A infertilidade, definida pela incapacidade em engravidar após um ano de relações sexuais sem qualquer método contracetivo, é um problema que afeta cerca de 186 milhões de pessoas a nível mundial. Em Portugal, estima-se que cerca de 15 a 20% dos casais em idade reprodutiva sofram deste problema. 

Como vimos no último artigo desta rubrica (que pode consultar aqui), a alimentação e a nutrição desempenham um papel central na saúde materna e fetal. Contudo, pode ser também determinante para a própria conceção, ao otimizar a fertilidade do casal e, assim, aumentar as probabilidades de conceber um filho há muito desejado!


Vejamos então como é que a alimentação pode ajudar a este nível.

Começando pelo micronutriente mais abordado na gravidez, também aqui tem um papel de destaque. Segundo a literatura científica, a suplementação com ácido fólico num período prévio à gravidez parece não só prevenir malformações no feto (como vimos no último artigo), como também aumentar a probabilidade de conceção e manutenção da gravidez. Contudo, este benefício surge em doses superiores às recomendadas atualmente para evitar o surgimento de complicações no feto (400mcg), não estando ainda definida uma dosagem exata que assegure este efeito.

No que respeita às gorduras, uma associação entre um elevado consumo de ácidos gordos poli-insaturados, maioritariamente dos ácidos gordos ómega 3 e um baixo consumo de ácidos gordos trans apresenta também um impacto positivo na fertilidade feminina. Desta forma, reforça-se uma vez mais, a importância do consumo de peixe gordo, não só na gravidez como também num período pré-concecional, não esquecendo a importância de evitar peixes com elevado teor de metilmercúrio, em ambas as fases.



No caso dos hidratos de carbono, a ovulação parece ser potenciada quando se restringe a sua ingestão, mas este efeito apenas se verificou em mulheres com Síndrome do Ovário Poliquístico.

No caso particular do sexo masculino, o cálcio desempenha um importante papel pelo seu efeito positivo na mobilidade dos espermatozóides e na sua penetração no oócito. Para além disto, também a suplementação com antioxidantes nos homens parece ser benéfica, não estando contudo esclarecidos os tipos de antioxidantes e as quantidades ótimas para potenciar este efeito.

Existem ainda evidências claras de que o consumo de ácidos gordos saturados e trans, presentes por exemplo na carne vermelha e nos produtos de pastelaria, prejudicam a fertilidade masculina. À semelhança daquilo que acontece no sexo feminino, os ácidos gordos ómega 3 parecem ter também aqui um efeito positivo.

Já o tabaco surge, uma vez mais, como vilão, desta vez por prejudicar a qualidade e quantidade do sémen.

De um ponto de vista mais global, a adesão a padrões alimentares saudáveis, como é o caso da Dieta Mediterrânica, tem sido associada a uma melhoria da fertilidade feminina e qualidade do sémen. Um aumento do consumo de peixe e frutos gordos, azeite, hortofrutícolas e cereais integrais em detrimento das carnes vermelhas e produtos processados, constitui uma mais-valia neste processo, para além do benefício que apresenta em muitos outros parâmetros da saúde do casal.

Também o estado nutricional, expresso pelo Índice de Massa Corporal (IMC), tem impacto a este nível, estando os extremos, quer o excesso de peso (materno e paterno), quer a magreza (materna) associados a menor probabilidade de conceção.

Como vimos, os hábitos alimentares (e tabágicos!) são determinantes também na pré-conceção. Lembre-se que ao cuidar de si está a cuidar também da sua descendência!




Maria Inês Cardoso