É sabido que uma correta alimentação tem um papel crucial no crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes. Mas terá algum impacto no rendimento escolar? 

O desenvolvimento cerebral inicia-se nas primeiras semana de gestação, a partir do tubo neural, sendo particularmente acentuado entre o último trimestre da gravidez e os dois primeiros anos de vida e prolongando-se durante a infância e a adolescência. Desta forma, um fornecimento adequado de nutrientes e energia nos primeiros anos de vida assume uma importância acrescida. Um padrão alimentar inadequado nesta fase, tanto do ponto de vista quantitativo, pode comprometer o desenvolvimento e capacidade cognitiva das crianças e adolescentes, determinantes para o seu aproveitamento escolar.


Um dos aspetos mais estudados nesta relação da alimentação com o rendimento escolar é o consumo do pequeno-almoço. A realização desta refeição quebra o jejum noturno, fornecendo a energia necessária ao funcionamento cerebral. Este aspeto merece especial atenção nas crianças, uma vez que o metabolismo da glicose (fonte preferencial de energia para o cérebro) é bastante mais elevado nos primeiros anos de vida, sendo, por isso, ainda mais importante repor e estabilizar os seus níveis após o jejum noturno. Por este motivo, tomar o pequeno-almoço (em comparação com a omissõa desta refeição) contribui para uma melhor capacidade de atenção e memória, essenciais a um bom rendimento escolar. Para além disto, a realização desta refeição por parte dos mais novos está associada a um menor risco de desenvolver obesidade e a um padrão alimentar mais saudável ao longo do dia.

Idealmente, esta refeição deve ser composta por uma fonte de laticínios (como leite ou iogurte), de cereais (como o pão ou aveia) e fruta (dependendo do restante dia alimentar). Sempre que possível, deve ser realizada em casa, porque para além de ser mais económico, promover o convívio em família e ser realizada num ambiente mais calmo, a tendência para escolher alimentos menos saudáveis é menor!

No que toca ao tipo de alimentos consumidos pelos mais novos, estudos recentes demonstraram uma associação significativa entre o consumo diário de vegetais (em pelo menos uma das refeições diárias) e de duas ou mais peças de fruta por dia a melhorias ao nível da capacidade de escrita.

Pelo contrário, uma ingestão elevada de bebidas açucaradas, snacks salgados e fast food parecem contribuir, de forma significativa, para piores desempenhos ao nível da escrita, leitura, gramática e matemática.


A adesão à dieta mediterrânica, caracterizada pelo consumo elevado de fruta, hortícolas, cereais integrais, leguminosas e frutos gordos, um consumo moderado de carne, peixe e laticínios bem como pela utilização do azeite como fonte de gordura preferencial, também tem vindo a ser associada a um melhor desempenho cognitivo e sucesso escolar em crianças e adolescentes. Já uma dieta mais ocidental, com predomínio de alimentos e snacks processados, carnes vermelhas, fritos e bebidas açucaradas e, por isso, mais rica em gordura saturada, açúcar e sal e pobre em nutrientes essenciais ao desenvolvimento, apresenta, como seria de esperar, o efeito contrário.

Um outro aspeto muito importante e muitas vezes negligenciado é uma adequada hidratação. Sendo o cérebro de uma criança/ adolescente constituído por cerca de 65-80% de água (dependendo da idade), é natural que esta exerça um importante papel no funcionamento, nomeadamente ao nível do transporte de oxigénio. Por esse motivo, a desidratação, mesmo que ligeira, pode comprometer a função cognitiva ao prejudicar a memória, atenção e concentração e aumentar os níveis de cansaço. Assegure-se de que o seu filho tem sempre água disponível ao longo do dia, incentivando-o a beber mesmo que não tenha sede!


Tabela 1 - Recomendações da ingestão hídrica para os portuguese (Litros/ dia). Instituto de Hidratação e Saúde.

Uma alimentação saudável na infância e adolescência é essencial para manter um peso saudável e prevenir o surgimento de patologias a curto e longo prazo mas, como vimos, também assume um importante impacto no desenvolvimento cognitivo e aproveitamento escolar. Tudo, mais do que razões para que, desde cedo, sejam incutidos hábitos alimentares adequados.





Maria Inês Cardoso