 0,8 a 1ºC e a timpânica cerca de menos 0,5 a 0,6ºC.




A temperatura corporal sofre variações ao longo do dia (ciclo circadiano), podendo estar menos 0,5ºC de manhã e mais 0,5ºC ao final do dia, relativamente à temperatura média. 

Factores como o vestuário, o exercício físico, banho quente ou temperaturas atmosféricas elevadas podem conduzir a um aumento de 1 a 1,5ºC na temperatura corporal, sem que isso signifique a existência de patologia (doença). 

As causas são muitas, mas podemos dividi-las em infeciosas e não infeciosas. 

  1. Causas infeciosas
  • Virais;
  • Bacterianas;
  • Microorganismos atípicos.





      2. Causas não infeciosas
  • Excesso de roupa;
  • Ambiente muito aquecido;
  • Exercício físico;
  • Ansiedade;
  • Doenças reuatológicas;
  • Doenças autoimunes;
  • Doenças oncológicas;
  • Vacinação.

De realçar que as temperaturas corporais muito elevadas (41ºC) estão habitualmente associadas a causas não infeciosas (por exemplo, distúrbios do sistema nervoso central). 

Por outro lado, temperaturas muito baixas (< 36ºC) podem ter diversas causas, desde o uso indiscriminado de antipiréticos, à exposição ao frio, endocrinopatias ou infeções graves. 

Em idade pediátrica, a febre é devida a infeções virais na maioria dos casos, sobretudo até aos 3 anos de idade. Nestas situações, a febre não excede habitualmente os 3 dias completos e não necessitam de antibiótico. No entanto, um período mais prolongado de febre, até aos 6 a 7 dias, não exclui uma situação viral. 

De relembrar que os dentes não são responsáveis por temperaturas superiores a 38,4ºC. 

A febre cursa habitualmente com a seguinte sintomatologia:
  • Irritabilidade;
  • Prostração;
  • Sonolência;
  • Rubor facial;
  • Extremidades (mãos e pés) frias;
  • Aumento da frequência respiratória;
  • Aumento da frequência cardíaca;
  • Alucinações;
  • Convulsões.
Menos de 4% das crianças poderão vir a sofrer uma convulsão febril. Existe, nestes casos, geralmente, uma história familiar de convulsões febris.




Terapêutica:
  1. Paracetamol PO (boca)/ rectal
  2. Ibuprofeno PO/ rectal (deve ser administrado com precaução dadas as eventuais reações de hipersensibilidade em crianças com alergias e a via oral deve ser preferida, dada a fragilidade da mucosa anorectal);
  3. Não administrar derivados do ácido acetilsalicílico (nas infeções virais há um risco aumentado de Síndrome de Reye);
  4. Aumentar a administração de líquidos PO;
  5. Compressas húmidas e mornas/ ou banho de água tépida;
  6. Colocar a criança em local fresco e diminuir a roupa vestida;
  7. Não insistir na alimentação sólida.
De realçar que um antipirético é considerado eficaz se a temperatura corporal baixar mais de 0,8ºC ao fim de 2 horas, embora o habitual é observar-se uma descida de 1 a 2ºC ao fim de 2 a 3 horas. 

A criança deve ser observada pelo médico se:
  • Tem menos de 6 meses de idade;
  • Tem mais de 40,6ºC, rectal;
  • Choro de difícil consolo;
  • Gemido a dormir ou quando manipulado;
  • Sensação de doença grave, mesmo com febre baixa;
  • Primeira convulsão febril;
  • Convulsão na ausência de febre;
  • Alterações da consciência (sonolência excessiva, prostração, irritabilidade ou alucinações);
  • Rigidez da nuca;
  • Traumatismo cranio-encefálico recente;
  • Cefaleias (dor de cabeça) e prostração;
  • Vómitos e/ ou dor abdominal intermitente ou persistente;
  • Diarreia e prostração com mais de 12 horas de evolução;
  • Disúria (dor a urinar);
  • Discrasia hemorrágica (perda de sangue pelos orifícios naturais, petéquias ("pintas" pequenas de cor vermelha) ou sufusões hemorrágicas (manchas vermelhas na pele));
  • Cianose (coloração arroxeada da pele) ou dificuldade respiratória após desobstrução nasal;
  • Sialorreia (saliva em quantidade abundante);
  • Suspeita de intoxicação medicamentosa;
  • Desidratação (diminuição da frequência e quantidade das micções, ausência de lágrimas, irritabilidade ou sonolência excessivas, diminuição do peso, aumento da frequência respiratória e cardíaca);
  • Hipotermia (< 36ºC) após período de febre;
  • Incapacidade de se alimentar.



As situações clínicas e frequentes em idade pediátrica têm um curso natural que pode oscilar entre os 3 a 10 dias de evolução. Nas primeiras 24h a 48h de evolução, o diagnóstico é difícil e pode não ser possível, pelo que é importante manter a vigilância e controle da febre até que surjam mais sinais e sintomas que permitam caraterizar o quadro e assim fazer o diagnóstico.

A administração de antibióticos adequados nas infeções bacterianas leva à eliminação rápida do agente responsável. No entanto, a resposta inflamatória induzida por este no organismo pode ainda manter-se durante algum tempo, levando à manutenção da febre. A manutenção da febre, neste caso em particular, não se deve ao insucesso terapêutico.

Não esquecer que a febre por si, não é uma doença, mas sim uma reação inflamatória desencadeada pelo organismo pelo que, quando adequada, pode ser benéfica contra a doença.


Alexandra Silva Couto