O autismo é atualmente concebido como um síndrome que afeta gravemente o desenvolvimento da criança, colocando algumas restrições à sua educação e integração social.

Quando começam a surgir os primeiros sintomas de Perturbação do Espetro do Autismo (P.E.A.), confirmados por um diagnóstico, as Famílias passam por diversas etapas. A angústia pode tornar-se inevitável, seguida pelo receio e o medo face à dificuldade em lidar com esta situação. Na realidade, trata-se de uma perturbação ao nível da relação social e da comunicação, conduzindo a um maior desequilíbrio da relação pais/ filhos. Estas crianças podem manifestar um comportamento permanentemente inadequado, nas rotinas em casa, na escola ou numa saída com a Família.

No grupo de crianças com Necessidades Educativas Especiais surge um número considerável de crianças com P.E.A.. São crianças com um repertório muito limitado de comportamentos e, geralmente, possuem dificuldades significativas em realizar aprendizagens.


O grau de incapacitação é variável de criança para criança e está muito dependente da qualidade do trabalho educativo realizado e do grau de empenhamento e participação ativa das Famílias. A escola deve oferecer recursos específicos e diversificados para que se possam desenvolver atividades apropriadas às necessidades, interesses, motivação e desempenho de todos os alunos.

Não existem duas pessoas afetadas da mesma forma e por isso podem ser muito diferentes entre si, não constituindo um grupo homogéneo. É necessário conhecer as caraterísticas de cada aluno, as necessidades de cada Família, estabelecer objetivos simples e acreditar que é possível.

Um dos problemas percecionados é o sistema de comunicação ineficaz, que conduz a pessoa a exprimir as suas necessidades de outra forma que não através da linguagem, por meio de atos negativos, de destruição, de automutilações por falta de meios de comunicação eficazes para explicar o que desejam e o que sentem. Escola,  Família e equipa técnica envolvida em cada caso deverão caminhar juntos no desenvolvimento de formas de comunicação alternativa, adequadas a cada caso.

Por outro lado, a criança pode ter um vocabulário vasto, boa pronúncia, formular frases corretas, sem no entanto compreender aquilo que se espera dela, mesmo que as mensagens nos pareçam claras. Estes jovens raramente são capazes de imaginar aquilo que sentem as outras pessoas, de se colocarem no seu lugar. Qualquer relação com outra pessoa, sobretudo se for desconhecida, exige-lhes um esforço considerável de adaptação: as modificações e os imprevistos são sentidos como verdadeiras ruturas, acarretando uma ansiedade imensa, existindo um desejo pela conservação da semelhança.

Os problemas de comportamento das pessoas autistas são a expressão das suas dificuldades e dos seus medos, das suas necessidades, dos seus desejos. Para os ajudarmos temos que descodificar as suas mensagens.

Finalmente, uma questão que se deve ter em conta é a necessidade de se focar a intervenção em toda a Família e não somente na criança autista.

Ajudar alunos autistas a aproximarem-se do mundo comum, das outras pessoas, das relações humanamente significativas que as outras crianças possuem e tirá-las do seu mundo ritualizado, inflexível e fechado, põe à prova a criatividade e todo o potencial de recursos que um docente possa ter. Por vezes esta relação educacional poderá despertar sentimentos negativos, de frustração, de impotência nos docentes, mas são estes mesmos sentimentos que mobilizarão a necessidade de conhecer e compreender o aluno autista e ajudá-lo através da educação.


Será essencial o nosso mundo dos afetos, o afeto profissional, o gostar do trabalho que se realiza. Com afeto genuíno é possível transmitir mensagens e esperar alguma recetividade. Com verdadeiro afeto conseguem criar-se momentos de empatia, levando estes alunos a querer ultrapassar alguns dos seus piores medos, a quebrarem o muro que os separa do resto do mundo e a realizarem algo.

Existe um consenso geral de que o tratamento mais eficaz para o autismo é a educação. Os princípios gerais da educação dos alunos com autismo são os mesmo que se preconizam para todas as outras crianças:

  • acreditar no seu potencial e desenvolver ao máximo as suas competências, sem a preocupação do fator tempo e elegendo conteúdos prioritários;
  • criar condições que favoreçam o equilíbrio pessoal de forma harmoniosa e calma usando uma linguagem afirmativa, coerente e percetível;
  • fomentar o bem-estar emocional e a sua qualidade de vida estabelecendo rotinas simples com regras bem definidas, aproximando estas crianças do mundo humano e de relações significativas;
  • perfilar conteúdos módicos e de fácil compreensão que as preparem o melhor possível para a vida ativa;
  • quando os comportamentos são desajustados deverão ser contornados com acalmia, de forma lúdica, sempre desvalorizando os problemas, mostrando persistência, paciência e com a certificação do controle das situações com vista ao sucesso.
Podemos concluir que não há uma abordagem única que seja totalmente eficaz para todas as crianças durante todo o tempo. Devemos inclusive modificar as nossas intervenções de acordo com a fase de desenvolvimento da criança e do seu contexto familiar. 

Alguns autores afirmam que o planeamento da intervenção deve ser estruturado de acordo com as etapas de vida da criança. Portanto, com crianças pequenas, a prioridade deveria ser ao nível da terapia da fala, da interação social e da linguagem, da educação especial e do suporte familiar. Já com adolescentes, os alvos seriam as áreas de competências sociais, terapia ocupacional e sexualidade. 

Educar crianças com P.E.A. é hoje claramente viável e possível em inclusão. No entanto, apresenta enormes desafios aos profissionais envolvidos devido às caraterísticas que estas manifestam. 

Para um professor, o que se torna crucial realçar é que independentemente de qual a sua etiologia, o autismo é um distúrbio do desenvolvimento que irá afetar todo o processo de aquisição de experiências, por isso as crianças com P.E.A. manifestam diferenças no modo como aprendem.


Tudo aquilo que as outras crianças aprendem espontaneamente tem de lhes ser ensinado e explicado, utilizando procedimentos de intervenção que reconheçam e procurem compensar essas dificuldades muito específicas. 

O envolvimento e a formação de todos os que lidam com a pessoa com autismo são essenciais. Serão, sem dúvida, as relações a modificar a sua evolução e os seu prognóstico. As necessidades específicas de cada um não serão apenas determinadas pelas suas dificuldades de desenvolvimento, mas principalmente na forma como estas se organizam no contexto em que a aprendizagem acontece.




Maria Aires