O desenvolvimento da audição:

O bebé ouve desde o sexto mês de gestação - é aqui que se inicia a interação com o mundo que o rodeia e todo o processo de comunicação e socialização que irá permitir adquirir conhecimento e expressar o seu pensamento.

A criança ouve quando o som entra pelo pavilhão auricular até à membrana do tímpano e provoca nesta uma vibração como a membrana do tambor a vibrar. Esta vibração desencadeia um movimento nos três ossículos do ouvido que ajudam o som a propagar-se pela cóclea, onde é transformado em impulsos elétricos. Estes são enviados para o nervo auditivo e daqui para o centro auditivo do cérebro, onde finalmente a informação sonora é processada e interpretada.




Surge na criança um comportamento auditivo que demonstra: Eu ouvi!

A exposição a estímulos sonoros promove o desenvolvimento de competências auditivas ao nível do sistema nervoso central. A criança desenvolve capacidades de detetar o som no silêncio, distinguir vozes familiares, perceber a entoação da voz da mãe, relacionar sons e associá-los a um significado.

Depois da experiência de ouvir os outros, a criança ouve os seus próprios vocalizos, brinca com o som que produz, imita e inicia as primeiras palavras. A audição é o caminho mais eficiente para o desenvolvimento da linguagem falada. 


Impacto dos problemas de audição no desenvolvimento da linguagem:

Um problema auditivo ocorre de uma alteração no processo de audição normal. O impacto da perda auditiva no desenvolvimento da linguagem da criança depende do tipo e grau, da idade em que surge, da duração e causa do problema.

Os tipos mais comuns de perda auditiva têm origem no ouvido médio - Surdez de transmissão - ou no ouvido interno - Surdez neurossensorial.

O Rastreio Auditivo Neonatal Universal, o conhecimento de sinais de alerta contribuem para minimizar os efeitos da patologia auditiva no desenvolvimento da criança e intervir o mais precocemente possível.


Existem sinais de alerta na criança que merecem a nossa atenção. Variam consoante a etapa de desenvolvimento, desde o nascimento até à idade escolar. São eles: 

  • Ausência ou interrupção do desenvolvimento do balbucio, porque não ouve as suas próprias produções;
  • Sem reação a sons (assustar-se, interromper a sucção, expressão facial);
  • Não vira a cabeça para a fonte sonora;
  • Não se acalma com voz familiar;
  • Sem reação à música;
  • Não responde ao próprio nome;
  • Solicita a repetição;
  • Usa a voz demasiado alta ou excessivamente baixa;
  • Tem necessidade de aumentar o volume da televisão;
  • Vira a cabeça para um dos lados para ouvir;
  • Procura pistas visuais (ler lábios) para compreender melhor;
  • Não aprende o significado de palavras comuns;
  • Não compreende ordens simples;
  • Após longos treinos na arte de palrar, a criança por volta do primeiro ano deve dizer a primeira palavra;
  • Não junta duas palavras até aos 2 anos;
  • O discurso não é percetível aos 3 anos;
  • Deixa de compreender em situações com ruído;
  • Não distingue palavras semelhantes (exemplo: faca/ vaca);
  • Apresenta alterações de comportamento e atenção.



Como ajudar no desenvolvimento da linguagem da criança com problemas auditivos:
  • A audição deve proporcionar momentos prazerosos na vida da criança. Brinque com som, converse sobre o que está a acontecer, conte histórias, cantem brinque ao faz-de-conta;
  • Aproveite as rotinas da criança para naturalmente explorar e desenvolver a linguagem. O banho, a hora de passeio, a praia, são contextos ricos em vocabulário e experiências para brincar;
  • Ensine o significado de uma palavra, frase. Repita a mesma em situações diferentes;
  • Use uma voz com melodia, clara, sem exagerar na articulação ou aumentar o som da voz;
  • Evite falar com a criança em locais com muito ruído;
  • Aguarde pela resposta da criança. Dê-lhe tempo!
  • Ensine a esperar pela sua vez: Agora sou eu! Agora és tu!
  • Verifique o nível da linguagem, se está adaptado à idade da criança;
  • Forneça o modelo correto da palavra ou frase. Não insista demasiado para que a criança repita.
  • Forneça retorno na comunicação, demonstre que compreendeu, repita a resposta da criança por outras palavras, responda com um sorriso ou um sinal afirmativo para encorajar a continuar e dar autoconfiança. 
  • A audição deve fazer parte de todos os momentos do dia da criança. Se a criança necessita de aparelhos auditivos ou implante coclear para ouvir, deve utilizá-los durante todo o dia. 



Os Pais e cuidadores são elementos fundamentais para o desenvolvimento da criança, na deteção de sinais de alerta e na interação necessária para todo o processo comunicativo. 

As alterações de audição podem manifestar-se de diversas formas, as mais comuns são falta de resposta ao som que leva a um atraso de desenvolvimento da linguagem. Numa fase mais avançada existem queixas relacionadas com competências auditivas que se manifestam na presença de exames auditivos normais, como por exemplo dificuldades em localizar o som, compreender em situações com ruído, distinguir sons semelhantes, dificuldade em memorizar e estar atento. Nestas situações podemos estar perante uma alteração no processamento auditivo central que necessita de avaliação e intervenção específicas.  

O diagnóstico de um problema auditivo e uma intervenção precoce são fundamentais pela existência de um período ideal para o desenvolvimento das funções neurológicas e linguísticas.

O normal desenvolvimento da linguagem tem um enorme impacto no desenvolvimento da criança. Esteja atento! Se detetar sinais de alerta procure uma equipa de otorrinolaringologia onde poderá realizar uma avaliação audiológica e avaliação da linguagem, na qual o Terapeuta da Fala irá verificar se a criança apresenta um nível de desenvolvimento adequado à sua faixa etária. 



Leonor Fontes