O tema sexualidade na gravidez nem sempre é abordado com clareza e objectividade pois ainda carrega o peso de tabus e mitos que se tornam um obstáculo quando surgem dificuldades e a necessidade de as resolver. Neste sentido, é muito importante que falemos sobre o tema, que desmontemos fantasmas e clarifiquemos a normalidade do tema.

Já sabemos que com a gravidez surgem alterações de vária ordem (biológicas, psicológicas, relacionais e emocionais) que, consequentemente, vêm a interferir, de um modo mais ou menos directo, com a vivência da sexualidade. 

Alguns estudos dizem que a gravidez (e o pós parto) pode mesmo ser considerada uma fase de crise para o inicio ou agravamento de problemas sexuais num casal uma vez que o desejo/disponibilidade sexual tende a  alterar-se e, em  muitos casos, a diminuir .
A investigação realizada nesta área tem-nos mostrado que os padrões de relacionamento sexual no casal podem variar de acordo com os trimestres de gravidez. Tal acontece uma vez que a vivência da sexualidade se relaciona também com a imagem corporal e com o conforto/ desconforto físico associado às práticas sexuais. 

Deste modo, consoante a mulher se sentir mais ou menos desejável pelo facto de ter um corpo diferente (questões de auto-estima/ auto-imagem) e consoante a mulher se sentir mais ou menos confortável com o peso e o volume do abdómen e consequentes desconfortos posturais,  assim estará mais ou menos disponível sexualmente. 

Quanto ao homem, apesar de não ter ele próprio transformações físicas, também encontramos situações de alteração de desejo sexual; estas alterações podem ser associadas  quer à percepção que tem do  corpo da mulher (sentindo-o como mais ou menos atraente pelo facto de estar transformado/ aumentado),  quer à representação que tenha do  corpo grávido da mulher/ mãe, muitas vezes sentindo que erotismo e desejo sexual não combinam com gravidez e materno e, como tal, manifestando menos libido. 

Acontece ainda que o casal, ou algum dos seus elementos, pode sentir a presença do feto  como algo constrangedor para a prática sexual, como se ele estivesse a observar o comportamento sexual  dos pais ou que  possa ser  magoado ou ainda que, nesta sequência venha  a desencadear-se  um parto prematuro.


Importa destacar que a experiência de gravidez, e a sua ligação à sexualidade, não é vivenciada nem pelas mulheres nem pelos homens sempre da mesma forma, não há certos ou errados neste domínio. 

Cada um, individualmente e em casal, deve encontrar o equilíbrio  e o  bem estar. O fundamental é que consigam falar sobre o tema, partilhar o que sentem, encontrar as melhores formas de uma relação afetiva e sexualmente gratificante (inovando, se for caso disso),  mantendo a sua intimidade única.

É um facto que há situações de risco obstétrico que podem recomendar a abstinência sexual. O médico falará sobre isso. Quando tal não acontece, a vida sexual pode manter-se, com ajustes, se  necessário, e sempre considerando a importância do diálogo e da partilha no casal. 

Face a algumas dificuldades na comunicação, é urgente a procura de um mediador (psicólogo especialista, por exemplo) que possa ajudar  na compreensão do problema e ser facilitador  na comunicação do casal (melhorando receios, evitando mal entendidos).


É importante não adiar a resolução do problema. A persistência da dificuldade e o risco do seu agravamento após o parto, pode tornar-se num sério entrave a um adequado clima emocional para o  bebé que vai nascer.  



Dra. Maria Jesus Correia