A educação das crianças de acordo com Maria Montessori é fascinante. Muito mais do que materiais pedagógicos ou decoração do quarto é essencialmente um novo olhar sobre a criança, um olhar de confiança nas suas capacidades, de escuta das suas necessidades, de atenção aos seus interesses. É, afinal, uma filosofia de vida. 

Dentro dessa filosofia de vida, um dos aspetos com os quais mais nos identificamos enquanto família é a importância que é dada à Natureza. O ritmo de vida de muitas famílias hoje em dia deixa pouco espaço à Natureza que acaba por ser, muitas vezes, pouco valorizada, apesar de ser essencial, até mesmo vital, para o desenvolvimento da criança e para o bem-estar do adulto. São vários dos estudos que comprovam que o contacto com a Natureza contribui para a redução do stress nos adultos e dos défices de atenção nas crianças. 

Cresci bastante rodeada pela Natureza e acredito que isso se traduziu numa bagagem preciosa que ajudou a construir a minha identidade. Adoro observar as minhas três crianças a descobrirem o mundo, a questionarem o que observam, a viverem as mudanças nas estações, a apanharem as folhas secas na floresta, a rebolarem na relva, a aproximarem-se, sem receio, das vacas e das ovelhas, quando visitamos os avós no Alentejo! O olhar maravilhado deles é, para nós adultos, o melhor presente. 


Conhecer a Natureza à sua volta enriquece a criança. Permite-lhe desenvolver uma importante consciência ecológica, tão essencial para a proteção do planeta onde vivemos. 

Maria Montessori considerava que ensinar a Cultura às crianças a partir dos 3 anos de idade, sensivelmente, permite-lhes tornarem-se indivíduos adaptados ao seu tempo e ao seu espaço. Trata-se no fundo de compreenderem o mundo que as rodeia, estudarem a vida à sua volta, sentirem que fazem parte desse mundo. 

Nos ambientes educativos Montessori, as aprendizagens de temáticas relacionadas com a Natureza (Botânica, Zoologia, ...) são exploradas recorrendo a atividades pedagógicas muito variadas e recorrendo a um vasto material que foi criado por Maria Montessori e que encaminha a criança a questionar-se por si mesma e a descobrir as informações que procura. Esse material é sensorial e ligado ao real. Trata-se de um conjunto de atividades e de experiências com o objetivo de levar a criança a observar o ambiente, a manipulá-lo e a experimentá-lo. É, afinal, um convite para a criança se abrir ao mundo!

A melhor forma de a criança compreender a Natureza será sempre recorrendo à sua experiência sensorial. Por isso, é tão importante permitir que a criança possa, desde cedo, tocar com as suas mãos as folhas secas na floresta, sentir na sua pele a chuva, ou fazer festas ao gato, observar com os seus olhos as formigas atarefadas que se atravessam no seu caminho, cheirar as flores no jardim, ou a relva cortada, provar diferentes legumes recolhidos da sua horta, ouvir o chilrear dos pássaros ou os grilos ao anoitecer. Toda essa vivência sensorial é determinante na construção cerebral da criança. 


No seu livro "De l'enfant à l'adolescent" publicado em francês pela editora Desclée de Brouwer, Maria Montessori escreve: "Nenhuma descrição, nenhuma imagem de nenhum livro pode substituir a observação real das árvores num bosque com toda a vida que ocorre à sua volta" (tradução livre do francês). 

São, por isso, mais do que muitas as atividades que podemos apresentar às nossas crianças ligadas à natureza, seja em casa, ou nas escolas. Uma das nossas preferidas e que nos acompanha ao longo de todo o ano, é a mesa de observação da Natureza. É um dos elementos mais maravilhosos no ambiente preparado Montessori. Consiste numa pequena mesa onde colocamos elementos da Natureza que vão ser substituídos à medida que o tempo passa e em função das mudanças que nela ocorrem. A criança compreende assim o ritmo da vida e tem a oportunidade de guardar todos os pequenos objetos que recolhe nas suas brincadeiras e passeios no exterior, seja no jardim, na floresta, na praia, ... desde flores, conchas, avelãs, castanhas, folhas secas, até mesmo pequenos insetos... como se fossem pequenos tesouros! O resultado final fica lindo e permite-nos dar vida às estações do ano. 


Indo ao encontro dos interesses e da curiosidade da criança, devemos também deixar que ela observe naturalmente os insetos que abundam nos jardins, nos parques, nos bosques, ... Uma das ferramentas mais comuns aos pequenos exploradores montessorianos é a lupa. As crianças aprendem a manusear a lupa desde muito cedo, porque são fascinadas por tudo o que é pequeno, gostam de observar os detalhes, isso ajuda-as a compreender melhor o que existe à sua volta. Então, porque não deixamos as nossas crianças observar os pequenos insetos à lupa? E complementarmos essa descoberta com livros sobre insetos? Esse encontro entre as descrições dos livros e o que a criança observa no real é uma fonte inesgotável e riquíssima de conhecimento para a criança.



Outra forma de sensibilizarmos as nossas crianças para a Natureza e para o seu papel crucial na sua preservação, é atribuirmos-lhe desde cedo as tarefas como cuidar das flores (regar as flores, retirar as folhas secas, ...), colocar sementes na terra e cuidar delas para ver o seu crescimento acontecer e compreender assim o ciclo da vida, cuidar dos animais (dar comida ao cão ou ao gato, recolher os ovos das galinhas, ...).



Maria Montessori defendia que a criança pequena é um explorador sensorial que absorve os elementos ao seu redor pelo simples facto de existir. E a Natureza é, inegavelmente, o melhor ambiente sensorial de sempre, por isso, não hesitem em deixar as vossas crianças explorara Natureza o mais livremente possível! 



Sylvia de Sousa Guarda