Após o parto a mulher/ homem/ casal conhecem e integram nesta relação um novo ser - o bebé.
Estamos perante um novo período "crítico" no ciclo de vida, com múltiplas transformações - biológicas, psicológicas, familiares, sociais e conjugais.
As dúvidas, inquietações e medos que surgem nesse período são naturais e espetáveis. Há mudanças, logo aparecem perdas, ganhos, estranheza e, consequentemente, exigências adaptativas.
A experiência clínica evidencia uma particular intensidade destas questões no caso de um primeiro filho onde tudo é novo e desconhecido.
Se para umas mulheres, homens ou casais, estas exigências e transições são pacíficas e tranquilas, para outros vive-se uma grande turbulência por vezes geradora de sofrimento emocional.
É neste contexto que também a dimensão da sexualidade aparece com algumas particularidades. Vou falar-vos um pouco sobre este tema.
Por sexualidade entendemos a relação coital, mas muito mais do que isso, a sexualidade deverá ser percecionada numa dimensão física, mas também psicológica e ambas são fundamentais para o equilíbrio e bem estar do indivíduo.
A chegada de um bebé, as suas exigências e os seus prazeres levam, algumas vezes, a uma desfocagem das dimensões mais erotizadas e sexualizadas do casal.
Principalmente na mulher que vivendo uma série de transformações físicas (por vezes desconfortáveis), a que se acresce o envolvimento com o bebé, é frequente uma diminuição da líbido e uma retirada da dimensão sexual na relação com o seu parceiro.
Ao homem exige-se também uma adaptação à nova realidade do casal, que a partir de agora terá novas responsabilidades - as parentais. Importa que esteja atento e sensível às transformações que a sua companheira atravessa.
Homem e mulher estarão a aprender novos papéis, a gerir novos tempos e prioridades e é fundamental que, neste contexto, aprendam a expressar uma "nova sexualidade" que deverá ser construída por ambos e de acordo com as necessidades e desejos de cada um.
Talvez esse seja o momento de vivenciar/ experimentar uma intimidade sem sexo, com carícias sem "segundas intenções". Para alguns homens isso pode até parecer pouco. Para muitas mulheres será o necessário naquele momento, criando assim confiança para um futuro reencontro com a relação sexual.
Tendencialmente pode dizer-se que o retorno a níveis mais elevados de atividade sexual acontece a partir do segundo/ terceiro mês de puerpério (pós parto), com a marcada variabilidade individual, sendo que, para alguns casais, o padrão de ausência de contacto sexual se mantém durante anos após o nascimento do filho. Há ainda alguns casais que afirmam ter aumentado a satisfação sexual durante o período de transição para a parentalidade por motivos vários (exemplo: mais gratificados pela confirmação da sua competência para serem pais).
Se após 5/ 6 meses de pós parto as dificuldades de ajuste no casal se mantiverem, pode ser importante consultar um especialista.
Alguns estudos esquematizam fatores pessoais e ambientais que podem ser protetores ou de risco para a vivência da sexualidade neste período.
Vou partilhá-los convosco:
- Fatores protetores pessoais: presença de sensibilidade e de desejo sexual em ambos os elementos do casal; ausência de desconforto físico e psicológico; boa comunicação e boa proximidade conjugal e (co) parental.
- Fatores protetores ambientais: partilha de tarefas e de emoções no casal; capacidade de reorganização e estabelecimento de novas prioridades e rotinas familiares; acesso a informação especializada.
- Fatores de risco pessoais: queixas corporais relacionados com o parto e com o puerpério; falta de desejo sexual, indisponibilidade para o companheiro, stress/ cansaço, baixa autoestima e insegurança nos cuidados parentais.
- Fatores de risco ambientais: dificuldade em gerir as alterações das rotinas familiares; ter o bebé como foco/ centro de toda a atenção; ausência de comunicação no casal; falta de suporte social e clínico.
Dicas importantes
- Conhecer as mudanças corporais no pós parto, desmistificando mitos relacionados com a sexualidade (recorrer a profissionais quando necessário);
- Essencialmente para o homem procurar informação sobre a sexualidade e as respetivas alterações nas mulheres nesta fase da vida e ter em consideração a fragilidade e a debilidade da mulher após o parto;
- Partilhar com os companheiros as dúvidas e receios relacionados com a sexualidade;
- Partilhar com as companheiras as preocupações/ necessidades que vão surgindo nesta matéria;
- Essencialmente para a mulher, manter sempre o diálogo e a atenção para com o marido/ companheiro;
- Não centrar a sua atenção exclusivamente no bebé;
- Partilhar os cuidados parentais;
- No casal, é importante a partilha das vivências, dos problemas, dos medos, dos receios, das tarefas domésticas e dos cuidados parentais (importância da comunicação);
- Procurar ajuda profissional sempre que houver dúvidas.
Maria de Jesus Correia
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